Muitos perguntam se as jornadas de junho retornarão na primavera. Parodiando a presidente, responderia que não podem voltar porque nunca foram embora. A diferença é que, agora, apresentam em separado as cores que se juntaram no ramalhete daquele outono.
Em julho, uma pluralidade de tendências se fez presente na avenida, algumas delas tensamente contrapostas entre si. Ou alguém acha que os peregrinos do sumo pontífice no Rio de Janeiro viram com simpatia a Marcha das Vadias, com mulheres dançando sobre a imagem de uma santa, passar na mesma faixa de trânsito em que pouco depois apareceria o papamóvel?
A fragmentação do inverno era inevitável, porque não se tratava de um movimento, mas de vários, como ficou claro no auge do outono quente, a famosa quinta-feira em que o Itamaraty foi atacado. Naquela noite, de suposta alegria pela redução das passagens, o próprio Movimento Passe Livre foi expulso da av. Paulista.
Em artigo recente, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos escreveu que "a conjuntura é fascistoide". Aponta que "os de boa-fé, os lúdicos, os solidários com as iniciais demandas sobre transporte, até mesmo sobre saúde e educação", saíram das demonstrações. Teriam ficado apenas "grupos anônimos de jovens de algumas posses, grupos neonazistas e pré-fascistas, organizações niilistas nacionais e internacionais, além das gangues ordinárias de ladrões e assaltantes" ("Valor", 26/7).
O professor tem razão quanto ao fato de que pequenos agrupamentos ultramobilizados são capazes de ocupar a cena com ações de impacto, mesmo tendo representatividade próxima a zero.
O fenômeno está, no entanto, longe de esgotar a pauta hoje nas ruas, como se pôde ver nas manifestações de médicos, funcionários da Infraero, delegados da Polícia Civil e demitidos da TAM, para ficar só em algumas das corporações mobilizadas nesta semana em São Paulo. Sem mencionar que as centrais sindicais marcaram outra data nacional de pressão unificada para 30/8.
Na verdade, as demonstrações de junho assinalaram um ponto de inflexão a partir do qual os diversos segmentos organizados da sociedade tendem a se mexer em função dos seus interesses. Não foi um gigante que acordou, mas as suas diferentes classes, frações de classe e grupos que resolveram sair da passividade.
Com isso, abriram uma conjuntura nova, em que a luta social ganha maior intensidade e radicalidade. Será um teste de fogo para o lulismo, cujo modelo implica arbitrar forças, evitando o confronto entre elas. Ocorre que, desatado o processo de mobilização, as negociações se tornam mais difíceis. Ou, em alguns casos, impossíveis.
Em julho, uma pluralidade de tendências se fez presente na avenida, algumas delas tensamente contrapostas entre si. Ou alguém acha que os peregrinos do sumo pontífice no Rio de Janeiro viram com simpatia a Marcha das Vadias, com mulheres dançando sobre a imagem de uma santa, passar na mesma faixa de trânsito em que pouco depois apareceria o papamóvel?
A fragmentação do inverno era inevitável, porque não se tratava de um movimento, mas de vários, como ficou claro no auge do outono quente, a famosa quinta-feira em que o Itamaraty foi atacado. Naquela noite, de suposta alegria pela redução das passagens, o próprio Movimento Passe Livre foi expulso da av. Paulista.
Em artigo recente, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos escreveu que "a conjuntura é fascistoide". Aponta que "os de boa-fé, os lúdicos, os solidários com as iniciais demandas sobre transporte, até mesmo sobre saúde e educação", saíram das demonstrações. Teriam ficado apenas "grupos anônimos de jovens de algumas posses, grupos neonazistas e pré-fascistas, organizações niilistas nacionais e internacionais, além das gangues ordinárias de ladrões e assaltantes" ("Valor", 26/7).
O professor tem razão quanto ao fato de que pequenos agrupamentos ultramobilizados são capazes de ocupar a cena com ações de impacto, mesmo tendo representatividade próxima a zero.
O fenômeno está, no entanto, longe de esgotar a pauta hoje nas ruas, como se pôde ver nas manifestações de médicos, funcionários da Infraero, delegados da Polícia Civil e demitidos da TAM, para ficar só em algumas das corporações mobilizadas nesta semana em São Paulo. Sem mencionar que as centrais sindicais marcaram outra data nacional de pressão unificada para 30/8.
Na verdade, as demonstrações de junho assinalaram um ponto de inflexão a partir do qual os diversos segmentos organizados da sociedade tendem a se mexer em função dos seus interesses. Não foi um gigante que acordou, mas as suas diferentes classes, frações de classe e grupos que resolveram sair da passividade.
Com isso, abriram uma conjuntura nova, em que a luta social ganha maior intensidade e radicalidade. Será um teste de fogo para o lulismo, cujo modelo implica arbitrar forças, evitando o confronto entre elas. Ocorre que, desatado o processo de mobilização, as negociações se tornam mais difíceis. Ou, em alguns casos, impossíveis.
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