A morte de
Robin Willians
alerta para o
fato de que
depressão é
coisa séria
Antônio Geraldo da Silva
Psiquiatra, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
Estado de Minas: 16/08/2014
A recente e trágica
notícia sobre a morte do comediante americano Robin Williams, confirmada
como suicídio por asfixia esta semana, traz à tona uma preocupação
alarmante e que reflete muito da imagem que alguns transtornos mentais
ainda recebem por parte da sociedade. Para alguns, um destempero; para
outros, uma fraqueza. Mas a depressão é um transtorno mental dos mais
graves e incapacitantes. Dentre as 10 principais causas de afastamento
do trabalho em todo o mundo, cinco são decorrências de transtornos
mentais. A depressão aparece em primeiro lugar. Combinada com o uso e o
abuso de álcool e de outras drogas – como era o caso do ator – torna-se
uma mistura bombástica. A prevalência de tentativas de suicídio na
população geral é em torno de 4%. Entre alcoólatras, a prevalência de
morte por suicídio pode chegar a 21%.
Para 46 milhões de
brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde, a depressão é uma
realidade: 20% a 25% da população já teve ou tem depressão ao longo da
vida. A incapacitação profissional, a falta de interesse e de motivação
para participar de atividades sociais rotineiras e de ter prazer nas
coisas de que gosta e com as pessoas que ama, transformam dramaticamente
o cotidiano dessas pessoas, o de seus familiares e amigos, trazendo
consequências devastadoras. Essa falta de capacidade de se relacionar
tem efeitos profundos e duradouros, que dificultam a reinserção social
dos que tentam se recuperar de um episódio de depressão. Paradoxalmente,
ao mesmo tempo em que a depressão e os demais transtornos mentais
atingem muitos brasileiros, o preconceito em torno deles é crescente na
sociedade. Por que será que tantas pessoas ignoram a palavra e ainda têm
tanto preconceito contra os transtornos psiquiátricos, em sua maioria
livres de qualquer embasamento científico ou lógico? Foi com esses
questionamentos em mente e com o intuito de unir a classe psiquiátrica e
a sociedade sobre tão presente realidade enfrentada nos consultórios
médicos de todo o Brasil, que a Associação Brasileira de Psiquiatria
(ABP) criou a campanha Psicofobia é crime. Já é hora de combater essa
discriminação, como atualmente já se faz com os homossexuais, negros e
mulheres. A expressão psicofobia expressa justamente o nefasto
preconceito contra os doentes mentais e portadores de deficiência.
Se
não se deve debochar ou subestimar de doenças como o câncer ou a
diabetes, também não há razão para as doenças mentais não serem
encaradas com a seriedade que pedem e seus portadores exigem. Há várias
formas de preconceito, entre elas a própria negação da doença,
considerando-a algo menor ou passageiro. Como disse Albert Einstein,
lamentando a triste época em que vivia, “é mais fácil desintegrar um
átomo do que um preconceito”. Em pleno 2014, ideias preconceituosas
devem ser combatidas com ainda mais veemência. É chegada a hora de a
sociedade olhar com maturidade e respeito para os portadores de
transtornos mentais. A morte do comediante traz um alerta importante:
depressão é coisa séria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário