Em setembro, Vanusa
lança disco produzido por Zeca Baleiro com canções de Zé Ramalho,
Vander Lee e Guilherme Arantes. Aos 67 anos, a cantora está feliz em
voltar aos estúdios
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 16/08/2014Vanusa e Zeca Baleiro já testaram as faixas do novo álbum em pocket show realizado em SP |
Durante quase meio século de carreira, ela era simplesmente Vanusa. E foi assim que batizou praticamente todos os seus 24 discos. “Nunca gostei de botar título, porque quase sempre é o nome de uma das músicas. Se a canção não estoura, como é que faz? Era o LP da Vanusa. Sempre foi dessa forma”, diz a cantora e compositora nascida em Cruzeiro, no interior paulista.
Setembro vai coroar a nova fase da vida da artista. Além de celebrar – literalmente – mais uma primavera, pois completa 67 anos, ela lança CD quase só de inéditas, produzido por Zeca Baleiro. Aliás, foi o cantor e compositor maranhense quem sugeriu o nome do álbum: Vanusa Santos Flores.
“A ideia do Zeca é que o projeto tenha a minha cara, a minha identidade. Nasci Vanusa Santos Flores e sempre serei Vanusa Santos Flores. A Vanusa que as pessoas vão ouvir é como este disco. Foi um trabalho feito com calma, classe e muito carinho”, resume.
A cantora passou quase 20 anos sem entrar em estúdio. Enfrentou tempos difíceis: chegou a ficar internada numa clínica de reabilitação e se viu obrigada a superar o constrangedor episódio ocorrido na Assembleia Legislativa de São Paulo, em março de 2009. Depois de errar a letra e desafinar ao cantar o Hino Nacional, virou piada na internet. Em meio a tudo isso, foi procurada por Zeca Baleiro.
“Fiz um show com ele há uns três anos, em São Paulo, e gostei demais. Quando fiquei internada, Zeca me ligava e sempre dizia: quando tivesse vontade de gravar de novo, era só procurá-lo. Ele é uma dádiva na minha vida”, agradece Vanusa. A admiração é recíproca. O cantor e compositor maranhense havia produzido o disco de Odair José, outro ícone meio esquecido da música popular. “Não o tornei rock; ele já era. O que fiz, como produtor, foi deixá-lo soltar o Johnny Cash que havia dentro dele”, conta Zeca, que também tem boas expectativas em relação ao álbum da amiga.
Vanusa e Zeca se conheceram durante o projeto Salve o compositor popular, no Sesc Pompeia, em São Paulo. “Fui convidado a fazer a direção musical dos shows. Além dela, lá estavam Benito di Paula, Marcio Greyck, Agnaldo Timóteo, Luiz Ayrão, Odair e outros bambas. Ficamos amigos e conversamos sobre a possibilidade de gravarmos um disco. Ele está ficando pop e lindo. Vanusa canta autores que nunca havia interpretado, como Angela Rô Rô e Guilherme Arantes. Sou um grande fã, e, como tal, suspeito”, elogia Zeca.
Uma prévia do álbum foi apresentada em pocket show para convidados, no mês passado. Foi gravado um EP com quatro faixas em formato digital e físico, além do videoclipe de O silêncio dos inocentes, feita por Zé Ramalho especialmente para Vanusa. A cantora não poderia estar mais feliz. Diz que todo o processo de gravação respeitou seus limites, seu tempo e seu ritmo.
“Quando saí da clínica, não tinha nenhuma expectativa sobre o que aconteceria. Zeca é muito calmo e tranquilo, faz as coisas com muita sabedoria, sem pressa. Ele sempre disse para não me sentir pressionada ou ansiosa, o que é natural depois de tanto tempo sem gravar. Nós nos identificamos muito. Nossa parceria deu certo por isso”, acredita ela.
Com capa produzida por Elifas Andreato, o trabalho é lançamento da Saravá Discos. Vai contar com composições de Angela Rô Rô, Guilherme Arantes, Vander Lee, Zé Geraldo e Zé Ramalho, além de parcerias de Vanusa com Antônio Luiz/Luiz Vagner (Tapete da sala) e com o próprio Zeca (Tudo aurora).
UAI A artista começou sua carreira como crooner em Frutal, no Triângulo Mineiro, onde morava com a família. Ela confessa: ainda preserva alguns traços de mineirice – de vez em quando, solta o uai. Vanusa é filha de Luisinho Flores, que foi goleiro do Uberaba. “Ele acabou encerrando a carreira no Triângulo, onde comecei a minha”, recorda. Na década de 1960, ela foi um dos destaques da Jovem Guarda, participando de programas das TVs Excelsior e Record. Nos anos 1970, fez sucesso ao gravar Paralelas, de Belchior.
Contando os dias para lançar Vanusa Santos Flores, a mãe de Rafael Vanucci, Aretha e Amanda espera que os fãs se identifiquem com o novo repertório. “O Zeca sempre me falou: você tem uma carreira consolidada, de sucesso, e está há muitos anos sem gravar. Vai continuar sempre aí e não tem que provar mais nada a ninguém. Quero que faça algo que te agrade e te dê prazer”, conta Vanusa. “Se foi agradável e bom pra mim, tenho certeza de que será para o público também”, conclui.
Três perguntas para
VANUSA - Cantora e compositora
O novo trabalho traz duas músicas suas. Como é a Vanusa compositora?
O Antônio Marcos (seu primeiro marido) sempre foi o compositor, mas escrevo muito bem. Certo dia, resolvi arrumar uma parceria. Minha primeira música foi Manhãs de setembro, ao lado do Mario Campanha Sierra. O LP estourou com essa faixa e tomei gosto pela coisa. Sou uma compositora atemporal. Sento-me de vez em quando ao piano ou pego o violão, mas não toco bem nenhum dos dois (risos). Sempre escrevi bem, tenho muitos textos guardados e estou até pensando em compilá-los. Mas nunca foi assim: ah, agora vou sentar e fazer uma canção. As músicas que componho acontecem.
Você ainda tem contato com o pessoal da Jovem Guarda?
Tenho mais relação com o Ronnie Von. De vez em quando, vou ao programa dele na TV. Assim que lançar o disco, o primeiro lugar em que quero mostrá-lo é lá. Ficamos muito amigos na época em que fizemos uma novela juntos, Cinderela 77 (exibida na extinta TV Tupi, em 1977). Eu era a Cinderela e ele o príncipe.
Há alguns anos, foi lançada a sua biografia. Você tem vontade de escrever outra retratando a nova fase de sua vida?
Tenho vontade, mas no momento estou priorizando o disco. Gosto de fazer outras coisas, como escrever e pintar. Já expus meus quadros na França, mas não pinto há seis anos. Quando começo a mexer com tintas, não quero saber de mais nada, não canto, não atendo o telefone. Você se transporta para a tela e aí o resto é o resto…
O MAGO E EU
Na discografia de Vanusa, há uma passagem curiosa. O 10º álbum da cantora foi produzido por Paulo Coelho, ainda longe de se tornar o escritor mundialmente famoso. O “mago” (foto) é o autor da versão em português de I will survive, regravada por Vanusa e hit na voz da norte-americana Gloria Gaynor. “Foi um disco maravilhoso, uma grande parceria. Foi o Paulo quem teve a ideia de fazer aquela versão”, relembra.
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