Escritores, editores e críticos se dividem entre a ideia de que houve fraude e de que a votação foi apenas legítima
Folha revelou ontem a identidade e o padrão da votação do jurado "C", o crítico e editor paulista Rodrigo Gurgel
DE SÃO PAULO
Fraude ou uma escolha honesta, dentro das regras, para definir o vencedor?
A revelação pela Folha, ontem, da identidade do jurado "C" do Prêmio Jabuti -o crítico e editor Rodrigo Gurgel- e das mudanças em sua avaliação dos mesmos romances nas duas fases da disputa esquentaram o debate sobre a premiação.
Para impor seus votos, Gurgel deu, na segunda fase do prêmio, notas zero a livros que ele mesmo tinha avaliado bem na fase inicial, caso de "Mano, a Noite Está Velha", de Wilson Bueno.
No dia 18, na apuração dos votos que deram vitória na categoria romance a "Nihonjin", do iniciante Oscar Nakasato, descobriu-se que favoritos receberam do jurado "C" notas muito baixas, como 0 e 1,5, numa escala de 0 a 10.
"Ele acredita que seu papel é definir quem vence. E fez isso dentro das regras", defendeu no Facebook o escritor Rogério Godinho.
No blog Todoprosa, no site da "Veja", o escritor Sérgio Rodrigues disse considerar um "despropósito" admirar a atitude do jurado "C", "como tenho visto acontecer".
"O mesmo resultado poderia ter sido atingido com a atribuição de notas em torno de 5 ou 6, que seriam defensáveis criticamente. As notas entre 0 e 1,5 parecem ter obedecido não só ao desejo de conceder o prêmio a iniciantes mas também ao de ver o circo pegar fogo", avaliou.
Pascoal Soto, diretor editorial da LeYa, disse que o caso abala o Prêmio Jabuti.
"Os critérios são bem duvidosos. Achei tão grotesco que me deu tristeza perceber que o prêmio de maior prestígio do nosso mercado literário tenha um jurado desse nível."
Para o crítico e tradutor Eduardo Sterzi, a palavra para definir o caso é fraude. "O cara assumiu um compromisso e não cumpriu; pior, avacalhou com o compromisso assumido", argumentou.
Rogério Pereira, editor do suplemento "Rascunho", com o qual Gurgel colabora, argumenta que o crítico "faz um trabalho sério e criterioso" e que, "no prêmio, deve ter se guiado pelo mesmo padrão".
Os jurados do Jabuti não podem se manifestar até 28/11, quando sai o resultado final.
Nenhum comentário:
Postar um comentário