PAULA CESARINO COSTA
RIO DE JANEIRO - Foi o samba que colocou o morro no caminho da elite carioca. Foi sua localização próxima de onde estava o trabalho e o capital que causou sua ocupação desordenada e incontrolável.
Foi o abandono pelo Estado e o consequente domínio do tráfico que tornou as favelas um dos piores lugares do país. Foi sua ocupação pelas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) que as transformou em projeto econômico e político potencial.
Durante o século passado, sucederam-se as tentativas de remoção das favelas. Mas elas não pararam de crescer. E estão na moda. Entrarão mais na rotina dos brasileiros pelas lentes da TV, com imagens aéreas do teleférico do Complexo do Alemão.
Por muito tempo as favelas foram invisíveis. Pela ação de muita gente espalhada pela cidade, barreiras começam a ser quebradas. O retrato é traçado com precisão pelo geógrafo Jailson de Souza e Silva, um dos fundadores do Observatório de Favelas:
"Não existe identidade carioca independente das favelas e vice-versa. A cidade tornou-se referência nacional e internacional também em função do peso arquitetônico, cultural e social dos espaços favelados. A garantia de riqueza paisagística e pluralidade cultural é central para o Rio e seu projeto de futuro."
Há muito a fazer e a temer. Um dos riscos é a "remoção branca", quando dinâmicas de mercado e de formalização tornariam preços e custo de vida tão altos nas favelas da zona sul que moradores não os suportariam e seriam deslocados para longe. Ainda não aconteceu. O que se vê são jovens, muitos estrangeiros, que buscam, no alto dos morros, vista deslumbrante com preço acessível e uma vida em comunidade à antiga.
Esse movimento pode vir a ser uma espécie de laboratório de "mistura social", onde pessoas com cultura e história diferentes, mas interessadas no outro, podem iniciar uma revolução silenciosa.
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