sábado, 10 de novembro de 2012

Drogas da inteligência - ALOK JHA


Relatório gera preocupações éticas sobre tecnologias que melhoram o ser humano

ALOK JHA
DO "GUARDIAN

Drogas e tecnologias digitais que permitirão às pessoas trabalhar com mais empenho, por mais tempo e com mais inteligência devem surgir em breve, segundo cientistas e especialistas em ética, e por isso precisamos decidir agora qual será a melhor maneira de garantir seu uso adequado.
Esses comentários foram publicados na última quarta (7) em um relatório sobre o aprimoramento humano no local de trabalho, escrito por especialistas da Real Sociedade britânica, da Real Academia de Engenharia, da Academia Britânica e da Academia de Ciências Médicas.
O texto, intitulado "Aprimoramento Humano e o Futuro do Trabalho", leva em conta tudo o que poderia ser dito para melhorar a capacidade de trabalho das pessoas, incluindo as chamadas "drogas da inteligência", capazes de estimular a memória e a atenção, e também recursos físicos e digitais, como implantes biônicos ou tecnologias informatizadas cada vez mais eficientes para armazenar e acessar informações.
Genevra Richardson, professora de direito no King's College, em Londres, e presidente do comitê gestor que produziu o relatório, disse ter definido "aprimoramento humano" como sendo as tecnologias que melhoram uma pessoa além da norma. "Elas podem influenciar nossa capacidade de aprender ou realizar tarefas, influenciar nossa motivação, poderiam nos permitir trabalhar em condições mais extremas, ou até a velhice", afirmou ela.
"Embora as tecnologias de aprimoramento humano possam beneficiar sociedades de formas importantes, seu uso no trabalho também gera sérias questões éticas, políticas e econômicas, que exigem ampla consideração. Essas questões incluem como o público vê essas tecnologias, e quais são as consequências do seu uso prolongado para os indivíduos. Há a questão da coerção. E quem paga? Se o indivíduo particular pagar, então os ricos vão ficar cada vez mais inteligentes."
As drogas de melhoria cognitiva, por exemplo, podem tornar as pessoas mais produtivas no trabalho, permitindo que realizem as tarefas com mais eficiência e satisfação, segundo Barbara Sahakian, neurocientista da Universidade de Cambridge. "Mas se conseguirmos melhorar a produção econômica do Reino Unido, será que essa competitividade deve nos guiar a ponto de queremos fazer isso como nação?"
Eric Gay-28.ago.2010/AP
A jogadora de basquete americana Diana Taurasi, pega no antidoping pelo uso do estimulante Modafinil
A jogadora de basquete americana Diana Taurasi, pega no antidoping pelo uso do estimulante Modafinil
O Modafinil, desenvolvido originalmente como tratamento contra a narcolepsia, provou melhorar a atenção e tornar as tarefas mais agradáveis, em comparação a um placebo. Ele demonstrou também reduzir o índice de acidentes entre trabalhadores em plantões. Outras drogas usadas sem receitas incluem Adderall e a Ritalina, por alunos universitários que querem mais concentração, e a cetamina, consumida por médicos como antidepressivo de ação rápida.
Drogas concebidas para mitigar o mal de Alzheimer e doenças cerebrais como a esquizofrenia também pode ser usadas no futuro por pessoas saudáveis para reforçar sua capacidade cognitiva, segundo Sahakian.

OPÇÃO PESSOAL

Usar estimuladores cognitivos como uma opção pessoal é apenas uma parte da história. E se um motorista de ônibus for obrigado por seu patrão a usar drogas de melhoria cognitiva a fim de permanecer acordado e trabalhar por mais tempo, perguntou Sahakian. "Isso é aceitável? Se você vai ser empregado numa situação dessas, isso é uma coisa boa para as pessoas?"
Nigel Shadbolt, professor de inteligência artificial da Universidade de Southampton, disse que as tecnologias físicas e digitais destinadas a melhorar a capacidade humana já estão tão onipresentes que nem tomamos ciência de que existem. "Se você não acredita que o aprimoramento tecnológico já está aí, tente desligar a barafunda de aplicativos que vão da web aos seus celulares."
O crescente poder e velocidade da informática, acrescentou ele, significarão que as pessoas poderão armazenar toda uma vida das suas experiências em vigília num dispositivo portátil.
Exoesqueletos e membros biônicos ajudariam não só deficientes a recuperarem funções úteis, como também poderiam ser usados por outros para andar ou correr mais rapidamente, ou para fazer mais trabalhos físicos, disse Shadbolt.
Jackie Leach Scully, especialista em ética da Universidade de Newcastle, disse que, apesar das muitas vantagens de um futuro de aperfeiçoamento humano, é preciso haver um debate público para garantir que as pessoas não sejam obrigadas a trabalhar em condições inadequadas só porque drogas ou outros aprimoramentos assim permitem. "Temos nos empenhado muito neste país e em outros lugares para estabelecer exigências legais quanto a condições de trabalho toleráveis, e a última coisa que gostaríamos de ver acontecer é que isso nos escape", afirmou.
Sahakian disse que também é importante iniciar estudos prolongados a respeito do efeito das drogas de aprimoramento cognitivo sobre pessoas saudáveis. Atualmente, milhares e milhares de pessoas compram essas drogas pela internet, mas, caso testes tenham aferido sua segurança, os consumidores deveriam poder saber mais sobre seus efeitos, e comprá-las em locais credenciados, como farmácias.
Richardson disse que o objetivo do relatório era despertar o interesse para essa questão por parte de empregadores, sindicatos, agências reguladoras e governo. "O potencial de aprimoramento humano em geral tem atraído um grande interesse público e acadêmico, mas pouquíssima atenção tem sido dada às implicações das tecnologias de aperfeiçoamento humano no contexto do trabalho", disse ela. "O que esperamos é que este relatório inicie e forme um debate muito necessário."
Tradução de RODRIGO LEITE.

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