Paulo Silva Pinto,
Priscila Oliveira e Paula Takahashi
Priscila Oliveira e Paula Takahashi
Estado de Minas: 30/11/2012
Brasília – Os brasileiros estão pagando mais caro por passagens aéreas. Levantamento realizado ontem pela reportagem demonstra que no exterior é possível viajar na alta temporada distâncias maiores do que no Brasil por preços inferiores. O voo entre Nova York e Los Angeles pela Delta, ida 26 de dezembro e volta 2 de janeiro, sai por R$ 1.618. A distância entre as duas cidades é de 4.338 km. Para ir de Belo Horizonte a Fortaleza, saindo em 27 de dezembro (pois não tem mais passagem para o dia 26) e voltando na mesma data, pagavam-se ontem R$ 5.057. A distância entre as duas cidades é de 1.893 km. Há outros exemplos de passagens mais baratas perto das festas de fim de ano no exterior, o que contraria a versão das autoridades do governo e de executivos do setor aéreo, segundo os quais esse patamar de preços é “normal” nesta época do ano (veja quadro).
Em Belo horizonte, a dona da agência de viagens Itur Turismo, Regina Casale, já sentiu na pele os efeitos das passagens mais caras. “Comprei a ida para São Paulo por R$ 300. A volta estava mais cara e resolvi acompanhar os preços na esperança de uma redução”, conta. Mas não adiantou. No retorno previsto, teria que desembolsar R$ 600 se quisesse voltar para Belo Horizonte. “Como meu filho mora em São Paulo e era véspera do feriado de 15 de novembro, ele propôs vir para BH comigo e a minha nora para resolver o meu problema. Pegamos o carro e levamos nove horas para chegar”, lembra. Não fossem os preços tão elevados, a viagem levaria cômodos 70 minutos.
Regina ainda conta que vai passar alguns dias em Gramado, no Rio Grande do Sul, no início de dezembro e volta a mostrar como os preços estão desanimadores. “Estou pagando R$ 1,1 mil, ida e volta. Os valores estão altos e os clientes também estão assustados. Olham na internet e, na expectativa de preços mais baixos, vêm à agência. Mas está tudo caro”, alerta.
O ministro da Aviação Civil, Wagner Bittencourt, afirmou na quarta-feira que "os preços são livres" e que eles "variam dependendo da antecedência e da época do ano em que se compra o bilhete". Ontem a Secretaria da Aviação Civil (SAC), pasta de Bittencourt, divulgou levantamento segundo o qual apenas 1% das passagens vendidas em 2011 tinham valores maiores do que R$ 1 mil, em comparação a 6,3% das passagens acima desse patamar em 2012. A secretaria informou também que no primeiro semestre de 2012 a tendência de queda nas passagens foi mantida. Mas não apresentou dados recentes de preços. Segundo o Sindicato dos Aeronautas, houve alta de aproximadamente 300% nas passagens após o fechamento da Webjet pela Gol, há uma semana.
DE VOLTA À RODOVIÁRIA O administrador Thiago Faria diz que a partir de agora será preciso ter jogo de cintura para viajar de avião. “Para ter ideia, fiz uma reserva ontem (quarta-feira) para passagens de ida e volta de São Paulo-Belo Horizonte por R$ 390. Hoje (ontem), quando fui confirmar, o valor já tinha pulado para R$ 900”, conta. A alternativa foi buscar voos fora do horário de pico. “Vou pegar o avião às 6h em Guarulhos e antes seria em Congonhas. Vou ter que madrugar”, lamenta. Como a viagem é a trabalho, a dificuldade de mudar os planos é maior, mas Thiago, que tem família em BH e pretende passar o Natal por aqui, não pensou duas vezes ao escolher qual tipo de passagem comprar para a véspera da festividade. “A passagem de avião está R$ 900. Vou de ônibus”, garante, ao lembrar que tem mais de um ano que não usa o transporte rodoviário.
Abuso por falta de concorrência
Publicação: 30/11/2012 04:00
Brasília – Os preços abusivos que vêm sendo cobrados pelas companhias aéreas para passagens em datas próximas às festas de fim de ano jogaram combustível na discussão sobre a falta de concorrência do setor no país. Para o ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Ruy Coutinho, o mercado de transporte aéreo no Brasil é "praticamente oligopolizado". Para Coutinho, que além de presidir o Cade foi secretário de Direito Econômico no governo Fernando Henrique Cardoso, os consumidores não devem aceitar os preços excessivos cobrados pelas aéreas. "É uma questão de acionamento dos órgãos de defesa do consumidor", alertou ele, explicando que há chances de as companhias serem punidas.
A competição no Brasil, explica Coutinho, é limitada pela grande participação de mercado da TAM e da Gol, que ficaram respectivamente com 40,16% e 33,89% do faturamento do setor entre janeiro e setembro. Outras seis empresas somadas ficaram com 25,96%. "O que existe no Brasil é praticamente um duopólio, pois a Azul e a Avianca ainda estão em processo de afirmação", alertou. Ele acha que a tendência é as duas empresas menores avançarem e estabelecerem um ambiente concorrencial mais robusto, mas ressalvou que isso ainda está longe de ocorrer.
Na avaliação do ex-presidente do Cade, o governo poderia incentivar a concorrência por meio de decisões regulatórias, por exemplo aumentando de 20% para 49% o limite para a participação de estrangeiros nas companhias aéreas brasileiras – um projeto com esse objetivo é discutido na Câmara desde 2010, mas não tem avançado. (PSP/PO)
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