As más notícias
SÃO PAULO - Em sua coluna do último domingo, a ombudsman Suzana Singer sugere que o jornal deveria destacar mais as boas notícias. Em princípio, concordo, mas me pergunto até que ponto é possível fazê-lo sem ir contra a natureza humana.
O problema é que fomos desenhados para ser otimistas locais e pessimistas globais, na feliz expressão de Peter Diamandis. Em relação a nós mesmos, objeto sobre o qual exercemos certo controle, é útil nutrir autoconfiança. Se eu imaginar que consigo pular o fosso tenho mais chance de ter sucesso do que se achar logo de saída que fracassarei. Somos descendentes diretos das pessoas que acreditavam em si próprias. Não é coincidência que 98% dos americanos julguem dirigir melhor do que a média dos compatriotas.
As coisas são mais sombrias em relação àquilo que não controlamos, isto é, a quase tudo no mundo. Aqui, a estratégia mais eficaz é esperar sempre o pior cenário. Se eu estiver errado, fiz o papel de bobo, mas, se estiver certo, aumentei minhas chances de sobrevivência. Ao longo do passado darwiniano, aqueles que não saíam em disparada ao ouvir um estalido no meio do mato não deixaram descendentes.
Hoje em dia, já não dependemos tanto de reações rápidas para continuar vivos, mas os mecanismos cerebrais que nos fazem monitorar possíveis ameaças e imaginar o pior seguem firmes e atuantes. Destacam-se aqui as amígdalas, estruturas localizadas nos lobos temporais associadas à memória e ao aprendizado emocionais, notadamente o medo.
Sem muitos perigos silvestres para vigiar, as amígdalas se voltam para o que estiver a seu alcance. E, num contexto em que centenas, talvez milhares de notícias disputam diuturnamente nossa atenção, são justamente aquelas que despertam nossos instintos de defesa -isto é, as negativas- que acabam vencendo.
Basicamente, estamos programados para procurar as más notícias.
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