domingo, 16 de dezembro de 2012

É confraternização daqui, excessos acolá... - Carolina Cotta‏

Fim de ano é festa com amigos, cervejinha do trabalho, encontro familiar. Isso sem contar as ceias de Natal e réveillon. Exagero nos comes e bebes pode comprometer a saúde 

Carolina Cotta
Estado de Minas: 16/12/2012 
 
Ainda faltam alguns dias para a famosa, e geralmente farta, ceia de Natal. Mas é só dezembro começar para quem não se viu durante todo o ano arrumar mil motivos para se encontrar. Faltam datas para conciliar os encontros com amigos de infância, a cervejinha com os colegas de faculdade, o amigo oculto dos mais queridos e, claro, as confraternizações do trabalho. A sequência de programas vem com comida e bebida de mais, e sono de menos. O organismo não está preparado para tantos excessos e logo dá sinais de cansaço. Se o melhor do fim de ano é exatamente esse clima de festa e você não quer abrir mão da diversão, é bom tomar alguns cuidados para chegar inteiro ao ano que vem.

 Dormir, por exemplo, é essencial para o equilíbrio funcional do organismo e vários são os impactos da privação de sono. Segundo a neurologista Maria do Carmo de Vasconcellos Santos, diretora da Sociedade Mineira de Neurologia, entre os efeitos da falta de uma noite bem dormida estão a irritabilidade, a ansiedade, a dificuldade de atenção e concentração, o desequilíbrio de funções metabólicas e hormonais, a fadiga. Enfim, é função básica do sono reparar as energias gastas. E dormir pouco por dias consecutivos é pior ainda. Nesse caso, bem comum nesta época do ano, ocorre o chamado débito de sono. Os impactos citados acima são agravados: as consequências são piores quanto maior for o tempo de privação de sono.

E as poucas horas dormidas vêm acompanhadas de outros vilões: bebida e comida além da conta. A ingestão de álcool tende a diminuir a latência do sono e leva a um despertar precoce, portanto, um sono não reparador. Pessoas com distúrbios como apneia e insônia, entre outros, precisam de ainda mais atenção. Segundo Maria do Carmo, a ingestão de álcool aumenta a probabilidade de ronco e a resistência respiratória. “Ocorrerá piora da qualidade do sono em decorrência de sua fragmentação por microdespertares durante toda a noite.”

Mas é possível minimizar alguns efeitos sem abrir mão das confraternizações. Segundo a especialista, é preciso agir com moderação. A hidratação com água é essencial e as bebidas alcoólicas podem ser consumidas, mas de forma equilibrada. Não deixe de lado o copo com água mesmo enquanto está consumindo um vinho, um drinque, um uísque ou uma cerveja. E se a festa seguir noite adentro, é essencial reparar a noite de sono perdida. Segundo Maria do Carmo, não é nada simples, mas mesmo assim, possível. Outra dica da especialista para minimizar os impactos das confraternizações de fim de ano é evitar refeições exageradas ou alimentos que contenham estimulantes do sistema nervoso, como cafeínas. Moderar é essencial.

ALIMENTAÇÃO A oferta de comida nas festas neste período chega a assustar. Uma mudança brusca na alimentação, quando isolada, não é capaz de atrapalhar o organismo, mas pode trazer mal-estar. Segundo Alice Carvalhais, nutricionista do Instituto Mineiro de Endocrinologia, é muito comum as pessoas passarem mal depois de consumirem algo com o qual não estão acostumadas. Alguém que fez dieta o ano inteiro e resolveu comer muitos alimentos ricos em gorduras na noite de Natal pode, por exemplo, ter uma diarreia ou dor de cabeça no dia seguinte. “O corpo desenvolve resistência àquilo que é comum para ele e estranha o que não é tão comum. Muitas vezes não está preparado para metabolizar aquele alimento”.

Essa mesma mudança brusca, segundo a especialista, também não é suficiente para deixar o metabolismo de repouso mais lento ou acelerado. Porém, enquanto o “alimento estranho” está sendo metabolizado, certamente o corpo funciona de uma forma especial para dar conta do recado. Mas é preciso cuidado com o efeito cumulativo. Diferentemente do que ocorre em uma alimentação brusca isolada, os excessos por dias consecutivos podem causar alterações nos níveis de glicose e triglicérides, aumentar o peso e ativar o mecanismo de compensação do cérebro, solicitando cada vez uma quantidade maior daquele alimento.

Três perguntas para...
OSWALDO FORTINI LEVINDO COELHO
DIRETOR DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA –
REGIONAL MINAS GERAIS

Quais são os efeitos do consumo excessivo de álcool para o organismo?
Em pessoas sadias o álcool em excesso pode levar a uma série de reações. Podem ocorrer alterações neurológicas, resultando em desmaios e até em coma alcóolico. Há risco de pancreatite, uma inflamação do pâncreas em função desse consumo exagerado, e até de hepatite alcoólica. Em pessoas doentes esses efeitos são ainda piores. 
 
Que grupo de pessoas deve ter maior atenção para não exagerar?
Os diabéticos que bebem muito podem ter complicações sérias, com alterações na glicose que podem apressar um quadro de coma. Pessoas que usam medicações neurológicas e psiquiátricas também devem ter atenção. Antidepressivos e remédios para dormir potencializam a toxicidade do álcool. Essa interação pode aumentar os efeitos negativos da bebida no organismo.
 

E quando além de excessivo o consumo de álcool for consecutivo? Quais são os prejuízos?

O grande risco é o da dependência. Uma das formas de se viciar em álcool é beber um pouco mais no dia seguinte para diminuir os efeitos da ressaca. O mal-estar, o enjoo, a tonteira e o vômito são reações diretas da falta da bebida no organismo. A ressaca é quase uma abstinência, por isso realmente a pessoa sente uma melhora do quadro quando ingere um pouco mais de álcool. Há vários relatos na literatura de pessoas que se viciaram sem perceber.
De distensão gástrica a pancreatite aguda 
Carolina Cotta
Publicação: 16/12/2012 04:00
Os doces representam outra dor de cabeça. “Muitas pessoas não têm hábito de comer doce todos os dias. Até que resolvem comer tudo o que sobrou de uma festa. Só que a sobra dura um mês e, quando acaba, o corpo se acostumou com o açúcar e começa e ‘exigir’ aquilo. É assim que surgem os vícios alimentares. O mesmo serve para álcool e alimentos ricos em gorduras. Para viciar, basta começar”, alerta a nutricionista Alice Carvalhais. 

Tanta comida combinada com bebida também em excesso pode levar à distensão gástrica, ao refluxo e a vômitos por excesso de volume. Para evitar tanto desconforto, é bom programar o que comer antes da festa e lá limitar-se ao planejado. Também quantificar o exagero e tentar compensar nos dias seguintes, optando por uma alimentação mais leve, com sopa, saladas e frutas.

Outra dica da nutricionista é apelar para algumas estratégias. “Após ter comido o suficiente, masque um chiclete para manter a boca ocupada e impedir o ato automático de comer mais só porque viu uma coisa gostosa na sua frente”, sugere. E se o excesso não pode ser evitado, também há como se livrar de seus efeitos de forma mais rápida. “Adote uma alimentação mais leve, rica em frutas e verduras. Isso facilita a digestão e ajuda a compensar as calorias extras. Tome bastante líquido para eliminar as toxinas pela urina. E, claro, evite novos exageros nos próximos dias”, sugere Alice.

Outras consequências mais graves da ingestão de grande quantidade de alimentos em curto espaço de tempo são a pancreatite aguda e o descontrole metabólico da glicose, íons e do perfil lipídico. E muita gente apela para os medicamentos vendidos sem receita e que prometem alívio para tanto exagero. Segundo o hepatologista Osvaldo Flávio de Melo Couto, a maioria tem como base substâncias que combatem determinado sintoma. “Muitos não têm eficácia cientificamente comprovada e não são capazes de produzir o efeito sugerido nos materiais de propaganda. Algumas vezes, não funcionam melhor do que um simples placebo. O ideal é não fazer uso desses produtos sem uma orientação médica prévia.”

Em relação à bebida, a principal orientação do especialista é manter a ingestão dentro de um limite de segurança a cada dia, para que o prazer não seja suplantado pelos efeitos nocivos do álcool. “Não existe um volume que possa ser tomado como definitivamente seguro para todos, já que cada indivíduo é diferente. A literatura médica sugere, de forma geral, para pessoas saudáveis, até 30g de etanol por dia para mulheres e 40g para homens. Isso é algo próximo a 900ml de cerveja ou 200ml de vinho para mulheres e 1150ml de cerveja ou 250ml de vinho para homens. É interessante que as pessoas intercalem a bebida alcoólica com água ou sucos e que, de uma forma geral, se mantenham bem hidratadas.

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