Entre executivos, estudo indica mais mulheres separadas do que homens
Segundo pesquisadora, há dificuldades de conciliar profissão e família, apesar de desejo das executivas
O desafio de conciliar carreira e vida pessoal se reflete em um percentual maior de executivas separadas, sem filhos e com pouco tempo para hobbies, em comparação com o universo masculino, segundo estudo recente da consultora e pesquisadora da PUC-Minas Betania Tanure.
De acordo com a pesquisa, o percentual de mulheres em cargos de presidência, diretoria ou gerência que não têm filhos é de 40% -o de homens, 19%. A proporção de executivas com apenas um herdeiro (44%) também é maior que entre seus pares masculinos (29%). Já a quantidade de executivas separadas ou solteiras nos altos escalões é de 35%, sendo que a carreira foi o principal motivo para a separação (64%). O percentual de executivos separados ou solteiros é de 14%.
EQUILÍBRIO
"Mesmo ascendendo na carreira, elas não querem abrir mão dos papéis que lhe são atribuídos, como cuidar da casa, da família e do relacionamento. E isso é extremamente custoso", diz Betania.
A dificuldade de chegar ao balanço ideal entre essas missões é revelada por outro indicador: 74,7% das mulheres estão insatisfeitas com a distribuição do seu tempo. Só 18% conseguem se dedicar a atividades de lazer, ante 82% dos homens.
Paradoxalmente, a maioria das profissionais que alcançaram o topo não abandonaria a carreira para se dedicar à família.
"Elas se sentem apaixonadas pelo que fazem, apesar da 'culpa'", diz Betania.
Hoje, as mulheres representam 5% do total de executivos na presidência de empresas no Brasil, ante 1% dez anos atrás. Na diretoria, já são 19% do total, ante 10% há uma década (veja quadro).
NOVA AGENDA
Diretora em um grupo de mídia digital, a executiva Luciana Ribeiro, 35, diz que adiou a maternidade para se dedicar à profissão.
Com 28 anos, a advogada tornou-se diretora jurídica e, após um MBA no exterior, migrou da área técnica para a de negócios da empresa, o que exigiu mudar de cidade.
"Tive muitas promoções quando jovem, o que me fez priorizar esse aspecto. Mas ainda pretendo ter filhos."
A executiva Juliana Azevedo, 37, diretora de marketing de uma multinacional de bens de consumo, conta que aprendeu a "repensar" sua agenda a partir do nascimento de Rafael, 3.
"Comecei a criar espaços no meio do dia para ficar com ele e a levá-lo a viagens de trabalho. Mas continuo trabalhando muito, inclusive em finais de semana", diz.
Participaram do estudo 965 executivos, sendo 222 mulheres, no início deste ano.
Para americanas, ter marido e filhos 'não é tudo'
DE SÃO PAULOPara mais de um terço das executivas americanas, ter filhos e um casamento estável não significa realização total, revela uma pesquisa feita pelo banco Citi em parceria com a rede profissional LinkedIn nos Estados Unidos.O estudo mostrou que, para 36% das entrevistadas, o casamento não está na lista de realizações incluídas no "ter tudo". Para 27%, ter filhos também não.
A definição de sucesso na carreira também varia entre elas -e não se resume a atingir cargos altos em grandes empresas.
Apenas 17% das mulheres afirmaram que atingir o topo de uma organização era um fator em sua avaliação de "ter tudo".
Para a maioria (68%), o sucesso foi definido como ter um emprego do qual goste e no qual seu trabalho é valorizado. Para outras 15%, ser bem-sucedida significa ser sua própria chefe.
Outra aspecto da pesquisa mostra que mulheres jovens valorizam o sucesso profissional mais que outras.
Entre as entrevistadas com menos de 35 anos, 26% relacionam "ter tudo" a atingir o topo da carreira. Para aquelas com mais de 35, esse percentual é de 11%.
Para o estudo, foram entrevistadas 520 mulheres em agosto deste ano.
DIFERENTE
No Brasil, no entanto, mostrar-se bem-sucedida também no plano pessoal ainda faz parte dos desejos das mulheres -e da expectativa da sociedade, avalia a pesquisadora da PUC-Minas Carolina Maria Santos.
"É um traço bastante forte da cultura latina. Espera-se que as mulheres tenham um marido e cuidem dos filhos e da família", afirma Carolina, que conduziu o estudo sobre as executivas brasileiras ao lado da consultora Betania Tanure.
"São elas também que costumam assumir o cuidado com os pais quando ficam idosos ou adoecem."
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