Paulo de Tarso Lyra
Estado de Minas: 16/12/2012
Brasília – José Eduardo Cardozo vai de Bach e Enio Morricone a Cícero, um dos três porquinhos imortalizados nas histórias infantis, com muita desenvoltura. Visto com ressalvas pelos petistas e aclamado como republicano pelos tucanos, pianista mais teórico que prático, são-paulino convicto e namorador inveterado, o atual ministro da Justiça foi um dos pilares da Operação Porto Seguro, que desbaratou a quadrilha que vendia pareceres jurídicos a empresários e que levou ao indiciamento de Rosemary Noronha, chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo e muito ligada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais uma rusga para Lula anotar na caderneta pessoal.
A primeira divergência entre os dois ocorreu em 1995, quando o então publicitário Paulo de Tarso Venceslau denunciou um suposto esquema de corrupção na Prefeitura de São José dos Campos para arrecadar recursos para campanhas do PT. Segundo ele, Lula – que no ano anterior disputara pela segunda vez a Presidência da República – sabia das irregularidades. Cardozo, que integrava com o ex-petista Hélio Bicudo uma comissão de sindicância da Executiva Nacional, insistiu em apurar o grau de conhecimento do fato do então presidente do PT. "Imagina, ele queria chamar o Lula para depor na sindicância. Claro que não caiu bem no partido", confirmou um petista paulistano.
Ao Estado de Minas, Cardozo afirmou que não percebe esse grau de animosidade entre seus correligionários. "Posteriormente à comissão da qual fazia parte, a Comissão de Ética do partido ofereceu oportunidade de defesa aos investigados e chegou a conclusão diferente da que havíamos chegado. Entendo que isso é uma situação absolutamente normal dentro de procedimentos de investigação ética no âmbito de um partido", declarou.
O status do ministro da Justiça também oscila dentro do partido. Questionado em 1995, ele participou de um momento marcante do partido no fim da década de 1980. Recém-saído dos bancos universitários, ele foi um dos responsáveis pela redação do texto que justificou o fato de o PT não ter assinado a Constituição do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988. "Era um menino inteligente, redigiu o documento ao lado de Pedro Dallari e Sérgio Renault", recorda o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), amigo de Lula há 40 anos. "Não sei de restrições pessoais de Lula a ele. Dizem que é porque o Cardozo jamais foi ministro quando Lula foi presidente. E daí? Mercadante (Aloizio Mercadante, ministro da Educação) também não foi", comparou Devanir.
Cardozo viveu os altos e baixos que marcaram sua trajetória política com mais intensidade nas últimas semanas. Primeiro, afirmou em um seminário que as prisões brasileiras são medievais. Foi bombardeado, acusado de ter se pronunciado sobre o sistema carcerário apenas após seus correligionários terem sido condenados no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Depois, veio a Operação Porto Seguro, cuja devassa chegou ao gabinete da Presidência em São Paulo. Lula, mais uma vez, não gostou. "Ele teve uma atitude extremamente republicana e correta nesse episódio", elogiou o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP), ex-ministro da Justiça. "É um político correto, que sempre tratou a oposição como adversária, sem a arrogância típica de outros ministros e dirigentes petistas", completa o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
O discurso provoca mais urticária no PT. "Ele sempre foi individualista e exibido. No caso da máfia dos fiscais, queria puxar para si todos os holofotes", atacou um ex-companheiro de mandato na Câmara Municipal de São Paulo. "A investigação teve ampla cobertura da imprensa, com transmissão ao vivo da CPI da qual eu fui presidente. Isso deu notoriedade às pessoas que conduziam a investigação, inclusive porque obtiveram-se resultados positivos com vereadores e deputados cassados, processados criminalmente e condenados", defende-se Cardozo.
Desilusão Depois de oito anos como deputado, Cardozo se desiludiu com a política, com as formas de financiamento de campanha e decidiu abandonar as disputas por cargos eletivos. Foi convidado, em 2010, pela então candidata Dilma Rousseff, para compor a trinca de coordenação da campanha presidencial, ao lado de Antonio Palocci e José Eduardo Dutra, então presidente do PT. O trio foi apelidado de "Três Porquinhos". Brincalhão, Cardozo disse que era o Cícero, deixando para Palocci o papel de Prático – o mais inteligente de todos. Passada a eleição, tornou-se ministro da Justiça. "Não sou candidato a nenhum cargo eletivo, mas apenas candidato a fazer um bom trabalho à frente do Ministério da Justiça", disse ele ao Estado de Minas.
A primeira divergência entre os dois ocorreu em 1995, quando o então publicitário Paulo de Tarso Venceslau denunciou um suposto esquema de corrupção na Prefeitura de São José dos Campos para arrecadar recursos para campanhas do PT. Segundo ele, Lula – que no ano anterior disputara pela segunda vez a Presidência da República – sabia das irregularidades. Cardozo, que integrava com o ex-petista Hélio Bicudo uma comissão de sindicância da Executiva Nacional, insistiu em apurar o grau de conhecimento do fato do então presidente do PT. "Imagina, ele queria chamar o Lula para depor na sindicância. Claro que não caiu bem no partido", confirmou um petista paulistano.
Ao Estado de Minas, Cardozo afirmou que não percebe esse grau de animosidade entre seus correligionários. "Posteriormente à comissão da qual fazia parte, a Comissão de Ética do partido ofereceu oportunidade de defesa aos investigados e chegou a conclusão diferente da que havíamos chegado. Entendo que isso é uma situação absolutamente normal dentro de procedimentos de investigação ética no âmbito de um partido", declarou.
O status do ministro da Justiça também oscila dentro do partido. Questionado em 1995, ele participou de um momento marcante do partido no fim da década de 1980. Recém-saído dos bancos universitários, ele foi um dos responsáveis pela redação do texto que justificou o fato de o PT não ter assinado a Constituição do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988. "Era um menino inteligente, redigiu o documento ao lado de Pedro Dallari e Sérgio Renault", recorda o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), amigo de Lula há 40 anos. "Não sei de restrições pessoais de Lula a ele. Dizem que é porque o Cardozo jamais foi ministro quando Lula foi presidente. E daí? Mercadante (Aloizio Mercadante, ministro da Educação) também não foi", comparou Devanir.
Cardozo viveu os altos e baixos que marcaram sua trajetória política com mais intensidade nas últimas semanas. Primeiro, afirmou em um seminário que as prisões brasileiras são medievais. Foi bombardeado, acusado de ter se pronunciado sobre o sistema carcerário apenas após seus correligionários terem sido condenados no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Depois, veio a Operação Porto Seguro, cuja devassa chegou ao gabinete da Presidência em São Paulo. Lula, mais uma vez, não gostou. "Ele teve uma atitude extremamente republicana e correta nesse episódio", elogiou o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP), ex-ministro da Justiça. "É um político correto, que sempre tratou a oposição como adversária, sem a arrogância típica de outros ministros e dirigentes petistas", completa o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
O discurso provoca mais urticária no PT. "Ele sempre foi individualista e exibido. No caso da máfia dos fiscais, queria puxar para si todos os holofotes", atacou um ex-companheiro de mandato na Câmara Municipal de São Paulo. "A investigação teve ampla cobertura da imprensa, com transmissão ao vivo da CPI da qual eu fui presidente. Isso deu notoriedade às pessoas que conduziam a investigação, inclusive porque obtiveram-se resultados positivos com vereadores e deputados cassados, processados criminalmente e condenados", defende-se Cardozo.
Desilusão Depois de oito anos como deputado, Cardozo se desiludiu com a política, com as formas de financiamento de campanha e decidiu abandonar as disputas por cargos eletivos. Foi convidado, em 2010, pela então candidata Dilma Rousseff, para compor a trinca de coordenação da campanha presidencial, ao lado de Antonio Palocci e José Eduardo Dutra, então presidente do PT. O trio foi apelidado de "Três Porquinhos". Brincalhão, Cardozo disse que era o Cícero, deixando para Palocci o papel de Prático – o mais inteligente de todos. Passada a eleição, tornou-se ministro da Justiça. "Não sou candidato a nenhum cargo eletivo, mas apenas candidato a fazer um bom trabalho à frente do Ministério da Justiça", disse ele ao Estado de Minas.
Sem validade
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reafirmou ontem, em Belo Horizonte, que considera sem validade jurídica o depoimento do empresário Marcos Valério prestado ao Ministério Público no fim de setembro, acusando Lula de ter pago despesas pessoais com recursos do esquema do mensalão. “Uma pessoa, para fazer um depoimento como esse depois de condenada só tem dois objetivos: tumultuar o processo para que não fosse viabilizada a sua condição penal ou efetivamente conseguir uma redução da pena”, disse, questionando a falta de provas apresentadas pelo empresário. Perguntado sobre supostas tentativas de Rosemary Noronha, chefe exonerada do gabinete da Presidência da República em São Paulo, de atenuar penas de réus do mensalão, levantadas em matéria publicada ontem pela revista semanal Época, o ministro disse que preferia não comentar o caso e chegou a rir da publicação.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reafirmou ontem, em Belo Horizonte, que considera sem validade jurídica o depoimento do empresário Marcos Valério prestado ao Ministério Público no fim de setembro, acusando Lula de ter pago despesas pessoais com recursos do esquema do mensalão. “Uma pessoa, para fazer um depoimento como esse depois de condenada só tem dois objetivos: tumultuar o processo para que não fosse viabilizada a sua condição penal ou efetivamente conseguir uma redução da pena”, disse, questionando a falta de provas apresentadas pelo empresário. Perguntado sobre supostas tentativas de Rosemary Noronha, chefe exonerada do gabinete da Presidência da República em São Paulo, de atenuar penas de réus do mensalão, levantadas em matéria publicada ontem pela revista semanal Época, o ministro disse que preferia não comentar o caso e chegou a rir da publicação.
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