terça-feira, 4 de dezembro de 2012

MARIA ESTHER MACIEL » Ainda Nova York‏

Tudo é demais da conta, tudo é um excesso de tudo 


Estado de Minas: 04/12/2012


Nova York é uma cidade inesgotável. O mundo todo está ali dentro, fervilhante. O tempo acaba sendo pouco para quem se propõe a percorrer seus lugares mais interessantes. A sensação é de que as horas voam, como em nenhuma outra cidade. Seu tempo é do agora mais imediato, mais vivo. Os apelos se multiplicam a cada momento, a cada esquina. Tudo é demais da conta, tudo é um excesso de tudo. Não há muito espaço para a contemplação e o devaneio, a não ser dentro dos museus e em áreas verdes, como o Central Park. Ainda assim, é tanta coisa para ver nesses espaços, é tanta gente que neles circula, que fica difícil devanear.

Quando lá cheguei para uma temporada de pesquisa literária, estava com um roteiro de passeios em mãos, que pretendia seguir nas horas de folga. Uma lista de compras também, pois queria aproveitar a viagem para comprar presentes de Natal. Mas quem disse que consegui levar meus planos adiante? Se eu fosse visitar os lugares do roteiro, não teria tempo para as lojas. E vice-versa. Acabei preferindo a primeira opção, mesmo porque as lojas estavam impossíveis, de tanto movimento. Além do mais, não tenho muito talento para escolher coisas em meio a um labirinto de possibilidades. Fico atordoada diante das prateleiras e das inúmeras seções de produtos. E acabo por não comprar nada. É sempre assim. Para agravar a situação, ainda peguei a tal black friday, a sexta-feira infernal. O melhor que fiz nesse dia foi abandonar as ruas, ir caminhar no Central Park até as pernas doerem e depois me sentar num café-restaurante para observar o entorno. Aliás, foi nessa hora que vi uma das cenas mais divertidas da viagem: um casal de jovens louros e falantes comendo ostras com catchup.

A região em que fica a Universidade de Nova York, na parte baixa de Manhattan, foi uma boa descoberta. Nunca tinha ido lá antes. Deu vontade de morar lá por uns meses. Ou anos. Os prédios todos da universidade estão integrados ao espaço urbano, já que não é um câmpus fechado. Isso torna o ambiente acadêmico mais animado e cheio de vida. Outros bairros próximos são igualmente atraentes, como o Soho, Greenwich Village e Chelsea, onde vi prédios interessantíssimos e visitei galerias impactantes. Caminhando pelo Soho, dá para chegar também a Chinatown, bairro cheio de ótimos restaurantes orientais.

Ainda tive tempo para ir ao Museu Guggenheim, onde está aberta a exposição Picasso black and white, só com trabalhos monocromáticos do artista: um conjunto impressionante de obras em preto, branco e mais de 50 tons de cinza. Vale também conferir as novas aquisições de arte contemporânea desse museu, que, por si só, já é uma obra de arte. Deu para conhecer também a monumental Biblioteca Pública de Nova York, embora de forma superficial, pois é impossível percorrer tudo numa só visita. O prédio é uma maravilha e nos dá a sensação de estar num palácio. Ou, para os aficionados em livros, num paraíso.
Não consegui ir, desta vez, ao Brooklyn. Disseram-me que andar de bicicleta pela ponte é uma aventura e tanto. Mas como choveu no dia em que havia planejado esse passeio e não tinha muito mais tempo, deixei para a próxima vez. Que seja logo, pois a lista das coisas que não fiz lá só cresceu.

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