terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Morto anteontem, Pignatari, 85, deixou dramaturgia inédita


Poeta, ensaísta e tradutor teve o corpo sepultado ontem, aos versos da cantiga "Peixe Vivo"
Filho busca concentrar a obra do concretista, muito dispersa, em menos editoras; último livro saiu em 2009
Folha DE SÃO PAULOFoi ao som dos versos "como pode um peixe vivo/ viver fora da água fria", da cantiga popular "Peixe Vivo", que o poeta, ensaísta e tradutor Décio Pignatari teve o corpo sepultado ontem, no cemitério do Morumbi, em São Paulo.
O coro de parentes e amigos, puxado pela filha Serena (o poeta teve mais dois filhos), atendeu a um pedido de Pignatari, que morreu no domingo, aos 85 anos, por complicações decorrentes de uma pneumonia.
O poeta estava internado desde sexta no Hospital Universitário da USP, mas, vítima de um Alzheimer em estado avançado, já não escrevia havia quatro anos, segundo a viúva, Lilla Pignatari.
"Poesia é saco, não tenho mais paciência", disse o poeta em 2010, numa de suas últimas aparições públicas, no Fórum das Letras de Ouro Preto, numa apresentação em que a perda de memória decorrente do Alzheimer já podia ser percebida. "Não vou escrever nunca mais", afirmou na época.
"A memória recente dele estava completamente comprometida, mas a antiga não. Ele se lembrava de artistas, de filmes, do Humphrey Bogart e de coisas importantes da literatura", disse Lilla ontem, antes do enterro.
Segundo a viúva, os últimos trabalhos de Pignatari incluíram duas peças, uma sobre o dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), o pai do existencialismo, e outra sobre Nísia Floresta (1810-1885), feminista potiguar.
Não há previsão de publicação do material -o último livro de Pignatari, o infantil "Bili com Limão Verde na Mão", foi publicado em 2009 pela Cosac Naify.
Quem cuidará do espólio será o músico Dante Pignatari, filho do poeta, que já vinha tentando concentrar sua obra, muito dispersa, em menos editoras. Atualmente, ele tem livros publicados pela Companhia das Letras, Ateliê, Senac, Editora Unicamp e Perspectiva, entre outras.
Nascido em Jundiaí, em 20 de agosto de 1927, Pignatari iniciou nos anos 50 suas investigações sobre a poesia, lançando o movimento concretista com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Seus estudos sobre a linguagem, com obras como "Informação, Linguagem e Comunicação" (1968) influenciaram gerações de semiólogos.
"É preciso tomar cuidado para não folclorizar a personalidade forte do Décio. Ele possuía muita crença no que dizia, por isso era tão convicto e não fazia o jogo social de agradar", disse ontem o compositor Lívio Tragtenberg, presente ao enterro, com outros amigos do poeta, como o poeta Augusto de Campos e o maestro Julio Medaglia.

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