Mariana Peixoto
Estado de Minas: 28/01/2013
“É necessário fechar as cortinas da tela logo após os créditos de encerramento e manter a sala no escuro por meio minuto. Durante esses trinta segundos de total escuridão, o suspense do filme fica indelevelmente gravado na mente do público, para depois ser discutido com amigos e parentes. A sala deve então ser iluminada com luzes de tom esverdeado, e refletores nesse mesmo tom devem iluminar o rosto do público ao sair.” A experiência de assistir a um filme no cinema é mais ou menos assim, salvo pelo preciosismo das luzes de uma sala de exibição. Só que a fala acima foi proferida 53 anos atrás, época em que uma ida ao cinema tinha outras características: o longa, geralmente, era antecedido e precedido de noticiários e curtas-metragens e o público entrava e saía da sala quando bem quisesse.
Pois em 1960, Alfred Hitchcock estipulou uma série de regras que os cinemas deveriam adotar para exibir Psicose. O mais conhecido filme do diretor britânico teve uma gestação difícil. Além disso, era um filme diferente de tudo o que o cineasta havia feito até ali. Mas até sua estrondosa recepção nas bilheterias – o reconhecimento da crítica só ocorreu muitos anos depois – o clima entre equipe técnica, estúdio e atores variava da surpresa ao descrédito. Ao longo de 200 páginas, o escritor norte-americano Stephen Rebello destrincha os meandros do filme em Hitchcock – Os bastidores da filmagem de Psicose. O livro foi publicado originalmente em 1990. Agora, ganha edição acrescida de entusiasmado prefácio, em que o autor relembra reunião recente na 20th Century Fox para leitura do roteiro de Hitchcock.
O filme, que estreia no Brasil em 1º de março, traz como ponto de partida o livro de Rebello. É apenas uma inspiração, já que o extenso e bem trabalhado relato jornalístico pouco trata da vida pessoal do diretor. Já o longa, dirigido pelo britânico Sacha Gervasi, é centrado no relacionamento de Hitchcock com sua mulher, Alma, durante a produção de Psicose. O elenco é um dos destaques da produção, pois é encabeçado pelos grandes Anthony Hopkins e Helen Mirren.
O relato de Rebello acompanha todo o processo do filme, a partir de uma série de mórbidos crimes que assolaram um vilarejo do distante Wisconsin em 1957. O escritor Robert Bloch, então um autor desconhecido, foi até o tal lugar, Plainfield, para fazer uma pesquisa de campo. A partir do material colhido lá, escreveu Psicose, o livro que foi comprado por Hitchcock por apenas US$ 9 mil (o autor vendeu os direitos sem saber quem os estava adquirindo). Em ordem cronológica, e com muita riqueza de detalhes (ficamos sabendo, por exemplo, de todos os cachês dos envolvidos no projeto), Rebello vai repassando a história. Na época da pesquisa para o livro, havia entrevistado boa parte dos profissionais envolvidos.
Como filme, Psicose tinha tudo para dar errado. A Paramount não acreditou no projeto, então a verba de produção foi mínima (US$ 800 mil). Hitchcock, completamente envolvido pela história que misturava travestismo, erotismo e questões edipianas, não se deu por vencido. Resolveu que iria filmar para o cinema como se estivesse filmando para TV (na época, ele produzia a série Alfred Hitchcock presents), incluindo a equipe. A opção por filmar em preto e branco, por exemplo, foi primeiramente econômica, e não estética. Da criação do roteiro, passando por pré-produção, filmagem, lançamento e legado do filme, Rebello esmiúça todos os detalhes.
Cinéfilos e fãs do diretor vão se deleitar com a detalhadíssima descrição (toma páginas e páginas) da filmagem do assassinato de Marion Crane (Janet Leigh), que se tornou uma das mais antológicas (e copiadas) cenas do cinema. Há também uma discussão (hoje totalmente sem propósito) de como a nudez da personagem não apareceria frente à censura. Ao final da leitura, é obrigatório assistir Psicose mais uma vez. Será, com certeza, com outros olhos.
Pois em 1960, Alfred Hitchcock estipulou uma série de regras que os cinemas deveriam adotar para exibir Psicose. O mais conhecido filme do diretor britânico teve uma gestação difícil. Além disso, era um filme diferente de tudo o que o cineasta havia feito até ali. Mas até sua estrondosa recepção nas bilheterias – o reconhecimento da crítica só ocorreu muitos anos depois – o clima entre equipe técnica, estúdio e atores variava da surpresa ao descrédito. Ao longo de 200 páginas, o escritor norte-americano Stephen Rebello destrincha os meandros do filme em Hitchcock – Os bastidores da filmagem de Psicose. O livro foi publicado originalmente em 1990. Agora, ganha edição acrescida de entusiasmado prefácio, em que o autor relembra reunião recente na 20th Century Fox para leitura do roteiro de Hitchcock.
O filme, que estreia no Brasil em 1º de março, traz como ponto de partida o livro de Rebello. É apenas uma inspiração, já que o extenso e bem trabalhado relato jornalístico pouco trata da vida pessoal do diretor. Já o longa, dirigido pelo britânico Sacha Gervasi, é centrado no relacionamento de Hitchcock com sua mulher, Alma, durante a produção de Psicose. O elenco é um dos destaques da produção, pois é encabeçado pelos grandes Anthony Hopkins e Helen Mirren.
O relato de Rebello acompanha todo o processo do filme, a partir de uma série de mórbidos crimes que assolaram um vilarejo do distante Wisconsin em 1957. O escritor Robert Bloch, então um autor desconhecido, foi até o tal lugar, Plainfield, para fazer uma pesquisa de campo. A partir do material colhido lá, escreveu Psicose, o livro que foi comprado por Hitchcock por apenas US$ 9 mil (o autor vendeu os direitos sem saber quem os estava adquirindo). Em ordem cronológica, e com muita riqueza de detalhes (ficamos sabendo, por exemplo, de todos os cachês dos envolvidos no projeto), Rebello vai repassando a história. Na época da pesquisa para o livro, havia entrevistado boa parte dos profissionais envolvidos.
Como filme, Psicose tinha tudo para dar errado. A Paramount não acreditou no projeto, então a verba de produção foi mínima (US$ 800 mil). Hitchcock, completamente envolvido pela história que misturava travestismo, erotismo e questões edipianas, não se deu por vencido. Resolveu que iria filmar para o cinema como se estivesse filmando para TV (na época, ele produzia a série Alfred Hitchcock presents), incluindo a equipe. A opção por filmar em preto e branco, por exemplo, foi primeiramente econômica, e não estética. Da criação do roteiro, passando por pré-produção, filmagem, lançamento e legado do filme, Rebello esmiúça todos os detalhes.
Cinéfilos e fãs do diretor vão se deleitar com a detalhadíssima descrição (toma páginas e páginas) da filmagem do assassinato de Marion Crane (Janet Leigh), que se tornou uma das mais antológicas (e copiadas) cenas do cinema. Há também uma discussão (hoje totalmente sem propósito) de como a nudez da personagem não apareceria frente à censura. Ao final da leitura, é obrigatório assistir Psicose mais uma vez. Será, com certeza, com outros olhos.
Relações conturbadas
Morto há 23 anos, Alfred Hitchcock voltou agora à tona também na televisão. A HBO está exibindo desde o início deste mês o telefilme A garota, que mostra o turbulento relacionamento entre o diretor e a atriz Tippi Hedren durante a produção de Os pássaros (1963), filme subsequente a Psicose. A narrativa é centrada no assédio que a então estreante atriz sofreu do diretor. A intenção de Hitchcock era transformá-la numa nova Grace Kelly. Além de tentar se safar das investidas sexuais do diretor (que, dizem, era impotente), Hedren sofreu um bocado durante as filmagens.
Hitchcock não teria dito a ela, que só soube na hora da filmagem, que o ataque que a personagem Melanie Daniels sofre de um bando de pássaros seria filmado com aves reais, e não de mentira, como havia lhe assegurado. A atriz sofreu, por vários dias consecutivos, com os ataques. Depois de filmar Marnie, no ano seguinte, Hedren não quis mais trabalhar com o diretor, que a manteve sob contrato por mais alguns anos, privando-a de fazer qualquer outro filme.
Em seu livro, Rebello revela que algo semelhante ocorreu com Vera Miles, que participou de Psicose, só porque tinha obrigações contratuais (e ganhando menos de US$ 2 mil semanais). Dois anos antes, ela havia enfurecido o diretor quando engravidou pela terceira vez, ficando impedida de participar de Um corpo que cai (1958). “Segundo os colaboradores do diretor, ele acreditava que a atriz deveria ter sido grata e submissa”, escreveu Rebello.
HITCHCOCK – OS BASTIDORES DA FILMAGEM DE PSICOSE
De Stephen Rebello. Editora Intrínseca, 256 páginas, R$ 29,90 e R$ 19,90 (e-book).
Morto há 23 anos, Alfred Hitchcock voltou agora à tona também na televisão. A HBO está exibindo desde o início deste mês o telefilme A garota, que mostra o turbulento relacionamento entre o diretor e a atriz Tippi Hedren durante a produção de Os pássaros (1963), filme subsequente a Psicose. A narrativa é centrada no assédio que a então estreante atriz sofreu do diretor. A intenção de Hitchcock era transformá-la numa nova Grace Kelly. Além de tentar se safar das investidas sexuais do diretor (que, dizem, era impotente), Hedren sofreu um bocado durante as filmagens.
Hitchcock não teria dito a ela, que só soube na hora da filmagem, que o ataque que a personagem Melanie Daniels sofre de um bando de pássaros seria filmado com aves reais, e não de mentira, como havia lhe assegurado. A atriz sofreu, por vários dias consecutivos, com os ataques. Depois de filmar Marnie, no ano seguinte, Hedren não quis mais trabalhar com o diretor, que a manteve sob contrato por mais alguns anos, privando-a de fazer qualquer outro filme.
Em seu livro, Rebello revela que algo semelhante ocorreu com Vera Miles, que participou de Psicose, só porque tinha obrigações contratuais (e ganhando menos de US$ 2 mil semanais). Dois anos antes, ela havia enfurecido o diretor quando engravidou pela terceira vez, ficando impedida de participar de Um corpo que cai (1958). “Segundo os colaboradores do diretor, ele acreditava que a atriz deveria ter sido grata e submissa”, escreveu Rebello.
HITCHCOCK – OS BASTIDORES DA FILMAGEM DE PSICOSE
De Stephen Rebello. Editora Intrínseca, 256 páginas, R$ 29,90 e R$ 19,90 (e-book).
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