DO ENVIADO ESPECIAL A CARTAGENADe todos os presentes no Hay Festival Cartagena, ninguém parece mais diametralmente distinta de Mario Vargas Llosa do que sua companheira de Prêmio Nobel de Literatura, Herta Müller.
Se em sua ruidosa conferência o peruano tratou de temas "king size", como a defesa da cultura, a decadência da sociedade e os rumos da literatura, a escritora romena-alemã se ocupou do que há de mais individual e intimista.
Numa palestra no teatro colonial Heredia, Müller, 59, falou longamente sobre sua infância num povoado camponês da Romênia e de como as plantas foram suas babás.
"Meu pais trabalhavam no campo, não tinha irmãos nem ninguém para cuidar de mim, então passava a minha infância no jardim. Ficava olhando as plantas, indiferentes a minha presença, e pensava: sou feita de outro material."
Com uma fala repleta de pausas e silêncios ("Fui criada no silêncio"), os olhos azuis e melancólicos muitas vezes voltados para o chão, contou que comia as plantas "para ver se elas me aceitavam como uma delas".
No reino vegetal encontrava também seus brinquedos. "Eu pensava: esta planta vai se casar com esta outra. E esta vai sair para tomar chá."
Naturalmente, também suspeitava delas. Se sua vida e literatura são tatuadas pela experiência de ter crescido sob a áspera ditadura romena de Nicolae Ceaucescu (1918-1989), no jardim da sua infância já matutava a respeito: "Quando morria alguém do partido, via os cravos cobrindo o corpo e pensava: estas flores não têm caráter".
Nesta época, e até o fim da adolescência, diz Müller, ela mal sabia o que era literatura. "Em minha terra quase não havia livros. Eu tinha o sonho de ser cabeleireira."
Na saída do debate, Müller, que, como Vargas Llosa, não deu entrevistas, revelou àFolha que virá ao Brasil ainda neste ano, no ciclo Fronteiras do Pensamento. Antes disso, chega sua literatura: dois livros da autora estão saindo no país, o romance "Fera d'Alma" (Globo Livros) e a novela "O Homem É um Grande Faisão no Mundo" (Companhia das Letras).
Se em sua ruidosa conferência o peruano tratou de temas "king size", como a defesa da cultura, a decadência da sociedade e os rumos da literatura, a escritora romena-alemã se ocupou do que há de mais individual e intimista.
Numa palestra no teatro colonial Heredia, Müller, 59, falou longamente sobre sua infância num povoado camponês da Romênia e de como as plantas foram suas babás.
"Meu pais trabalhavam no campo, não tinha irmãos nem ninguém para cuidar de mim, então passava a minha infância no jardim. Ficava olhando as plantas, indiferentes a minha presença, e pensava: sou feita de outro material."
Com uma fala repleta de pausas e silêncios ("Fui criada no silêncio"), os olhos azuis e melancólicos muitas vezes voltados para o chão, contou que comia as plantas "para ver se elas me aceitavam como uma delas".
No reino vegetal encontrava também seus brinquedos. "Eu pensava: esta planta vai se casar com esta outra. E esta vai sair para tomar chá."
Naturalmente, também suspeitava delas. Se sua vida e literatura são tatuadas pela experiência de ter crescido sob a áspera ditadura romena de Nicolae Ceaucescu (1918-1989), no jardim da sua infância já matutava a respeito: "Quando morria alguém do partido, via os cravos cobrindo o corpo e pensava: estas flores não têm caráter".
Nesta época, e até o fim da adolescência, diz Müller, ela mal sabia o que era literatura. "Em minha terra quase não havia livros. Eu tinha o sonho de ser cabeleireira."
Na saída do debate, Müller, que, como Vargas Llosa, não deu entrevistas, revelou àFolha que virá ao Brasil ainda neste ano, no ciclo Fronteiras do Pensamento. Antes disso, chega sua literatura: dois livros da autora estão saindo no país, o romance "Fera d'Alma" (Globo Livros) e a novela "O Homem É um Grande Faisão no Mundo" (Companhia das Letras).
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