sábado, 16 de fevereiro de 2013

Após renúncia do papa, cardeais começam a ter tom mais crítico

folha de são paulo

ANÁLISE
JOHN L. ALLEN JR.ESPECIAL PARA O “NATIONAL CATHOLIC REPORTER”, DE ROMANo começo da semana, sugeri que, porque o final do papado de Bento 16 não coincidirá com sua morte, talvez surja maior espaço psicológico para que os cardeais observem o pontificado de maneira crítica, sem que precisem se preocupar por estarem falando mal de um Papa morto.
Uma pequena confirmação dessa teoria surgiu na forma de uma entrevista concedida a um jornal alemão pelo cardeal Joachim Meisner, de Colônia, um dos amigos mais próximos de Bento 16 no Colégio Cardinalício.
Numa descrição das qualidades necessárias ao próximo papa, Meisner revelou que, em 2009, procurou Bento 16 em nome de um grupo de cardeais, solicitando que demitisse seu secretário de Estado, o italiano Tarciso Bertone.
Bertone, 78, serviu ao então cardeal Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé entre 1995 e 2002 e sua indicação como secretário de Estado, em 2006, causou choque no Vaticano, por não ter experiência nesse campo.
O secretário de Estado é visto como o "primeiro-ministro" do papa -o segundo homem mais importante na hierarquia do Vaticano.
Ao longo do papado de Bento 16, foi atribuída a Bertone boa parte da culpa por uma série de incidentes vistos como gafes ou desastres.
Ele se tornou um dos mais importantes símbolos do pensamento dominante sobre Bento 16, visto como um grande professor, mas não tão competente no que tange a administrar o Vaticano.
Em 2009, a decisão do papa de suspender a excomunhão de quatro bispos tradicionalistas, um dos quais negava o Holocausto, causou controvérsia mundial.
Bento 16 se viu forçado a enviar uma carta de tom angustiado aos bispos de todo o mundo, pedindo desculpas pela condução ineficiente do assunto mas também se queixando das amargas reações.
Fontes culpam Bertone por não ter percebido a inevitabilidade do desastre, o que serve como contexto para o apelo de Meisner por sua demissão. De acordo com Meisner, Bento 16 respondeu: "Ouça com atenção: Bertone fica. Basta, basta, basta".
"Depois disso, não voltei a mencionar o assunto", Meisner disse ao jornal "Frankfurter Rundschau". "É típico. Os Ratzinger são leais, e isso nem sempre facilita a vida deles."
É certo que a revelação não representa crítica direta ao papa -pelo contrário: Meisner parece estar expressando admiração pela sua lealdade.
Mas é evidente que ele critica a equipe de Bento 16, e há ainda uma indicação de que o próximo papa precisa selecionar melhor o talento administrativo de que se servirá -e que precisa haver prestação de contas mais séria quanto ao mau desempenho.
Meisner opinou que o próximo papa precisa ter a profundidade cultural e intelectual de Bento de 16, mas ser muito mais novo.
JOHN L. ALLEN JR. é autor de sete livros sobre a Igreja Católica

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