Os dilemas de Netanyahu
É um enfraquecido Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, que recebe a tarefa de montar, a partir de hoje, o quebra-cabeça político para formar uma coalizão que se sustente no governo.Há pelo menos dois cenários principais para a formação do gabinete. Em ambos o premiê conservador terá uma base pequena e instável para levar à frente seu controverso programa de política externa, centrado no endurecimento diante da questão palestina e na pressão sobre o Irã.
Governar só com seus atuais aliados (partidos de direita e de religiosos ultraortodoxos) implica apoiar-se em aliança apertada de 61 cadeiras, o mínimo para formar um gabinete. Nas eleições do mês passado, essa coalizão perdeu quatro votos no Knesset (Parlamento), que tem 120 assentos.
A alternativa para Netanyahu é aliar-se àquela que se revelou a principal novidade do pleito: o novo partido centrista Yesh Atid (Há Futuro), do apresentador de TV Yair Lapid, que obteve 19 assentos.
Mal se conhecem as ideias sobre política externa de Lapid, que concentrou a campanha em questões domésticas. Defende, por exemplo, o fim da isenção militar para judeus ultraortodoxos, o que parece inviabilizar seu convívio, numa coalizão, com os partidos religiosos aliados de Netanyahu.
Lapid favorece a criação do Estado palestino e a volta imediata do diálogo. Por outro lado, ele é a favor de Jerusalém como "capital indivisível" do Estado de Israel, quando o caminho mais promissor das negociações pressupõe um status compartilhado entre árabes e judeus, com algum tipo de supervisão internacional.
Não é de duvidar, contudo, que o premiê -um hábil articulador- ponha Lapid de lado e consiga atrair os pequenos partidos dos ex-ministros Tzipi Livni (Hatnuah) e Shaul Mofaz (Kadima), dissidentes do Likud de Netanyahu.
Dadas as dificuldades no front da política doméstica, Bibi, como é conhecido o premiê, tem buscado aproximar-se do presidente Barack Obama. Os EUA são o principal aliado de Israel, cada vez mais criticado no cenário mundial. Para Netanyahu, torna-se crucial distender as relações com o governo americano, insatisfeito com a falta de avanços na crise palestina.
Mesmo que consiga atrair oposicionistas para seu gabinete, é improvável que Netanyahu ganhe força para escalar hostilidades contra palestinos e o Irã. Isolado no plano internacional e manietado no interno, pode terminar constrangido a provar suas virtudes de negociador nessas duas frentes.
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Duas velocidades
Em 2013, emergentes puxarão de novo a economia mundial, com EUA em marcha lenta e Europa estagnada -porém não mais à beira do abismo
Do lado dos desenvolvidos, o PIB americano teve retração de 0,1% no quarto trimestre de 2012, na taxa anualizada, enquanto na eurozona se estima redução de 1,5%.
Os países emergentes, por sua vez, ensaiam uma retomada. A projeção do FMI é que eles tenham crescido 6,6% (em termos anualizados) no último trimestre de 2012, resultado que, confirmado, terá sido o melhor desde o início de 2011.
Em que pese essa discrepância, o panorama da economia global até que não se afigura ruim. Mesmo que uma grande retomada econômica pareça distante, nesse contexto, o período de insegurança mais aguda parece ter ficado para trás.
Diminuíram os riscos de grandes acidentes, como a saída da Grécia da zona do euro, o que tem impacto favorável na Europa e nos EUA.
A redução do estresse financeiro na Europa é o avanço mais palpável obtido no ano passado. Ainda que aos trancos, as lideranças da eurozona parecem ter acordado um caminho para a ação.
Foram decisivos na restauração da confiança de investidores a decisão alemã de que não se admite a saída da Grécia do euro e o sinal verde do Banco Central Europeu, em setembro, de que fará "tudo o que for necessário" para socorrer os países em crise do bloco. A promessa é financiar a dívida desses governos sem restrições de volume ou de prazo.
O resultado é visível. Espanha e Itália, alvos da maior preocupação por suas dívidas crescentes, não têm mais de vender seus títulos a juros tão exorbitantes, como ocorreu até meados de 2012, cenário que era explicado pelo temor de que poderiam dar um calote.
Apesar da retração no fim de 2012, o panorama para os EUA melhorou. Por ora fica descartada a recessão por força do desacordo no Congresso quanto a corte de gastos no governo e aumento de impostos, o chamado "abismo fiscal".
Republicanos e democratas chegaram a um acordo parcial em janeiro, e espera-se que o impasse seja menor em março, quando terão de definir cortes nos gastos públicos e o teto da dívida do governo.
A expectativa é que o PIB dos EUA avance 2% no início deste ano e o que os preços no setor imobiliário, epicentro da crise, continuem a se recuperar. Isso traz um efeito positivo na saúde financeira de famílias endividadas e na disposição dos bancos para emprestar.
O Brasil, após o pífio resultado de 2012, quando o PIB deve ter avançado 1%, pode crescer 3% em 2013. Um desempenho mais fraco que o de seus pares, até na América Latina -e muito aquém do que é desejado e necessário.
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