domingo, 3 de fevereiro de 2013

Helio Schwartsman

FOLHA DE SÃO PAULO

Até ontem
SÃO PAULO - O mais recente livro de Jared Diamond, "The World Until Yesterday: What Can we Learn from Traditional Societies?" (o mundo até ontem: o que podemos aprender de sociedades tradicionais?), não tem o impacto de suas obras anteriores, mas traz "insights" interessantes e é muito gostoso de ler.
Depois de ter demonstrado, em "Armas, Germes e Aço", a força que a geografia exerce sobre a história e destacado, em "Colapso", o papel decisivo de desastres ambientais e mudanças climáticas, Diamond se volta agora para a cultura.
Partindo de observações sobre diversas sociedades de caçadores-coletores -que ainda mantêm um estilo de vida próximo ao de nossos ancestrais de 11 mil anos atrás, quando surgiu a agricultura-, o autor cria uma base de comparação entre comportamentos tradicionais e modernos em aspectos tão variados como o tratamento dispensado a estrangeiros, a educação de crianças, o cuidado com os velhos e a percepção de riscos. Também cabem digressões sobre linguagem, religião e saúde.
Diferentemente de alguns antropólogos que cultuam seu objeto de estudo, Diamond deixa bastante claro que nós, no Ocidente, vivemos muito mais e, de um modo geral, muito melhor do que os membros de sociedades tradicionais. Há, contudo, situações em que seu saber, testado pelos milênios, tende a ser valioso.
As conclusões do autor não são revolucionárias. No caso das crianças, ele defende que possam dormir no mesmo quarto dos pais, que tenham mais contato com adultos de fora da família e que as incentivemos a brincar com meninos e meninas de várias idades. Há recomendações análogas para os demais tópicos.
O valor do livro está menos nas prescrições do autor e mais nos relatos que o levam a elas. É aí que Diamond usa todos os seus talentos de polímata e ilumina os limites sutis entre a universalidade e a exuberância da experiência humana.

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