segunda-feira, 25 de março de 2013

COMPORTAMENTO » Literatura gastronômica-Eduardo Tristão Girão‏

Empresas como a Tapioca, que tem inclusive o selo Tapioquinha, para o público infantil, e a Senac Editoras apostam, cada vez mais, nos livros que ensinam delícias da boa mesa 


Eduardo Tristão Girão

Estado e Minas: 25/03/2013 


Não há como negar: a gastronomia tornou-se nicho importante no mercado editorial brasileiro nos últimos anos. Seja circulando por livrarias ou navegando pelos sites de comércio eletrônico, impressiona a variedade de títulos, a maioria editados no país. De finas edições de bolso a livrões para a mesa de centro, há de tudo um pouco, incluindo produções especificamente pensadas para o público infantil. E algumas das principais editoras que atuam nesse segmento confirmam: esse bom momento continua e ainda há muito o que ser explorado.

Um dos termômetros disso é a recente criação da Editora Tapioca, voltada exclusivamente para o assunto. Em atividade desde novembro, ela já lançou títulos como O dilema do vegano, de Roberto Juliano, e Gaia – O lado oculto das plantas, de Gil Fellipe, entre os nacionais, e Minha doce Paris – Um ano na Cidade Luz (e do chocolate amargo), de Amy Thomas, e Extravirgindade, de Tom Miller, entre os estrangeiros. O investimento da empresa é ainda mais alto do que parece: criou também o selo Tapioquinha só para lançar livros para o público infantil, a começar pela coleção Doces palavras, de Tatiana Bianchini e Fanny Alcântara.

“O selo Tapioquinha é uma aposta na construção e interação com um novo leitor. Hoje está claro que os espaços infantis nas livrarias já são ocupados por livros de gastronomia. E em algumas saem os contadores de histórias e entram os chefs. Uma interação nova e promissora”, analisa José Carlos Souza Junior, editor da Tapioca. Entre suas estratégias para conquistar o mercado, está a venda não só em livrarias, mas também supermercados, lojas de conveniência e até porta a porta, contemplando desde títulos de apelo comercial a novos autores.

Uma das editoras brasileiras com atuação mais forte nesse mercado, a Senac São Paulo mira ainda mais longe. No momento, negocia venda de dois de seus títulos sobre técnicas de cozinha para o Canadá. “O Brasil precisa levar nossa literatura gastronômica para outros países. Precisamos entender melhor como fazer isso. Ainda compramos muito mais direitos autorais do que vendemos”, afirma a gerente da editora, Jeane Passos Santana.

LEIGOS E PROFISSIONAIS
Uma das ferramentas para isso, cita, é o projeto Brazilian Publishers, parceria entre a Câmara Brasileira do Livro e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos para incentivar as vendas de direitos autorais e livros nacionais no exterior. Para ter ideia, as vendas de livros de gastronomia do selo Senac Editoras (que engloba a Senac São Paulo) ultrapassam os 800 mil exemplares, o que representa 11,92% do catálogo. Nos últimos cinco anos, as vendas subiram 121,99% e, em 2012, foram lançados 35% mais livros que no ano anterior – as vendas neste período cresceram 62%. Um em cada cinco títulos que a editora lança anualmente é de gastronomia.

Panelinha – Receitas que funcionam, de Rita Lobo, é o livro de gastronomia mais vendido pela Senac São Paulo, com 30.540 exemplares. Entretanto, são as obras de referência e voltadas para formação profissional que somam o maior volume, principalmente Técnicas de cozinha profissional, Técnicas de confeitaria profissional e Chef profissional, cada uma com mais de 20 mil exemplares. “O leitor brasileiro, em se tratando de gastronomia, se divide em dois grupos: os leigos apaixonados e os profissionais, sendo que este último está em crescimento”, analisa Jeane.


TRÊS PERGUNTAS PARA
. José Carlos Souza Junior
. Editor da Tapioca
Quais são as peculiaridades do mercado editorial brasileiro no caso da gastronomia? Há como traçar um perfil do leitor brasileiro nessa área? É possível falar em tendências?
O interessante do mercado brasileiro é que existe um público já constituído, formado por profissionais da área, e também um público novo que adora cozinhar, comer fora, viajar, comprar equipamentos para cozinha etc. O leitor brasileiro abarca estudantes, profissionais e amantes da boa mesa. Acho, sim, possível falar em tendência, como a dos chefs celebridades, mas acho que vai passar logo. Entraremos, em seguida, em livros mais de referência, mais profundos.

A variedade de títulos de gastronomia nas livrarias brasileiras parece enorme. Realmente é? O que, na sua opinião, ainda falta editar no país?
De fato é enorme. Tem muito livro, muito produto impresso na China, por exemplo, sem cuidado algum. Falta editar livros mais sérios sobre a formação da culinária nacional. Temos poucos livros editados sobre este assunto.

Um dos próximos lançamentos da Tapioca é sobre crítica gastronômica. Faltam, na sua opinião, mais livros polêmicos de gastronomia no país? Essa veia polêmica tem o mesmo apelo comercial em relação a outros segmentos editoriais?
Certamente. Precisamos de um pensamento mais crítico e polêmico. Precisamos editar o que o leitor quer e não o que a editora quer que seja consumido. O leitor gosta de polêmica. E polêmica ajuda a vender livro. Livros da área de gastronomia, neste aspecto, têm o mesmo apelo que outros segmentos editoriais. Se pudesse, só publicaria livros polêmicos.


Cardápio bastante eclético
Publicação: 25/03/2013 04:00
A segmentação nas estantes de gastronomia das livrarias (e nas barras de navegação dos sites, aliás) já é uma realidade e, para André Boccato, proprietário da editora que leva seu sobrenome (outra especializada no tema), a variedade de perfis de leitores acompanha, de certa maneira, a oferta de títulos. “Existem públicos definidos: o profissional , o gourmand avançado e o iniciante que quer se divertir, além de outros nichos como saúde, turistas e gifts, sendo que esse último está em expansão. Se compararmos nossas livrarias às do exterior, ainda temos uma seção de gastronomia pequena. Falta editar livros históricos em fac-símile, mais livros sobre Brasil e tantos outros. Estamos trabalhando para suprir isso”, diz ele.

Para Pedro Almeida, diretor editorial da Lafonte (que publica títulos da Larousse), o mercado crescente para literatura gastronômica, que abrange títulos populares e outros nem tanto, não esconde o fato de que é também competitivo. “Esses livros custam pelo menos quatro vezes mais para serem produzidos, mas nem sempre podemos repassar todo o custo editorial na primeira edição, apostando na reimpressão do livro, que, dependendo do título, pode se tornar um livro de venda perene”, analisa. Em 10 anos, a editora lançou cerca de 200 títulos, sendo Mestre Cuca o mais vendido (100 mil exemplares).

Livros de Martha Stewart, celebridade norte-americana que se dedica a temas como culinária e estilo de vida, estão entre os próximos lançamentos da Lafonte. Outra editora que aposta pesado no ramo de chefs famosos e personalidades é a Editora Globo, que tem em seu catálogo Claude Troisgros, Faustão, Ana Maria Braga (a campeã, com 150 mil exemplares de Mais você 10 anos) e Jamie Oliver. A propósito, é este último um dos trunfos da editora, que lançará mês que vem Jamie Oliver – 15 minutos e pronto.

PRECAUÇÃO A ordem é não fechar o foco e tentar atrair o máximo possível de perfis diferentes. “Buscamos publicar títulos de assuntos variados, que atendam a diversos públicos. Dos vegetarianos aos que adoram carne, dos que sofrem de restrição alimentar aos que podem comer de tudo, dos que gostam de pratos tradicionais aos que procuram sabores exóticos”, resume Luciana Maia, diretora da Publifolha.

Títulos cujos temas são considerados específicos demais, continua ela, carecem de maior precaução: “Tendências vistas na Europa, por exemplo, demoram um tempo para chegar ao país porque é necessário aguardar o momento certo para apresentá-las ao mercado brasileiro”. No cardápio futuro da editora estão O livro da carne de porco, Pratos com baixo teor de gordura, Sobremesas deliciosas, Pratos para a família, Massas irresistíveis e Pratos vegetarianos.

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