Empresas como a Tapioca, que tem
inclusive o selo Tapioquinha, para o público infantil, e a Senac
Editoras apostam, cada vez mais, nos livros que ensinam delícias da boa
mesa
Eduardo Tristão Girão
Estado e Minas: 25/03/2013
Não
há como negar: a gastronomia tornou-se nicho importante no mercado
editorial brasileiro nos últimos anos. Seja circulando por livrarias ou
navegando pelos sites de comércio eletrônico, impressiona a variedade de
títulos, a maioria editados no país. De finas edições de bolso a
livrões para a mesa de centro, há de tudo um pouco, incluindo produções
especificamente pensadas para o público infantil. E algumas das
principais editoras que atuam nesse segmento confirmam: esse bom momento
continua e ainda há muito o que ser explorado.
Um dos
termômetros disso é a recente criação da Editora Tapioca, voltada
exclusivamente para o assunto. Em atividade desde novembro, ela já
lançou títulos como O dilema do vegano, de Roberto Juliano, e Gaia – O
lado oculto das plantas, de Gil Fellipe, entre os nacionais, e Minha
doce Paris – Um ano na Cidade Luz (e do chocolate amargo), de Amy
Thomas, e Extravirgindade, de Tom Miller, entre os estrangeiros. O
investimento da empresa é ainda mais alto do que parece: criou também o
selo Tapioquinha só para lançar livros para o público infantil, a
começar pela coleção Doces palavras, de Tatiana Bianchini e Fanny
Alcântara.
“O selo Tapioquinha é uma aposta na construção e
interação com um novo leitor. Hoje está claro que os espaços infantis
nas livrarias já são ocupados por livros de gastronomia. E em algumas
saem os contadores de histórias e entram os chefs. Uma interação nova e
promissora”, analisa José Carlos Souza Junior, editor da Tapioca. Entre
suas estratégias para conquistar o mercado, está a venda não só em
livrarias, mas também supermercados, lojas de conveniência e até porta a
porta, contemplando desde títulos de apelo comercial a novos autores.
Uma
das editoras brasileiras com atuação mais forte nesse mercado, a Senac
São Paulo mira ainda mais longe. No momento, negocia venda de dois de
seus títulos sobre técnicas de cozinha para o Canadá. “O Brasil precisa
levar nossa literatura gastronômica para outros países. Precisamos
entender melhor como fazer isso. Ainda compramos muito mais direitos
autorais do que vendemos”, afirma a gerente da editora, Jeane Passos
Santana.
LEIGOS E PROFISSIONAIS Uma das
ferramentas para isso, cita, é o projeto Brazilian Publishers, parceria
entre a Câmara Brasileira do Livro e a Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos para incentivar as vendas de direitos
autorais e livros nacionais no exterior. Para ter ideia, as vendas de
livros de gastronomia do selo Senac Editoras (que engloba a Senac São
Paulo) ultrapassam os 800 mil exemplares, o que representa 11,92% do
catálogo. Nos últimos cinco anos, as vendas subiram 121,99% e, em 2012,
foram lançados 35% mais livros que no ano anterior – as vendas neste
período cresceram 62%. Um em cada cinco títulos que a editora lança
anualmente é de gastronomia.
Panelinha – Receitas que funcionam,
de Rita Lobo, é o livro de gastronomia mais vendido pela Senac São
Paulo, com 30.540 exemplares. Entretanto, são as obras de referência e
voltadas para formação profissional que somam o maior volume,
principalmente Técnicas de cozinha profissional, Técnicas de confeitaria
profissional e Chef profissional, cada uma com mais de 20 mil
exemplares. “O leitor brasileiro, em se tratando de gastronomia, se
divide em dois grupos: os leigos apaixonados e os profissionais, sendo
que este último está em crescimento”, analisa Jeane.
TRÊS PERGUNTAS PARA
. José Carlos Souza Junior
. Editor da Tapioca
Quais
são as peculiaridades do mercado editorial brasileiro no caso da
gastronomia? Há como traçar um perfil do leitor brasileiro nessa área? É
possível falar em tendências?
O interessante do mercado
brasileiro é que existe um público já constituído, formado por
profissionais da área, e também um público novo que adora cozinhar,
comer fora, viajar, comprar equipamentos para cozinha etc. O leitor
brasileiro abarca estudantes, profissionais e amantes da boa mesa. Acho,
sim, possível falar em tendência, como a dos chefs celebridades, mas
acho que vai passar logo. Entraremos, em seguida, em livros mais de
referência, mais profundos.
A variedade de títulos de
gastronomia nas livrarias brasileiras parece enorme. Realmente é? O que,
na sua opinião, ainda falta editar no país?
De fato é
enorme. Tem muito livro, muito produto impresso na China, por exemplo,
sem cuidado algum. Falta editar livros mais sérios sobre a formação da
culinária nacional. Temos poucos livros editados sobre este assunto.
Um
dos próximos lançamentos da Tapioca é sobre crítica gastronômica.
Faltam, na sua opinião, mais livros polêmicos de gastronomia no país?
Essa veia polêmica tem o mesmo apelo comercial em relação a outros
segmentos editoriais?
Certamente. Precisamos de um
pensamento mais crítico e polêmico. Precisamos editar o que o leitor
quer e não o que a editora quer que seja consumido. O leitor gosta de
polêmica. E polêmica ajuda a vender livro. Livros da área de
gastronomia, neste aspecto, têm o mesmo apelo que outros segmentos
editoriais. Se pudesse, só publicaria livros polêmicos.
Cardápio bastante eclético
Publicação: 25/03/2013 04:00
A segmentação nas
estantes de gastronomia das livrarias (e nas barras de navegação dos
sites, aliás) já é uma realidade e, para André Boccato, proprietário da
editora que leva seu sobrenome (outra especializada no tema), a
variedade de perfis de leitores acompanha, de certa maneira, a oferta de
títulos. “Existem públicos definidos: o profissional , o gourmand
avançado e o iniciante que quer se divertir, além de outros nichos como
saúde, turistas e gifts, sendo que esse último está em expansão. Se
compararmos nossas livrarias às do exterior, ainda temos uma seção de
gastronomia pequena. Falta editar livros históricos em fac-símile, mais
livros sobre Brasil e tantos outros. Estamos trabalhando para suprir
isso”, diz ele.
Para Pedro Almeida, diretor editorial da Lafonte
(que publica títulos da Larousse), o mercado crescente para literatura
gastronômica, que abrange títulos populares e outros nem tanto, não
esconde o fato de que é também competitivo. “Esses livros custam pelo
menos quatro vezes mais para serem produzidos, mas nem sempre podemos
repassar todo o custo editorial na primeira edição, apostando na
reimpressão do livro, que, dependendo do título, pode se tornar um livro
de venda perene”, analisa. Em 10 anos, a editora lançou cerca de 200
títulos, sendo Mestre Cuca o mais vendido (100 mil exemplares).
Livros
de Martha Stewart, celebridade norte-americana que se dedica a temas
como culinária e estilo de vida, estão entre os próximos lançamentos da
Lafonte. Outra editora que aposta pesado no ramo de chefs famosos e
personalidades é a Editora Globo, que tem em seu catálogo Claude
Troisgros, Faustão, Ana Maria Braga (a campeã, com 150 mil exemplares de
Mais você 10 anos) e Jamie Oliver. A propósito, é este último um dos
trunfos da editora, que lançará mês que vem Jamie Oliver – 15 minutos e
pronto.
PRECAUÇÃO A ordem é não fechar o foco e
tentar atrair o máximo possível de perfis diferentes. “Buscamos publicar
títulos de assuntos variados, que atendam a diversos públicos. Dos
vegetarianos aos que adoram carne, dos que sofrem de restrição alimentar
aos que podem comer de tudo, dos que gostam de pratos tradicionais aos
que procuram sabores exóticos”, resume Luciana Maia, diretora da
Publifolha.
Títulos cujos temas são considerados específicos
demais, continua ela, carecem de maior precaução: “Tendências vistas na
Europa, por exemplo, demoram um tempo para chegar ao país porque é
necessário aguardar o momento certo para apresentá-las ao mercado
brasileiro”. No cardápio futuro da editora estão O livro da carne de
porco, Pratos com baixo teor de gordura, Sobremesas deliciosas, Pratos
para a família, Massas irresistíveis e Pratos vegetarianos.
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