segunda-feira, 25 de março de 2013

Mistura original (Quentin Tarantino)-Ana Clara Brant‏

Praticamente autodidata, diretor norte-americano Quentin Tarantino celebra 50 anos com carreira de sucesso. Seus filmes mesclam linguagens e gêneros e, ainda assim, são únicos 


Ana Clara Brant

Estado de Minas: 25/03/2013 

Durante aula ministrada no Festival de Cannes, em 2007, o diretor Quentin Tarantino deu a receita para se tornar um cineasta de sucesso: “Pegue uma câmera, arranje um equipamento, ainda que velho, e saia filmando. É a melhor escola de cinema que você pode ter. Você aprende a fazer. E aprende a filmar assim”. Prestes a completar 50 anos, depois de amanhã, Tarantino tem muito a celebrar. Ganhou recentemente o Oscar e o Globo de Ouro de melhor roteiro original por seu mais novo trabalho, Django livre, que chegou a ser indicado pela Academia de Hollywood como melhor filme. Não levou, mas provocou rebuliço, assim como todas as produções do cineasta.

“Sem dúvida, ele chega ao cinquentenário de vida como um diretor de proa e um dos principais nomes do cinema norte-americano. Não tem mais a ver com aquele cinema independente e barato, do começo da carreira; hoje está muito mais ligado ao cinema de grande orçamento, o que não é ruim. Ele é herdeiro de Godard (cineasta franco-suíço), que já tinha essa coisa de misturar várias artes, porém sem tanta sofisticação conceitual. Além de que, Tarantino é quase um autodidata e tem o cinema como referência primeira e quase única. Seus filmes têm a proeza de serem uma espécie de colagem de diversos filmes antigos e de várias vertentes, e ele ainda consegue ser original”, destaca o professor e crítico de cinema Rafael Ciccarini.

A grande virada na carreira veio em 1994, com Pulp fiction, que revolucionou a linguagem do cinema e foi um divisor de águas para Quentin Tarantino. Muitos críticos até consideram esse o filme mais importante do diretor. A produção apresenta uma ordem cronológica invertida, roteiro complexo com personagens verborrágicos, humor mordaz e muita menção à cultura pop e diálogos afinados, em que gângsteres conversam sobre sanduíche, televisão e massagem nos pés. Algumas dessas características se tornaram marcas registradas de Tarantino e se fizeram presentes em outros projetos.

Parte de sua obra pode ser conferida no Centro Cultural UFMG, onde está sendo realizada a Mostra Quentin Tarantino. Uma das curadoras, a estudante do curso de cinema de animação da universidade Carolina Macedo Campos acredita que o trabalho autoral do diretor seja um de seus principais méritos e que ele consegue ser único. Isso talvez explique um pouco do fascínio que exerce. “Sem falar na maneira como aborda um tema muito recorrente em seus longas, a violência. O sarcasmo como Tarantino mostra isso é como se ele dialogasse com o próprio público sobre a violência; mesmo com todo aquele exagero, ele faz você rir, em vez de ficar chocado”, opina.

MUNDO PARALELO
A violência nas produções do diretor não incomoda Rafael Ciccarini; ele não a vê como algo nocivo, porque ela faz parte do mundo paralelo criado pelo cineasta. “Não acredito que ele incite a violência; Tarantino não desrespeita o mundo real porque o mundo dele é particular, não colado à realidade e é quase uma recriação de um universo permeado pelo cinema”, analisa.

O crítico diz que existe certo endeusamento e idolatria exagerados em torno de Quentin Tarantino, mas deve-se reconhecer que ele tem grande talento e vitalidade. “Ele se tornou figura cult do cinema. É um cineasta muito interessante, mas, como qualquer um, tem suas limitações. Gostar dele é ser descolado. É praticamente impossível você ser um cinéfilo e não admirar o trabalho dele”, frisa.


SAIBA MAIS
Fama rápida

O diretor, roteirista, ator e produtor de cinema norte-americano Quentin Jerome Tarantino nasceu em Knoxville, Tennessee, em 27 de março de 1963. Alcançou a fama rapidamente no início da década de 1990 por seus roteiros não lineares, diálogos memoráveis e o uso de violência, que trouxeram vida nova ao padrão de filmes norte-americanos. É o mais famoso dos jovens diretores por trás da revolução de filmes independentes dos anos 1990, tornando-se conhecido pela sua verborragia, seu conhecimento enciclopédico de filmes, tanto populares, quanto os considerados “cinema de arte”. Dentre seus principais filmes como diretor estão Cães de aluguel, Pulp fiction, Jackie Brown, Kill Bill 1 e 2, Bastardos inglórios, e, o mais recente, Django livre.


Mostra Quentin Tarantino
No Centro Cultural UFMG, Praça da Estação, Avenida Santos Dumont, 174, esquina com Rua da Bahia. Amanhã, será exibido Kill Bill vol. 2; e, na quinta, Bastardos inglórios. As sessões, com entrada franca, têm início às 19h. Informações: (31) 3409-8284 e 3409-8290.
Feijoada à Tarantino

Publicação: 25/03/2013 04:00
Se um filme de Quentin Tarantino está prestes a estrear, o alvoroço entre os fãs é grande. A publicitária Carolina Cunha, de 28 anos, baixa o trailer, assiste às entrevistas com o elenco, lê todas as críticas relacionadas ao novo longa, compra antecipadamente as entradas e faz questão de ir à pré-estreia. “Sou muito fã. É o meu diretor favorito. Sei de cor várias falas e já vi todos os filmes dele, que, aliás, não me canso de rever”, avisa. Tudo começou quando, aos 14 anos, ela se deparou com Assassinos por natureza, que tem direção de Oliver Stone e roteiro de Tarantino. Dali para frente, a admiração cresceu. Para Carolina, o diferencial do cineasta norte-americano é que, além de ele se preocupar com todo o processo que envolve uma produção – roteiro, trilha, direção e inclusive atuando em alguns –, ele é apaixonado por cinema e faz questão de não esconder isso. “A impressão que me dá é que toda vez que Tarantino faz um filme ele quer nos mostrar: ‘Nossa, como amo cinema’. Eu o vejo como uma espécie de Clint Eastwood. Enquanto estiver vivo não vai parar de produzir. Acredito que ele sempre terá alguma coisa nova para apresentar, porque é extremamente criativo”, comenta.

O videomaker e músico Pedro Vasconcelos Costa, de 26, que além de admirador passou a estudar a obra do diretor, considera que o fato de Tarantino ter trabalhado em uma locadora e ter entrado em contato com todo tipo de cinema deve tê-lo influenciado a criar sua miscelânea, e de um jeito bem natural e interessante. “Dentro dessa feijoada que faz, Tarantino pega elementos de todos os gêneros e produz uma coisa única e com estética própria. E olha que a chance de dar errado é gigantesca, mas ele faz isso como se estivesse tricotando, como se fosse algo trivial”, ressalta. Baterista e vocalista de uma banda em que os integrantes são grandes fãs de Tarantino, por isso mesmo deram o nome de Cães de Aluguel ao grupo, Pedro acredita que seu ídolo ainda tem muito a contribuir para a indústria cinematográfica e que nunca vai deixar de ser original. “Ele é genial, para mim, está no começo da carreira, ainda está brincando de fazer cinema”, resume.

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