Praticamente autodidata, diretor
norte-americano Quentin Tarantino celebra 50 anos com carreira de
sucesso. Seus filmes mesclam linguagens e gêneros e, ainda assim, são
únicos
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 25/03/2013
Durante
aula ministrada no Festival de Cannes, em 2007, o diretor Quentin
Tarantino deu a receita para se tornar um cineasta de sucesso: “Pegue
uma câmera, arranje um equipamento, ainda que velho, e saia filmando. É a
melhor escola de cinema que você pode ter. Você aprende a fazer. E
aprende a filmar assim”. Prestes a completar 50 anos, depois de amanhã,
Tarantino tem muito a celebrar. Ganhou recentemente o Oscar e o Globo de
Ouro de melhor roteiro original por seu mais novo trabalho, Django
livre, que chegou a ser indicado pela Academia de Hollywood como melhor
filme. Não levou, mas provocou rebuliço, assim como todas as produções
do cineasta.
“Sem dúvida, ele chega ao cinquentenário de vida
como um diretor de proa e um dos principais nomes do cinema
norte-americano. Não tem mais a ver com aquele cinema independente e
barato, do começo da carreira; hoje está muito mais ligado ao cinema de
grande orçamento, o que não é ruim. Ele é herdeiro de Godard (cineasta
franco-suíço), que já tinha essa coisa de misturar várias artes, porém
sem tanta sofisticação conceitual. Além de que, Tarantino é quase um
autodidata e tem o cinema como referência primeira e quase única. Seus
filmes têm a proeza de serem uma espécie de colagem de diversos filmes
antigos e de várias vertentes, e ele ainda consegue ser original”,
destaca o professor e crítico de cinema Rafael Ciccarini.
A
grande virada na carreira veio em 1994, com Pulp fiction, que
revolucionou a linguagem do cinema e foi um divisor de águas para
Quentin Tarantino. Muitos críticos até consideram esse o filme mais
importante do diretor. A produção apresenta uma ordem cronológica
invertida, roteiro complexo com personagens verborrágicos, humor mordaz e
muita menção à cultura pop e diálogos afinados, em que gângsteres
conversam sobre sanduíche, televisão e massagem nos pés. Algumas dessas
características se tornaram marcas registradas de Tarantino e se fizeram
presentes em outros projetos.
Parte de sua obra pode ser
conferida no Centro Cultural UFMG, onde está sendo realizada a Mostra
Quentin Tarantino. Uma das curadoras, a estudante do curso de cinema de
animação da universidade Carolina Macedo Campos acredita que o trabalho
autoral do diretor seja um de seus principais méritos e que ele consegue
ser único. Isso talvez explique um pouco do fascínio que exerce. “Sem
falar na maneira como aborda um tema muito recorrente em seus longas, a
violência. O sarcasmo como Tarantino mostra isso é como se ele
dialogasse com o próprio público sobre a violência; mesmo com todo
aquele exagero, ele faz você rir, em vez de ficar chocado”, opina.
MUNDO PARALELO A
violência nas produções do diretor não incomoda Rafael Ciccarini; ele
não a vê como algo nocivo, porque ela faz parte do mundo paralelo criado
pelo cineasta. “Não acredito que ele incite a violência; Tarantino não
desrespeita o mundo real porque o mundo dele é particular, não colado à
realidade e é quase uma recriação de um universo permeado pelo cinema”,
analisa.
O crítico diz que existe certo endeusamento e idolatria
exagerados em torno de Quentin Tarantino, mas deve-se reconhecer que ele
tem grande talento e vitalidade. “Ele se tornou figura cult do cinema. É
um cineasta muito interessante, mas, como qualquer um, tem suas
limitações. Gostar dele é ser descolado. É praticamente impossível você
ser um cinéfilo e não admirar o trabalho dele”, frisa.
SAIBA MAIS
Fama rápida
O
diretor, roteirista, ator e produtor de cinema norte-americano Quentin
Jerome Tarantino nasceu em Knoxville, Tennessee, em 27 de março de 1963.
Alcançou a fama rapidamente no início da década de 1990 por seus
roteiros não lineares, diálogos memoráveis e o uso de violência, que
trouxeram vida nova ao padrão de filmes norte-americanos. É o mais
famoso dos jovens diretores por trás da revolução de filmes
independentes dos anos 1990, tornando-se conhecido pela sua verborragia,
seu conhecimento enciclopédico de filmes, tanto populares, quanto os
considerados “cinema de arte”. Dentre seus principais filmes como
diretor estão Cães de aluguel, Pulp fiction, Jackie Brown, Kill Bill 1 e
2, Bastardos inglórios, e, o mais recente, Django livre.
Mostra Quentin Tarantino
No
Centro Cultural UFMG, Praça da Estação, Avenida Santos Dumont, 174,
esquina com Rua da Bahia. Amanhã, será exibido Kill Bill vol. 2; e, na
quinta, Bastardos inglórios. As sessões, com entrada franca, têm início
às 19h. Informações: (31) 3409-8284 e 3409-8290.
Feijoada à Tarantino
Publicação: 25/03/2013 04:00
Se um filme de
Quentin Tarantino está prestes a estrear, o alvoroço entre os fãs é
grande. A publicitária Carolina Cunha, de 28 anos, baixa o trailer,
assiste às entrevistas com o elenco, lê todas as críticas relacionadas
ao novo longa, compra antecipadamente as entradas e faz questão de ir à
pré-estreia. “Sou muito fã. É o meu diretor favorito. Sei de cor várias
falas e já vi todos os filmes dele, que, aliás, não me canso de rever”,
avisa. Tudo começou quando, aos 14 anos, ela se deparou com Assassinos
por natureza, que tem direção de Oliver Stone e roteiro de Tarantino.
Dali para frente, a admiração cresceu. Para Carolina, o diferencial do
cineasta norte-americano é que, além de ele se preocupar com todo o
processo que envolve uma produção – roteiro, trilha, direção e inclusive
atuando em alguns –, ele é apaixonado por cinema e faz questão de não
esconder isso. “A impressão que me dá é que toda vez que Tarantino faz
um filme ele quer nos mostrar: ‘Nossa, como amo cinema’. Eu o vejo como
uma espécie de Clint Eastwood. Enquanto estiver vivo não vai parar de
produzir. Acredito que ele sempre terá alguma coisa nova para
apresentar, porque é extremamente criativo”, comenta.
O
videomaker e músico Pedro Vasconcelos Costa, de 26, que além de
admirador passou a estudar a obra do diretor, considera que o fato de
Tarantino ter trabalhado em uma locadora e ter entrado em contato com
todo tipo de cinema deve tê-lo influenciado a criar sua miscelânea, e de
um jeito bem natural e interessante. “Dentro dessa feijoada que faz,
Tarantino pega elementos de todos os gêneros e produz uma coisa única e
com estética própria. E olha que a chance de dar errado é gigantesca,
mas ele faz isso como se estivesse tricotando, como se fosse algo
trivial”, ressalta. Baterista e vocalista de uma banda em que os
integrantes são grandes fãs de Tarantino, por isso mesmo deram o nome de
Cães de Aluguel ao grupo, Pedro acredita que seu ídolo ainda tem muito a
contribuir para a indústria cinematográfica e que nunca vai deixar de
ser original. “Ele é genial, para mim, está no começo da carreira, ainda
está brincando de fazer cinema”, resume.
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