Os gastos
com um trabalhador que recebe salário de R$ 1,5 mil, por exemplo,
subirão mais de 40% com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
66/2012, conhecida como PEC das Domésticas. Nesse caso, somente os
custos com FGTS e hora-extra, que passam a ser direitos do empregado,
somarão R$ 620,88 a mais todo mês. A aprovação em segundo turno pelo
Senado, prevista para amanhã, é dada como certa e já deixa tanto patrões
quanto empregados preocupados. Há muitas dúvidas, especialmente em
relação aos encargos com quem dorme no local de serviço, e o medo do
desemprego. O Instituto Doméstica Legal estima que cerca de 800 mil
trabalhadores sejam demitidos.
RELAÇÕES TRABALHISTAS »
Conquista das domésticas vai pesar bolso dos patrões
Aprovação da PEC que estende à categoria benefícios como FGTS, hora-extra e adicional
noturno está prevista para ocorrer amanhã. Custo vai subir para garantir novos direitos
Carolina Lenoir e Tetê Monteiro
Estado de Minas: 25/03/2013
Dada
como certa a aprovação em segundo turno pelo Senado Federal, prevista
para ocorrer amanhã, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66/2012 ,
conhecida como PEC das Domésticas, que amplia à categoria direitos
previstos em lei para outros trabalhadores, deverá mudar as relações de
trabalho em boa parte das residências brasileiras. Patrões e empregados
estão às voltas com dúvidas sobre como colocar em prática medidas que,
devido às especificidades do trabalho doméstico, trarão desafios para
serem controlados e conduzidos. O aumento do custo para manter um
trabalhador do lar é a maior preocupação dos patrões, principalmente
para aqueles que precisam do funcionário para dormir. Levando em conta o
salário de R$ 1,5 mil, sem obrigações como INSS e vale-transporte, o
aumento para o empregador seria de R$ 620,88, ou 41% a mais. Já
incluindo todos os custos, em algumas situações, o peso no orçamento
pode aumentar até 33,6%.
Este é o caso das domésticas com
salário de R$ 1,5 mil. Antes da aprovação da PEC, o custo mensal, sem
provisões, para os empregadores é de R$ 1.846,99. Com a aprovação das
novas regras e levando em conta a necessidade de o patrão pagar duas
horas-extras diária, o custo sobe para R$ 2.467,87, quase 34% a mais.
Para quem não precisa pagar por hora-extra e no caso de a doméstica ter
um salário menor – R$ 1 mil –, o peso no bolso é mais suave: 6,96% (veja
quadro). Entretanto, em ambos exemplos, a elevação das custos supera a
inflação oficial do país (IPCA), que fechou 2012 com alta de 5,84%,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para
especialistas em direito do trabalho, a PEC representa um avanço na
garantia de direitos dos trabalhadores domésticos, mas prevê situações
que precisam ser regulamentadas para que não se tornem problemas para
ambos os lados. A categoria – que reúne cerca de 7 milhões de
brasileiros, dentre eles somente 2 milhões com carteira assinada – passa
a ter assegurados 16 benefícios já previstos aos demais trabalhadores
brasileiros contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), entre eles o recolhimento obrigatório do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS), o cumprimento de jornadas de oito horas diárias
e 44 horas semanais, e o pagamento de hora-extra e adicional noturno.
A
PEC das Domésticas beneficiará qualquer trabalhador contratado para
realizar atividades em ambiente residencial, ao menos três dias por
semana. Entre esses trabalhadores, há os que residem no local do emprego
e outros que dormem de segunda a sexta-feira. Atualmente, a legislação
prevê que o trabalho noturno é o realizado entre 22h e 5h. Para
advogados, o horário de descanso não deverá ser considerado como
adicional noturno, a menos que os trabalhadores sejam solicitados, mas
esse controle promete ser uma verdadeira dor de cabeça.
Marcos
Castro Baptista de Oliveira, advogado especializado em direito do
trabalho, sugere que patrões e empregados passem a anotar os horários
referentes à jornada de trabalho, mesmo que essa não seja uma obrigação
legal. Além disso, assinar um novo contrato com previsão dos horários e
seguí-lo à risca será fundamental. “De qualquer forma, o impacto
financeiro será muito grande”, diz. A ideia das anotações é
compartilhada pelo também advogado Alexandre de Almeida Gonçalves,
especialista em direito empresarial e concorrencial. “Lembra dos
caderninhos usados nas antigas mercearias? Patrão e empregado deverão
preenchê-lo diariamente com os horários de início e término da jornada.
Os dois assinam e essa prova dará mais segurança jurídica a ambos os
lados”.
JURISPRUDÊNCIA Outro ponto específico da atividade
doméstica e que pode gerar polêmica é em relação ao horário de almoço.
“A pausa terá que ser feita um pouco mais cedo ou mais tarde”, diz a
doutora em direito do trabalho Joselita Borba. Para ela, as definições
da jornada de trabalho e quem mora na residência dos patrões, vão acabar
na Justiça. “Não há como controlar as horas de trabalho desse
profissional. A jurisprudência vai ter que lidar com essas questões
específicas, ou seja, as decisões judiciais que se repetem e acabam por
consolidar uma situação.” O advogado Alexandre Gonçalves lembra que a
Lei 11.324/2006 não permite descontar alimentação, itens de higiene,
vestuário e moradia dos empregados domésticos.
Com muitas dúvidas
sobre as novas regra e três filhos pequenos, a administradora Sherley
Inácio Ferreira conta que a sua empregada pediu demissão e, mesmo assim,
ela também preferiu dispensar a babá, que cumpre aviso-prévio, e
colocar as crianças na escola. Vai esperar até que as novas regras sejam
consolidadas para definir se contrata ou não uma diarista. “Estou
insegura, sempre procurei fazer tudo certinho, mas não sei como fazer um
controle de jornada de trabalho, como comprovar os horários. Prefiro
não ter essa dor de cabeça. Acho que só vai compensar manter uma
empregada doméstica para quem realmente tem dinheiro.”
Por
outro lado, domésticas também estão receosas. A diarista Elaine Jesus
diz que não foi contratada como doméstica justamente por causa das novas
regras. “Tinha uma pessoa interessada em me contratar como fixa, mas
depois que soube da possibilidade de a PEC ser aprovada, voltou atrás.”
Já a babá Dina Coelho acredita que a aprovação da PEC pode estimular
ainda mais o aumento da informalidade. “Com certeza é justo (a
aprovação), mas há o medo de como isso vai ser colocado em prática.
Talvez poderia ter uma carga horária mais flexível. Hora extra e
adicional noturno são o que vão pegar mais.”
INSS menor para evitar demissão
Mario Avelino,
presidente do Instituto Doméstica Legal, estima que cerca de 800 mil
trabalhadores domésticos possam ser demitidos se a PEC for promulgada
sem a edição de uma Medida Provisória que desonere a folha de pagamento
do empregador doméstico, por meio, por exemplo, da redução da
contribuição do INSS do empregador doméstico de 12% para 4%, conforme
proposto no Projeto de Lei 7.082/2010, que tramita na Câmara dos
Deputados desde 2010. “A PEC é justa, mas precisa ser aprovada junto com
os projetos de lei que prevêem a redução dos custos do empregador
doméstico. Isso evitaria demissões e estimularia formalização de pelo
menos 1,3 milhão de empregados.”
Na agência de empregadas
domésticas Lar Feliz, em BH, a procura já diminuiu na semana passada, de
acordo com o diretor Alexandre Rocha.
A empresária Renata Albeny
pretende contar com a ajuda de um contador, como também de um advogado
para assegurar tanto à sua família quanto à empregada, que mora com eles
há um ano. Mãe de um menino de 4 anos e grávida do segundo filho, ela
afirma que terá que rever todo o orçamento para tentar continuar com a
trabalhadora. “Vou esperar a aprovação (da PEC) para discutir e nos
reorganizar, em termos financeiros e de de tempo.”
Para
Creuza Maria Oliveira, presidente da Federação Nacional dos
Trabalhadores Domésticos (Fenatrad), o número de dispensas deverá
aumentar nos primeiros meses, mas em seguida as contratações se
normalizarão. “A maior mudança deverá ser na diminuição da oferta para
empregadas que dormem no serviço”, diz. (CL/TM)
Nenhum comentário:
Postar um comentário