quarta-feira, 10 de abril de 2013

Haddad supera aprovação de Serra e Kassab em cem dias

folha de são paulo

Com 31% de ótimo ou bom, prefeito é mais bem avaliado que antecessores
Serra era aprovado por 20% e Kassab por 16% em começo de governo; desejo de mudança influencia resultado
DE SÃO PAULOO prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), completa cem dias de governo com avaliação melhor que a dos dois antecessores em período semelhante no cargo.
O desempenho do petista foi considerado ótimo ou bom por 31% dos moradores, segundo pesquisa Datafolha.
Outros 42% avaliaram Haddad como regular e 14%, como ruim ou péssimo. O instituto entrevistou 1.096 pessoas nos dias 4 e 5 deste mês.
Dentre os prefeitos em primeiro mandato a partir de Luiza Erundina, a performance em começo de governo só não supera a de Marta Suplicy (PT), que, em abril de 2001, teve 34% de ótimo ou bom.
Com cem dias, Gilberto Kassab (PSD) e José Serra (PSDB) tinham 16% e 20% de aprovação, respectivamente.
No segundo mandato, após ser reeleito, Kassab atingiu 45%, mas ele já estava havia mais de dois anos no cargo.
Entre os que mais aprovam a gestão do novo prefeito, destacam-se os segmentos menos escolarizados (38% de ótimo ou bom) e os mais pobres, com renda até dois salários mínimos (36%).
O índice de aprovação é mais baixo (23%) entre os que possuem ensino superior.
DESEJO DE MUDANÇA
O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, diz que parte da aprovação de Haddad pode ser explicada pelo desejo de mudança que dominou a última eleição.
Não por acaso, quase 9 entre 10 entrevistados declaram agora esperar que Haddad se caracterize por ações diferentes das de seu antecessor.
Ao sair da prefeitura, Kassab teve a segunda pior avaliação da história recente de São Paulo (42% de ruim/péssimo), só melhor que a de Celso Pitta, reprovado por 81% no fim do mandato, em 2000.
Prefeitos muito mal avaliados durante seus mandatos, diz Paulino, costumam deixar -involuntariamente- aos seus sucessores oposicionistas uma espécie de fôlego extra em relação ao ímpeto reivindicativo da população.
O mesmo fator também ajuda a explicar a aprovação de Marta no começo de seu mandato, ao substituir Pitta.

    49% avaliam que Haddad fez menos do que o esperado
    Realizações de prefeito frustram metade dos moradores, apesar da aprovação maior que a de seus antecessores
    Só 9% dos paulistanos se surpreenderam de forma positiva com as ações de petista nos primeiros três meses
    DE SÃO PAULOApesar da aprovação maior que a de antecessores com cem dias no cargo, Fernando Haddad (PT) frustrou quase metade dos moradores, que esperava mais realizações no início de governo.
    A pesquisa Datafolha mostra que 49% consideram que ele fez até agora menos do que era esperado que fizesse.
    Apenas 9% dos paulistanos se surpreenderam positivamente com as ações do prefeito petista, considerando que ele fez pela cidade mais do que era esperado.
    Outros 30% afirmam que Haddad fez pela capital paulista aquilo que se esperava.
    No mesmo período de seu governo, José Serra (PSDB) surpreendeu positivamente só 5% dos entrevistados pelo instituto Datafolha, em 2005.
    O início de Serra frustrava 70% dos paulistanos, que consideraram que ele fazia menos do que era esperado.
    SAÚDE
    Questionados sobre aquilo que Fernando Haddad podia ter feito e não fez em seus primeiros três meses de governo, 27% dos entrevistados pelo Datafolha deram espontaneamente respostas relacionadas com a saúde.
    Por exemplo, a contratação de mais médicos (13%), a diminuição do tempo de espera para os exames e as consultas (4%) e a melhoria no atendimento (4%).
    Neste começo de governo, Haddad iniciou a implantação da Rede Hora Certa e lançou mutirão para reduzir filas, mas voltou atrás no discurso de não expandir convênios com organizações sociais -tema bastante explorado na última campanha.
    Assuntos ligados aos transportes somaram 23% das respostas sobre aquilo que Haddad poderia ter feito e não fez.
    O Bilhete Único Mensal foi uma das principais bandeiras de campanha do petista. O benefício, entretanto, só deve começar a valer a partir de novembro deste ano.
    OUTRAS ÁREAS
    Depois de saúde e transporte, aparecem assuntos ligados à infraestrutura, com 19% das citações.
    O quesito "combate a enchentes" foi citado por somente 5% dos entrevistados, apesar de este início de 2013 ter sido marcado por fortes chuvas na cidade.
    A melhora da saúde ainda é a principal reivindicação da população, com 36%.
    Foi assim na última campanha eleitoral e também na pesquisa dos cem dias de Serra, quando 43% diziam que saúde deveria ser prioridade.
    Sobre as aspirações dirigidas a Serra e Haddad em início de gestão, a principal diferença é no combate ao desemprego. Se, em 2005, 11% diziam que o prefeito deveria ajudar nesse tema, atualmente somente 2% têm essa mesma reivindicação.

      EM NEGOCIAÇÃO
      Prefeito quer novo índice para dívida até junho
      O prefeito Fernando Haddad (PT) disse ontem que quer verba federal para realizar obras que estão no plano de metas de sua gestão. Entre outras fontes de recursos, ele mira a renegociação da dívida do município com a União. Hoje, a dívida é corrigida pelo IGP-DI, com taxa de juros de 9%. "Pretendemos até junho deste ano aprovar a lei que troca o indexador de nossa dívida", afirmou.

      Para entrevistados, prefeito é 'moderno'
      DE SÃO PAULOMilitante do Partido dos Trabalhadores desde que frequentava o curso de direito na USP, o prefeito Fernando Haddad ainda tem de provar para boa parte dos paulistanos que é capaz de pegar no pesado no trabalho.
      Se 45% dos entrevistados pelo Datafolha disseram que ele "trabalha muito", para 40%, Haddad "trabalha pouco" na prefeitura.
      Esse é o ponto fraco no perfil em geral generoso que os paulistanos fizeram do novo prefeito. Mas, podia ser pior.
      Em 2005, avaliando os primeiros cem dias do prefeito José Serra (PSDB), 59% dos entrevistados acharam que ele "trabalhava pouco".
      Na época, apenas 27% consideravam que Serra "trabalhava muito".
      MODERNO
      Para 82%, Haddad é "moderno", 81% consideram-no "simpático" e 78% veem-no como "muito inteligente".
      Sobre Serra, nos primeiros três meses de governo do tucano, 60% disseram que ele era "moderno", 62% que era "simpático" e 77% disseram que era "muito inteligente".
      Mas a lua de mel dos paulistanos com Haddad vai além desses percentuais.
      A maioria dos entrevistados acha que o petista "prefere trabalhar em equipe" (73%) e que o prefeito é humilde (71%).
      Até no quesito "sinceridade" Haddad vai bem, se comparado com Serra. Nada menos do que 59% dos paulistanos avaliam-no como "sincero". Apenas 48% diziam o mesmo de Serra no início de sua gestão na prefeitura.
      QUESTÃO DE CLASSE
      A pesquisa mostra ainda uma divisão de opinião sobre o tratamento que o prefeito dá à população de acordo com sua faixa de renda.
      Para 37% dos paulistanos, o prefeito petista respeita mais os pobres (o que sempre foi uma bandeira defendida pelo partido). Porém, outros 35% dos entrevistados pelo Datafolha dizem que ele respeita mais os ricos.
      Apenas 6% dos entrevistados veem Haddad como um prefeito que atende da mesma forma interesses de ricos e pobres na sua gestão.

        ANÁLISE
        Prioridades da gestão petista vão definir as avaliações futuras
        MAURO PAULINODIRETOR GERAL DO DATAFOLHAALESSANDRO JANONIDIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHAA aprovação acima da média do petista Fernando Haddad nos simbólicos cem primeiros dias de governo, assim como ocorreu com sua colega de partido Marta Suplicy na década passada, assume aspecto positivo quando se focaliza não apenas a aprovação, mas também o extremo oposto -o patamar de reprovação.
        Haddad é um dos menos rejeitados em início de mandato. A explicação não se limita à sua base eleitoral. Apesar da taxa de popularidade ser próxima à de preferência pelo PT na população, a aprovação a Haddad entre os que se dizem petistas não é majoritária.
        A maioria dos entrevistados revela certo sentimento de esperança quanto ao cumprimento, mesmo que em parte, de algumas das promessas divulgadas recentemente em seu plano de metas.
        A expectativa na maior parcela do eleitorado é a de que Fernando Haddad, inclusive, supere o desempenho de seus antecessores.
        Mas nem tudo deve ser comemorado pelo prefeito. Metade dos paulistanos, por exemplo, acha que a atuação do petista esteve aquém do esperado para estes três primeiros meses de governo.
        Ações -principalmente nas áreas da saúde, transporte público e infraestrutura, especialmente no combate às enchentes- são cobranças frequentes entre os que foram ouvidos pelo Datafolha.
        Além disso, há um dado curioso na imagem do prefeito. Apesar de Haddad conseguir manter a aura de moderno, simpático e inteligente, conquistada ao longo da campanha, o petista passou a dividir a opinião da população em um ponto nevrálgico do imaginário paulistano.
        De modo diferente do que aconteceu no processo eleitoral, deixou de ser majoritário o índice dos que acham que o petista respeita mais os pobres.
        Numa cidade em que, apesar dos congestionamentos, apenas 18% costumam se deslocar para o trabalho com veículo particular, polêmicas como da inspeção veicular podem sinalizar que as prioridades da gestão estão voltadas para setores minoritários.
        A urgência com que a prefeitura responderá às principais demandas da periferia determinará as futuras avaliações do prefeito.

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