terça-feira, 30 de abril de 2013
MISTÉRIO » Isca humana para o caboclo-d'água Gustavo Werneck
Estado de Minas - 30/04/2013
Um cheque no valor de R$ 10 mil para quem fotografar a fera ou de R$ 1 mil para o corajoso que servir de isca para capturá-la. A proposta – séria – é da Associação dos Caçadores de Asssombração e Monstros de Mariana (Acam) que tenta, há mais de cinco anos, pôr fim ao mistério que ronda as águas do município de Barra Longa, na Zona da Mata, a 215 quilômetros de Belo Horizonte. Lenda para uns, realidade para outros, o certo mesmo é que a criatura chamada de caboclo-d’água se tornou, ao longo do tempo, a principal suspeita de matar bezerros, dizimar criações e atacar pessoas que se banhavam no Ribeirão do Carmo. O vice-presidente da Acam, Vicente Evangelista de Oliveira, conhecido como Bispo, adianta que o interessado em atrair o bicho deverá ficar seminu dentro de uma gaiola, durante um fim de semana inteiro. “De roupa não vale, tem que estar sem calça e sem camisa. Por isso damos preferência a homens adultos”, diz Vicente, que atua como chefe de segurança da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
A expectativa é de que a operação para capturar o caboclo-d’água ocorra em julho, quando as águas do Ribeirão do Carmo, que cortam Mariana e também Barra Longa, estiverem mais baixas. Durante um período de cheias, na época de chuvas fortes, os equipamentos instalados na região pela Acam, presidida pelo professor Milton Brigolini Neme, para detectar qualquer movimentos na mata, foram perdidos e as águas levaram todo o material gravado. “Continuamos a caçada, pois já houve muitos estragos, inclusive com ocorrência policial. Pode ser uma ariranha ou outro bicho, mas temos que resolver isso”, diz Vicente. Há dois anos, três rapazes, sem roupa, tomavam banho no Ribeirão do Carmo, quando um deles teve os testículos arrancados por uma mordida. O estranho ser faz lembrar a história do chupa-cabra, que, em meados da década de 1990, mexeu com o imaginário popular devido aos supostos ataques a animais em zonas rurais de Porto Rico, Nicarágua, Chile, México e Brasil.
TESTE A gaiola para tentar pegar o bicho já está pronta e os integrantes da Acam foram os primeiros a testá-la. Feita de metalon e à prova de ataques mais violentos, o equipamento, que mais parece uma jaula e tem uma portinha, tem 2 metros de altura por 2m de largura, permitindo que “a isca” fique de pé. “Tem que ser corajoso, macho mesmo, para ficar lá…”, brinca Vicente. Certamente, o candidato deverá ter boa saúde, pois, no inverno, à beira de um córrego, a temperatura cai muito na região. Se não se cuidar, em vez de pegar o bicho, poderá contrair, no mínimo, uma pneumonia. O anúncio já está disponível na internet e quem se dispuser pode ligar para (031) 3557-5083 ou 3559-1302.
Já foram muitas as caçadas em Barra Longa em busca do monstro que seria uma mistura de diversos animais – já falaram até em um mix de galinha, lagartixa e macaco. Segundo o editor do jornal O Espeto, de Mariana, Leandro Henrique dos Santos, que integra a Acam, a imagem mais próxima da misteriosa figura é o desenho feito pelo artista plástico Deivison Silvestre, a partir de 43 relatos. Nas expedições, que chegaram a reunir até 50 pessoas, foram usados objetos como binóculos, lanternas, GPS, corda e um aparelho que emite ondas sonoras com efeito paralisante. Os locais da aparição foram mapeados, mas, até hoje, todas as tentativas de decifrar o enigma foram por água abaixo.
SAIBA MAIS: LUGAR DE DESTAQUENa mitologia brasileira, o caboclo-d’água tem seu lugar de destaque ao longo do Rio São Francisco. Costuma assombrar pescadores e navegantes e, segundo a lenda, chega a virar ou afundar embarcações. Para espantar o monstro, os marujos do Velho Chico colocam na proa dos barcos as assustadoras carrancas. Outra alternativa é jogar fumo nas águas para acalmar os ânimos da criatura ou cravar facas no fundo de canoas, já que, dizem os barranqueiros, o aço afugenta manifestações sobrenaturais. Quem já viu – se viu mesmo – descreve o ser mítico como troncudo e musculoso, de pele cor de bronze e com um único e grande olho na testa. Portanto, se comparado com o desenho feito a partir de relatos de moradores de Barra Longa, de semelhante as duas assombrações só têm mesmo o nome.
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