Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 18/05/2013
Desde 2008, convites para feiras literárias não param de chegar à casa de Cristovão Tezza, catarinense radicado no Paraná. Há cinco anos, o romance Filho eterno (Record) lhe deu – de uma vez só – os prêmios Jabuti, Portugal Telecom, São Paulo de Literatura e da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Professor universitário até então, Tezza pôde se dedicar exclusivamente à literatura.
“Os prêmios e o sucesso do livro me abriram várias portas, inclusive lá fora. Publiquei em vários países. Como sabemos, isso é muito difícil de ocorrer com um brasileiro. Agora, sou livre para viajar para onde quiser e quando quiser, sem amarras”, conta Tezza. Entretanto, apesar da fama, Filho eterno é, para ele, apenas um livro a mais no conjunto de sua obra.
Com 14 títulos publicados e autor homenageado na edição deste ano da Feira do Livro de Porto Alegre, Tezza observa que, ultimamente, os prêmios literários ganharam relevância especial no Brasil, até porque deixaram de ser apenas ornamentais. “Além disso, multiplicaram-se os concursos de grande prestígio, que acabam por ser importantes referências da produção contemporânea – mesmo com eventuais equívocos, algo natural em qualquer premiação do mundo. É bom ter na cabeça: ganhar ou perder concurso não pode resumir o sentido da vida do escritor. Passei 20 anos perdendo, mas nem por isso deixei de escrever”, confessa o autor de Filho eterno.
Paris De Pernambuco para o mundo. Assim pode ser definida a carreira literária do médico e escritor Ronaldo Correia de Brito. Cearense radicado há vários anos no Recife, ele se projetou graças ao Prêmio São Paulo de Literatura, conquistado em 2009 com o romance Galileia (Alfaguara). Convites para eventos literários não param de chegar. “Difícil é arranjar tempo para atendê-los”, diz Ronaldo, que acaba de voltar de Paris, onde participou do 10º Salon Livres e Musiques.
Autor do volume de contos Faca, lançado também na França, Ronaldo diz que no Brasil há três ou quatro prêmios literários de grande repercussão. “Galileia estava fazendo uma boa carreira, mas o São Paulo de Literatura deu impulso às vendas e reforçou a campanha publicitária. Ganhei outros concursos importantes, fiquei como finalista de vários, mas nenhum deles teve tanto impacto”, revela.
Ganhar a edição do ano passado do Casa das Américas com o romance Domingos sem Deus foi muito importante para o mineiro Luiz Ruffato, radicado em São Paulo. “Isso coroou um projeto literário que me custou 15 anos de trabalho. O livro vai sair até dezembro em Cuba, e o prêmio guarda bastante prestígio na América espanhola, embora aqui no Brasil já não tenha mais tanta importância”, reconhece.
Minas Além da compensação financeira ao escritor, premiações ajudam a abrir portas de editoras e podem render espaço na mídia. Que o diga o mineiro Jeter Neves, que venceu o último Prêmio Minas Gerais de Literatura com o romance Vila Vermelho. O livro sai ainda este semestre pela Editora Record.
Até então, o autor, que mora em Belo Horizonte e dá aulas na PUC Minas, só conseguira lançar seus livros por selos menores. “Graças ao prêmio, o difícil percurso entre a criação e a edição do livro é superado. Sem ele, a história seria outra. Obra premiada significa queima de etapas para a editora, pois representa a escolha de um entre dezenas de títulos – tudo isso sobre o crivo de pareceristas”, explica Jeter. Ele escreveu Fratura exposta e Quadros para um oratório e também ganhou o Prêmio Cidade de Belo Horizonte.
Primeiro passo
Ganhar faz a diferença para quem está começando. André Zambaldi e Alex Sens venceram as duas últimas edições do Prêmio Governo de Minas Gerais na categoria jovem escritor. Para Zambaldi, professor de história em BH, a vitória lhe possibilitou concluir o primeiro romance, O sono de Morfeu, já enviado para algumas editoras. Para Alex Sens, ser premiado trouxe a certeza efetiva de estar no caminho certo. Até agosto, ele planeja concluir O frágil toque dos mutilados, seu primeiro romance.
Personagem da notícia
Stella Maris Rezende, escritora
O fenômeno
Mineira de Dores do Indaiá e radicada no Rio de Janeiro, Stella Maris Rezende (foto) conseguiu um feito inédito: no ano passado, faturou três prêmios Jabuti com a novela A mocinha do Mercado Central. Stella levou a estatueta de livro do ano e conquistou o 1º e o 2º lugares na categoria melhor obra infantojuvenil. “Minha carreira mudou muito. Agora, dou entrevista para jornais importantes e programas de TV, além de receber convites para participar de feiras literárias em todos os cantos”, diz Stella. Mas ela confessa: tem cuidado para o sucesso não lhe subir à cabeça. A conquista é um reconhecimento e tanto por seus 33 anos dedicados à escrita. “No entanto, isso não me paralisa e nem me deixa confortável. Continuo a escrever e a sonhar que teremos um país com milhões de leitores que não se contentam apenas com leituras de entretenimento”, diz.
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