sábado, 18 de maio de 2013

O mago do som(Naná Vasconcelos)-Eduardo Tristão Girão‏

Naná Vasconcelos usa pacote de salgadinhos para compor música em homenagem ao fogo. O CD 4 elementos traz pesquisas sonoras inusitadas e releitura de canção de Luiz Gonzaga 


Eduardo Tristão Girão

Estado de MInas: 18/05/2013 


O novo disco do percussionista Naná Vasconcelos se chama 4 elementos. Depois de resolver como representar musicalmente água, ar e terra, o artista conta, sem o menor receio, ter encontrado a solução para o fogo num supermercado. “Comprei um pacote de salgadinhos e reproduzi o som, amassando a embalagem e fazendo um assobiozinho”, revela. Apesar da aparente banalidade da situação, o álbum se destaca pela criatividade e pela pesquisa de fontes sonoras inusitadas.

Um dos resultados mais impressionantes obtidos por Naná não veio de instrumento musical ou de algum objeto. Na piscina de casa, tendo apenas as próprias mãos, ele conseguiu a façanha de registrar ritmo e melodia para a faixa Chorágua. Trata-se da continuação da pesquisa iniciada com a gravação da faixa Suíte das águas, de seu álbum anterior, Sinfonia e batuques (2011). Na época, Naná estava reformando sua residência. Hospedado próximo ao mar, no Recife (PE), habituou-se a ir à praia diariamente.

“Já sabia que dava para estudar e fazer muita coisa com a água. Tanto que agora a melodia vem dela, o que é muito delicado. Ao bater a mão na água, tenho todas as frequências sonoras. Coloquei cordas só para dar um clima e reforçar as notas da melodia”, explica o percussionista.

Além das mãos e da voz, ele usa caxixi, talking drum, moringa, triângulo, chocalho, gongo, tamborim, cabaça, conga, e, claro, berimbau. O disco foi gravado ao longo do ano passado no estúdio Carranca, na capital pernambucana, com produção do próprio Naná. São 13 faixas, com quatro vinhetas dedicadas ao fogo – o som é realmente bem próximo do verdadeiro.

A única faixa que não foi composta por ele é Légua tirana, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Ela ganhou versão benfeita, com camadas de percussão e o violoncelo executando a melodia juntamente com a voz do artista.

Coco “A água eu já sabia, o fogo resolvi com o pacote de salgadinho. E a terra somos nós, terráqueos, que podemos fazer música com o corpo. Para o ar, imaginei o que seria a Astronáfrica, com astronautas africanos dançando coco nos anéis de Saturno”, explica Naná.

Tal ideia rendeu duas faixas: a instrumental Astronáfrica (com clima de grandiosidade conferido pelo teclado) e Coco lunar, um coco alegre cujo enredo amoroso envolve a estrela Dalva e o planeta Vênus.

Naná homenageia dois artistas em seu novo disco: Clementina de Jesus, em Clementina, e Airto Moreira, em Berimbando. Em ambas ele usa o berimbau, com a diferença de que, na segunda, o percussionista deixa de cantar para se concentrar num bom solo com o instrumento.

Detalhe: Clementina foi escrita pelo artista durante visita à Ilha de Gorée, na costa do Senegal, onde funcionou um dos maiores centros de comércio de escravos do continente africano.

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