sábado, 18 de maio de 2013

Retrato musical dos anos 80 - Mariana Peixoto‏


Mariana Peixoto

Estado de MInas: 18/05/2013 


Seis sebos brasileiros têm à venda o livro Dias de luta – O rock e o Brasil dos anos 80, do jornalista paulista Ricardo Alexandre. Publicada originalmente em 2002 pela DBA Editora, a obra de pouco mais de 400 páginas pode ser encontrada por preços que variam de R$ 174 a R$ 550. A valorização se justifica não só pelo livro ter se tornado documento definitivo do período, como também porque a primeira edição, única, está esgotada. Até muito recentemente, diga-se de passagem. Acabou de ganhar reedição, revista e atualizada pelo autor, pela Arquipélago Editorial.

Dias de luta foi o gatilho de uma revisão do rock brasileiro dos anos 1980, período amado e odiado em igual proporção. Depois deste, houve uma série de outras narrativas, principalmente biográficas, sobre os protagonistas do período. Houve ainda a exploração, um tanto exagerada, dos atores da época, através de revivals no palco e em discos. No entanto, nenhum outro documento superou o de Ricardo Alexandre, que virou referência para estudos posteriores.

O livro é uma grande reportagem, escrita com leveza e amarração impecáveis, e com boa base analítica que vai além do cenário da música pop, abrangendo aspectos político-econômicos do final da década de 1970 até a virada para a de 90. Além de Rio, São Paulo e Brasília, os principais cenários do período, o autor vai a outras praças, incluindo a gaúcha e a mineira. Papéis importantes são dados ao Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho. Mas é o RPM o grande ator dessa história, pois personificou, como nenhum outro grupo, os dois extremos: o underground e o mainstream.

DIAS DE LUTA
De Ricardo Alexandre
Arquipélago Editorial, 440 páginas, R$ 39,90


Três perguntas para...
RICARDO ALEXANDRE
JORNALISTA E PESQUISADOR

No prefácio da reedição você comenta da opção por não mudar o texto original. Porém, admite que ao reler teve “ímpeto de reescrever” muita coisa, passados 11 anos. Que exemplos daria?

Dois aspectos são bem claros. Um é o estilo de escrever. Se você comparar com o do Simonal (Nem vem que não tem: a vida e o veneno de Wilson Simonal, vencedor do Jabuti de melhor biografia em 2010), vai ver que é bem diferente, apesar de ser a mesma pessoal. Com o tempo, o jornalismo te dá maturidade que tem a ver com cortar arestas, trazer um texto mais seco, elegante. O de Dias de luta é muito apaixonado, feito por um cara de 20 e poucos anos. Um outro caso já notado por alguns críticos é sobre o antagonismo da turma do rock com a da MPB. Concordo. Acho que, se fosse escrever o livro hoje, pesaria muito menos a mão nessa leitura, mesmo que ela fizesse muito sentido na virada dos anos 2000. Ou seja, meu livro é um retrato dos anos 80 com a lente que usava em 2002.

Depois dos 80, vai contar a história dos anos 90?

Os anos 80 foram o grande momento do poder jovem, uma confluência de ingenuidade e mercado. Havia a perspectiva de que voltasse a acontecer, mas não mais, pois hoje a informação está muito mais solta, e a sociedade mais cínica e veloz. Uma continuação de Dias de luta parte do pressuposto de um narrador muito longe da cena, um observador casual. Nos anos 1990 eu já trabalhava como profissional, tinha uma perspectiva diferente. Na negociação para o relançamento de Dias de luta, veio a ideia de um novo livro, Cheguei bem a tempo de ver o palco desabar. A partir deste mês e até novembro, serão publicados em blog (que o leitor será remetido a partir do site www.ricardoalexandre.com) dois capítulos por semana. Serão 50 ao todo e, ao final, será publicado o livro físico.

Qual será o período coberto pelo novo trabalho?

O período é imediatamente posterior ao de Dias de luta e a ideia é ir até 2003, 2005, com o afundamento do mercado fonográfico. O tom é menos de reportagem e mais de crônica, memória, artigo, algo absolutamente pessoal. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário