sexta-feira, 10 de maio de 2013

DISCO » Interpretações no tom exato Bossuet Alvim‏


Bossuet Alvim

Estado de Minas: 10/05/2013 



Angela Ro Ro reúne jovens cantores no disco Coitadinha bem feito


Lá se vão 34 anos desde que Angela Ro Ro surgiu no cenário musical brasileiro com seu début homônimo, mas as décadas de carreira transgressora ainda não compreendem um tributo, no sentido formal da palavra. O que o selo Joia Moderna propõe se encaixa melhor à postura de contraventora cultural que a artista conseguiu manter por meio dos anos de palco e estúdio: um álbum com regravações das suas pérolas de compositora em vozes masculinas.

A intenção de Coitadinha bem feito, que reúne interpretações de 17 jovens cantores para as canções de Ro Ro, é passar longe da metodologia de homenagear artistas como se eles já tivessem alcançado o ápice. "Ângela está por aí, vivendo, atuando e compondo. Era necessário evitar 'imitações’", reflete o crítico de música Marcus Preto, que assina a direção artística do projeto. A preocupação é louvável, uma vez que a obra da artista de 63 anos sempre teve como força motriz a veia autobiográfica. "Ninguém neste mundo é tão bom em ser Ângela Ro Ro como ela própria", observa Preto.

Para dar tratamento masculino às baladas melancólicas e blues apaixonados, foram escalados músicos com obras de cunho autoral como Thiago Pethit (que canta Mares da Espanha), Romulo Fróes (Só nos resta viver) e Leo Cavalcanti (Came e case). Ousadia nas variações de estilo também ajudam a montar uma teia de releituras para as faixas da carioca, que ganharam flertes eletrônicos na versão de Tango da bronquite, por Kiko Dinucci, e nos clássicos Amor meu grande amor, consagrada por Cazuza e refeita por Lucas Santtana, ao lado de Fogueira, canção já cantada por Maria Bethânia e agora revista por Rodrigo Campos.

Outros gêneros explorados no álbum, para além das previsíveis adaptações em rock, incluem o rap de Rael (Perdoai-os, pai) e a visão oitentista de Adriano Cintra, ex-Cansei de Ser Sexy e atual integrante do Madrid, que refez a dramática Gota de sangue, a ponto de soar como um hit do Depeche Mode.

A faixa-título tem gravação simpática de Otto, mas perde para versões que mantêm os ares melancólicos de Ro Ro; como Abre o coração, por Gui Amabis, A mim e a mais ninguém, em interpretação de Juliano Gauche, quase similar à original; e Me acalmo danando, que ganhou rendição ao piano por Helio Flanders, do Vanguart. Pela comparação, é possível que esteja na similaridade o segredo. Como enfatizado pelo diretor artístico do disco, só Angela consegue dar o tom exato das interpretações que escreveu e eternizou. Coitadinha bem feito chega às lojas pelo selo Joia Rara e já pode ser baixado, na íntegra, no site oficial do projeto: www.coitadinhabemfeito.com.br.

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