As acusações são todas absurdas
DEPUTADO DIZ TER RENDA PARA JUSTIFICAR DESPESAS E REJEITA SUSPEITAS SOBRE RELAÇÃO COM FORNECEDORES DA SECRETARIA DA EDUCAÇÃOFERNANDO RODRIGUESDE BRASÍLIAO deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) afirma ter renda suficiente para pagar suas despesas pessoais e justificar a evolução de seu patrimônio, e nega ter recebido vantagens de empresas que fizeram negócios com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo na época em que ele chefiou a pasta.
Chalita foi secretário de 2003 a 2006, no segundo mandato do governador Geraldo Alckmin (PSDB). O Ministério Público Estadual e a Procuradoria-Geral da República investigam desde o ano passado suspeitas de que empresas pagaram a reforma de um apartamento de Chalita e outras despesas pessoais.
Em entrevista à Folha e ao UOL, ele considerou as acusações "absurdas", disse ter entregue ao Ministério Público comprovantes de que pagou suas despesas e prometeu autorizar à Folha acesso aos documentos. A seguir, trechos da sua entrevista.
Gabriel Chalita - Disseram que eu tinha dinheiro nos Estados Unidos, na China, em Luxemburgo. Nunca tive dinheiro fora do Brasil. As acusações são todas absurdas.
A compra do seu apartamento é compatível com a sua renda?
Claro. O que foi entregue agora na Procuradoria-Geral da República tem todas as empresas para as quais eu trabalhei. Mostra o quanto eu vendi de livro ano passado. Quanto eu ganhei a cada ano vendendo palestras ou não.
Dois empresários que forneceram equipamentos para seu apartamento dizem ter sido pagos por uma empresa chamada Interactive, que fornecia para a secretaria na época em que o sr. era o secretário.
Nunca existiu. A Interactive nunca forneceu para a Secretaria da Educação. Nunca. Eles misturam dados de outras empresas. Eu sempre tive dinheiro para pagar reformas no apartamento. Contratei dois arquitetos. Uma administradora fez toda a reforma. Tenho recibos dessa época.
Um empresário chamado Cesar Valverde, dono da empresa que equipou seu apartamento, relatou ao Ministério Público ter recebido o equivalente a US$ 80 mil da Interactive.
Também nunca forneceu para a Secretaria da Educação. Esse empresário disse que levaria nota fiscal, comprovaria como é que foi, e não levou nada disso. Eu não conheço esse Valverde.
Mas e o grupo do setor de ensino COC não tinha contratos com a Secretaria de Educação?
Nenhum contrato com a Secretaria de Educação. O COC vendeu para a FDE [Fundação para o Desenvolvimento da Educação], uma fundação que tem um presidente à parte, que é independente.
Mas a FDE tem uma relação direta com a secretaria.
Não. A FDE tem uma parceria com a secretaria.
No caso de Cesar Valverde, o sr. tem como comprovar que pagou para ele próprio?
Tenho. Está no processo que a gente está encaminhando ao Ministério Público. Eu guardei alguns recibos. Os recibos dos arquitetos. Os arquitetos vão falar como os pagamentos foram feitos.
Poderia mostrar esses valores no extrato bancário?
Não tenho problema em abrir essas coisas. Tudo está dentro da minha evolução patrimonial. Eu vendi em livros no ano passado R$ 1,8 milhão, com editoras que não têm nada a ver com secretaria. Graças a Deus sou um autor muito bem-sucedido. Eu não iria me queimar para ganhar um presentinho de uma automação de uma casa.
Outro empresário, Chaim Zaher, dono do grupo COC, comprou 34 mil exemplares de um livro seu chamado "Pedagogia do Amor". O sr. intermediou essa venda específica?
O Chaim é um grande empresário. Ficamos amigos. Dei várias palestras para o grupo dele. O Grupo COC é um grupo muito grande da área privada. Eu nem sabia de fornecimentos para a FDE.
Ele forneceu softwares?
Não foi o grupo que mais vendeu para a FDE. Mas ele vendia antes de eu ser secretario, no tempo em que fui secretário, mas para a FDE.
Se aconteceu algo, o problema seria da FDE?
Seria da FDE. Mas a FDE era muito zelosa. Houve um funcionário da FDE que deu uma entrevista dizendo que a ele foi oferecido dinheiro para que sustentasse as informações que Roberto Grobman [ex-colaborador do COC e denunciante] estava prestando [ao Ministério Público]. Diz que se encontrou com [o deputado] Walter Feldman e que foi oferecido R$ 500 mil para que ele confirmasse aquelas afirmações.
Eu saí do PSDB brigado com o [ex-governador José] Serra. O Serra passou o governo dele virando a secretaria [de Educação] de ponta cabeça para ver que tipo de irregularidades havia contra mim. Se houvesse irregularidades, ele teria mostrado isso.
O sr. cita as acusações como parte de um dossiê. A quem o sr. atribui essas acusações?
O Ivo Patarra [que trabalhou na campanha de Serra] chama de dossiê, porque ele encaminha ao Ministério Público o e-mail do dossiê que ele montou, dizendo "aí vai o dossiê Chalita". Isso está dentro do processo no Ministério Público. Ele é um marqueteiro que estava trabalhando na campanha do Serra, recebendo pelo Feldman também.
Foi na campanha de Serra a prefeito de São Paulo em 2012?
Exatamente, em 2012. Ali que as coisas começaram.
Qual a responsabilidade de Serra sobre essa ação?
O Serra disse que não conhecia essas pessoas, que ele não sabe de nada disso. O Roberto [Grobman] disse que esteve com o Serra, o Milton [Leme, ex-funcionário da FDE], que é uma das pessoas que falou que teria sido oferecido a ele R$ 500 mil, diz que esteve com o Serra.
Como foi a oferta do dinheiro?
Milton Leme foi um diretor da FDE. Esteve com Feldman. Esteve com Patarra. E Roberto disse a ele que os problemas financeiros dele estariam resolvidos. Ele tinha uma proposta para fazer para ele de R$ 500 mil. Se Serra não teve responsabilidade, não sei. Pode ser que ele não soubesse.
O sr. está eximindo José Serra?
Não quero ser irresponsável e dizer: foi Serra que mandou fazer. Não tenho provas e não farei uma acusação leviana. Agora, que foi da campanha dele, foi.
OUTRO LADO
Integrantes da campanha de Serra em 2012 negam oferta de dinheiro
DE SÃO PAULOO deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP) e o jornalista Ivo Patarra, que trabalharam na campanha do tucano José Serra à Prefeitura de São Paulo em 2012, negam que tenha havido oferta de dinheiro para que Roberto Grobman ou Milton Leme sustentassem acusações contra Gabriel Chalita, adversário de Serra na disputa eleitoral.Feldman diz que foi procurado por Grobman, que trazia acusações sobre Chalita. Segundo o deputado, ele respondeu que não usaria as denúncias na campanha e recomendou a Grobman que procurasse o Ministério Público.
"Tanto é verdade que na campanha eleitoral nada apareceu [contra Chalita]", disse.
Segundo o tucano, Grobman lhe apresentou Milton Leme para mostrar que as denúncias não eram uma questão pessoal. Feldman afirma que a versão de que houve oferta de dinheiro a Milton Leme é uma "armação".
"Esse moço, depois nós soubemos, foi procurado pelo [Gabriel] Chalita para armar uma informação de que nós teríamos oferecido dinheiro", diz o tucano.
O jornalista Ivo Patarra, que diz ter acompanhando o depoimento de Grobman ao Ministério Público, afirma que a versão de que houve oferta de dinheiro é uma "invenção".
Patarra também nega que tenha construído um dossiê contra Chalita. "Não tem dossiê nenhum", afirma.
O advogado de Milton Leme, Paulo Morais, diz que seu cliente sustenta que recebeu uma ligação de Grobman, que teria oferecido R$ 500 mil para depor contra Chalita e indicado que o dinheiro viria das pessoas com quem haviam se encontrado --Feldman e Patarra. Leme afirma que recusou a proposta.
O ex-governador José Serra não respondeu até a conclusão desta edição. Em fevereiro, o tucano disse que não conhecia os fatos nem as pessoas citadas --Roberto Grobman e Milton Leme.
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