EDITORIAL »
As ruas e os gabinetes
Estado de Minas: 20/06/2013
Aprovação do "cura gay" revela que há ainda muitas manifestações a serem feitas
As manifestações —
que ontem já haviam chegado a 12 capitais e a algumas cidades do
interior, com fortes repercussões externas — tendem a tomar praticamente
todo o país hoje, proclamado Dia Nacional de Lutas. Salvo episódios
isolados de radicalismo, com vândalos destruindo patrimônios públicos e
privados e enfrentando a polícia, os protestos têm sido pacíficos até
agora, mantendo-se dentro da normalidade democrática. É a única forma de
se legitimarem, pois o pleno exercício da cidadania implica observância
de direitos e deveres.
Ainda que sem liderança e pauta de reivindicações definidas, os jovens não tomaram as ruas em vão. Há razões de sobra para a marcha dos insatisfeitos. E, de fato, cabe ao povo exercer a soberania quando as respostas do Estado a seus anseios ficam a dever. Mas o movimento popular está obrigado a deixar legado positivo. Do contrário, a velha política prevalecerá. Portanto, permitir que oportunistas estraguem a festa da democracia seria abrir as portas ao retrocesso. Para não dar vez ao atraso, cautela e ordem são palavras-chaves para os manifestantes.
Das forças de segurança, formadas por profissionais treinados para situações do gênero, não se espera outra coisa. É imprescindível que estejam preparadas para, em caso de terem de conter as massas, privarem-se de recorrer à truculência. O uso do instrumental de repressão — cassetete, spray de pimenta, gás lacrimogêneo e balas de borracha — pode desencadear reações adversas e, em vez de apresentar efeito moderador, incendiar ainda mais os ânimos radicalizados.
Sem exaltações de lado a lado, o recado será dado. À classe política, que não tem correspondido à representatividade a ela conferida pelo povo, caberá captar e atender sem demora os anseios populares, sobretudo melhorando a qualidade dos serviços públicos. Por sinal, até aqui, as autoridades têm sido a parte mais falha em todo o processo. Agem como autistas, alheias ao que se passa em volta. Exemplar dessa apatia foi a aprovação na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, terça-feira, do projeto de decreto legislativo ironicamente denominado "cura gay".
A aberração pretende derrubar resolução do Conselho Federal de Psicologia que impede os psicólogos de tratar homossexuais como vítimas de "desordem psíquica". Felizmente, o projeto terá de passar ainda por duas outras comissões da Casa, antes de seguir para o Senado. Lembre-se de que apenas a escolha do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), de repetidas declarações preconceituosas, para presidir a CDHM já havia bastado para levar o povo às ruas. Se a campanha "Fora, Feliciano" fracassou, agora, com a multidão multiplicada nos protestos da vez, a prevalência da homofobia foi provocação desmedida — justamente o que mais precisa ser evitado no delicado momento nacional.
Ainda que sem liderança e pauta de reivindicações definidas, os jovens não tomaram as ruas em vão. Há razões de sobra para a marcha dos insatisfeitos. E, de fato, cabe ao povo exercer a soberania quando as respostas do Estado a seus anseios ficam a dever. Mas o movimento popular está obrigado a deixar legado positivo. Do contrário, a velha política prevalecerá. Portanto, permitir que oportunistas estraguem a festa da democracia seria abrir as portas ao retrocesso. Para não dar vez ao atraso, cautela e ordem são palavras-chaves para os manifestantes.
Das forças de segurança, formadas por profissionais treinados para situações do gênero, não se espera outra coisa. É imprescindível que estejam preparadas para, em caso de terem de conter as massas, privarem-se de recorrer à truculência. O uso do instrumental de repressão — cassetete, spray de pimenta, gás lacrimogêneo e balas de borracha — pode desencadear reações adversas e, em vez de apresentar efeito moderador, incendiar ainda mais os ânimos radicalizados.
Sem exaltações de lado a lado, o recado será dado. À classe política, que não tem correspondido à representatividade a ela conferida pelo povo, caberá captar e atender sem demora os anseios populares, sobretudo melhorando a qualidade dos serviços públicos. Por sinal, até aqui, as autoridades têm sido a parte mais falha em todo o processo. Agem como autistas, alheias ao que se passa em volta. Exemplar dessa apatia foi a aprovação na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, terça-feira, do projeto de decreto legislativo ironicamente denominado "cura gay".
A aberração pretende derrubar resolução do Conselho Federal de Psicologia que impede os psicólogos de tratar homossexuais como vítimas de "desordem psíquica". Felizmente, o projeto terá de passar ainda por duas outras comissões da Casa, antes de seguir para o Senado. Lembre-se de que apenas a escolha do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), de repetidas declarações preconceituosas, para presidir a CDHM já havia bastado para levar o povo às ruas. Se a campanha "Fora, Feliciano" fracassou, agora, com a multidão multiplicada nos protestos da vez, a prevalência da homofobia foi provocação desmedida — justamente o que mais precisa ser evitado no delicado momento nacional.
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