quinta-feira, 20 de junho de 2013

Encolheram o CD

folha de são paulo
Como fez Roberto Carlos com "Esse Cara Sou Eu", mais músicos brasileiros gravam seus trabalhos em um formato mais enxuto, rápido e barato que o CD, conhecido pela sigla EP, uma novidade no mercado brasileiro
LUCAS NOBILEDE SÃO PAULOArtistas brasileiros têm apostado no EP (sigla de "extended play"), que nada mais é do que um CD com menos músicas, uma novidade no mercado brasileiro, mas um formato consolidado já há muitos anos no exterior.
Nomes como Luan Santana, Paula Fernandes e Fafá de Belém lançaram músicas em EPs neste ano.
A venda de CDs caiu 12,45% em 2012, na comparação com o ano anterior, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Discos. A queda de faturamento das vendas de formatos físicos --juntos, CD, DVD e Blu-ray caíram mais de 10%-- só não foi maior graças ao fenômeno "Esse Cara Sou Eu", de Roberto Carlos. A música, até então inédita, foi lançada junto de outras três, no formato EP.
O CD encolhido de Roberto foi vendido a R$ 9,90 e ultrapassou 2 milhões de cópias vendidas desde 2012.
"O sucesso do Roberto abriu esta possibilidade para outros artistas", diz Paula Fernandes, a maior vendedora de DVDs musicais no país.
A cantora sertaneja lançou este ano o EP "Um Ser Amor", puxado pela música homônima, tocada na novela "Amor à Vida", da Globo, e que saiu com tiragem de 50 mil cópias.
Fafá de Belém lança agora "Amor e Fé", com quatro canções religiosas. "Quando Roberto lança um EP, desmitifica' e manda abaixo qualquer crítica em relação a esse formato", diz Fafá.
CUSTO E ITUNES
Há várias razões para um músico optar por um EP em vez de um CD convencional. Uma delas é a redução no preço da produção e, consequentemente, em um preço final menor para o consumidor, o que facilita a venda.
No Brasil, até pouco tempo era comum o artista em início de carreira --sem gravadora e sem recursos financeiros-- lançar EPs como forma de divulgar seu trabalho.
Depois, partia para o CD, como ocorreu com a Orquestra Imperial e, mais recentemente, com a banda Holger e com o capixaba Silva.
Outros artistas encontram no EP uma solução para fazer com que uma música que tenha estourado, lançada isoladamente --como o "single", consolidado nos Estados Unidos--, saia no formato físico.
São os casos de Paula Fernandes, com o sucesso na novela, e de Luan Santana, com "Te Esperando", cujo clipe teve mais de 13 milhões de visualizações no YouTube.
"O fato de o Roberto ter lançado o EP com um hit mostrou para o público que vale a pena. O Rei abriu as portas para outros artistas. É uma ideia da gravadora que pode ser uma tendência de mercado", diz Luan Santana.
"Em virtude da novela, começamos a ter uma demanda grande dos fãs e nas rádios. Os EPs se tornaram uma boa solução para casos como esses, mas não consigo enxergar o formato como substituto do CD cheio", diz Paula Fernandes.
Além deles, de 2012 para cá artistas como Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Victor & Léo, Jota Quest, Agridoce (projeto de Pitty com o guitarrista Martin), Sandy, Clarice Falcão, Madrid e MC Anitta, entre outros, lançaram EPs.
Um dos aspectos que contribuíram para o fortalecimento dos EPs foi a chegada do iTunes (loja de discos e vídeos da Apple) no Brasil, em 2011.
Como os EPS têm poucas músicas, algumas pessoas preferem comprá-las apenas no formato digital. Dos mais de 2 milhões de cópias de "Esse Cara Sou Eu", mais de 500 mil são do iTunes.
RESPOSTA RÁPIDA
Outro artista que lançou um EP este ano foi Tom Zé, em caso bem diferente dos outros. A intenção do compositor baiano ao apostar no formato enxuto foi a de dar uma resposta ao público, não por algum hit, mas por críticas recebidas em redes sociais.
Tom Zé, criticado por ter feito a locução de um comercial da Coca-Cola, lançou o EP "Tribunal do Feicebuqui" para responder aos ataques com rapidez, sem perder o "timing" do debate.
    Formatos não convencionais estão em alta
    DE SÃO PAULOOs formatos não convencionais são uma tendência também entre artistas independentes. O baterista e compositor Mauricio Takara, do Hurtmold, por exemplo, lançou virtualmente seis músicas no projeto "EP Fantasma" no final de 2012.
    O músico diz ter pensado apenas em mostrar as músicas na rede, apesar de ter ouvido perguntas como "isso é um EP ou um esboço de CD?".
    "Não estava a fim de pensar em formato. Não tinha esse compromisso de fazer um disco, eram apenas músicas que eu já tinha gravado e quis disponibilizá-las", comenta, comparando o lançamento ao modelo antigo e informal de gravar músicas em fitas cassete e mostrar aos amigos.
    Sem contrato com gravadoras, vários músicos produzem em quantidade e lançam trabalhos sem atrelá-los a planejamentos do mercado.
    Um dos representantes dessa alta produtividade é o saxofonista e compositor Thiago França.
    O músico, integrante de projetos como Metá Metá, MarginalS e Sambanzo, lançou discos que se assemelham aos "bootlegs".
    Antes, o formato dizia respeito a sobras, registros "não oficiais", que ganhavam ares de raridade. Hoje, são gravações de qualidade, lançadas intencional e gratuitamente.
    Entre os registros de França estão "Funfun Sessions" (com Kiko Dinucci), "Dada Radio Sessions" (com Dinucci e Sérgio Machado), e sessões ao vivo do MarginalS com convidados como M. Takara, Thomas Rohrer, Guizado e DJ Marco.
    "Por não ter aquela pressão mercadológica, as coisas podem existir em outro timing', sem uma obrigação de formatos", diz França.

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