sábado, 22 de junho de 2013

Carlos Marcelo-Com equilíbrio, sem veemência‏


Estado de Minas: 22/06/2013 


Equilibrado e sereno, mas muito longe de causar o impacto que a ocasião pedia, o aguardado pronunciamento da presidente Dilma incluiu poucas frases potentes (“Eu estou ouvindo vocês”, a mais forte delas) e foi centrado em dois eixos: a urgência no restabelecimento da ordem e a necessidade de progresso – acrescidos de um pedido, quase um apelo, para o respeito à integridade dos turistas estrangeiros.

A presidente se saiu bem ao reconhecer a força dos manifestantes (impulsionados pelo que chamou de “nova energia política”). Também acertou ao destacar a necessidade de oxigenação no sistema político e ao prestar esclarecimentos sobre as verbas para os estádios da Copa. A mistura de novas e velhas propostas, adicionada a temas polêmicos como a importação de médicos estrangeiros para reforçar o SUS e outros um tanto áridos, como a ampliação da Lei de Acesso à Informação, terá de ser digerida aos poucos e não causa comoção imediata.

Mesmo os dilmistas empedernidos hão de reconhecer que, em uma ocasião dramática sem precedentes na história recente do país, a fala presidencial não alcançou a veemência esperada, em especial na condenação aos atos de vandalismo que chocaram o país. Outro incômodo: em alguns trechos genéricos (“É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvida em primeiro lugar”), soou como discurso de posse, não de uma chefe de Estado que já ultrapassou a metade de seu primeiro mandato. O que leva às inevitáveis perguntas: se havia tantas propostas factíveis e urgentes, por que a presidente não tentou implementá-las desde o primeiro dia de seu governo? E, se “limitações políticas e econômicas” a impediram de realizá-las, por que não buscou de forma mais célere o “grande pacto” somente agora convocado?

“Tenho obrigação de ouvir a voz das ruas”, garantiu Dilma Rousseff. Resta saber se as ruas, em pleno processo de convulsão, ainda se sentem obrigadas a ouvir a voz da presidente.

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