Graças aos avanços nos equipamentos de
montanhismo e aos cada vez mais bem pagos guias nepaleses, centenas de
alpinistas estão alcançando e poluindo o Everest
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 22/06/2013
Vejo nos jornais
que conseguiram entupir de gente o Everest. Em maio de 1953, Edmund
Hillary e Tenzing Norgay atingiram sozinhos os 8.848 metros do pico mais
alto do mundo. Hoje, graças aos avanços nos equipamentos de montanhismo
e aos cada vez mais bem pagos guias nepaleses, centenas de alpinistas
estão alcançando e poluindo o Everest. Em 1990, 18% das tentativas eram
bem-sucedidas, índice que pulou para 56% em 2012. Num único dia, ano
passado, 234 alpinistas atingiram o cume.
Entre guias nascidos no
Nepal e autorizações oficiais, um ocidental gasta até US$ 100 mil para
escalar a montanha. Lixo e falta de saneamento se espalham por dezenas
de quilômetros. Diante da notícia e da foto colorida de uma fila de
escaladores, lembrei-me de uma ruminança do saudoso Joel Silveira no
livro Guerrilha noturna.
É duro procurar frases do livro do
Joel: cada página é uma delícia. Exemplos: “Há o português falado em
Portugal, o português falado no Brasil e o português dos locutores
esportivos brasileiros”; “Velório: encontro de hipócritas, maus
piadistas e parentes que se detestam”; “Ninguém pode proclamar-se livre
se não tem o direito de dormir pelo menos uma hora depois do almoço”;
“As boas coisas da vida só chegam ao Terceiro Mundo depois de passarem
pelo intestino grosso do Primeiro”; “Não merece confiança quem precisa
de barba e de bigode para ter uma cara”.
Para adiantar as coisas,
fui ao Google, cliquei “alpinista Joel Silveira” e copiei parte de sua
conversa com Geneton Moraes Neto, que perguntou: “Você também escreveu:
Pode haver algo mais idiota do que um alpinista?”.
Joel
respondeu: “Não pode! Precisa ser um débil mental. Para que subir aquela
montanha, se de avião você vê tudo aquilo? Por que não vai de
helicóptero? O que o alpinista quer provar com aquilo?”. E disse mais:
“O alpinista se mata para chegar ao cume do Everest, mas vai encontrar o
quê? Chegou lá, o que é que tinha? ‘Ah, tinha o cume do Everest’. Para
ver, basta passar de avião, qualquer Boeing de carreira passa por cima,
tranquilamente. Aliás, os esportes – de certo modo – têm o seu lado
ridículo: querer disputar, jogar uma flecha mais longe, dar um pulo
maior do que o outro. Isso é coisa de bicho de floresta. É coisa de
macaco”. Macaco que torra 100 mil dólares em guias e autorizações para
correr o risco de perder a vida, diz aqui o philosopho.
Com o
seguinte risco: Karina Oliani, 31, linda médica brasileira, quando
alcançava o cume do Everest teve o olho esquerdo congelado. O guia Pemba
Sherpa tirou sua mascara e passou três minutos lambendo o olho da
doutora. Já pensaram?
De gustibus
Se não
existisse, a mulher deveria ser inventada. Quando realmente feminina,
não há nada que se lhe compare. Ressalvo o fato de nunca ter
experimentado injeção de heroína, carreirinha de cocaína e outras drogas
que têm muitos admiradores. Contaram-me que a sensação proporcionada
pela heroína é semelhante à que se deve ter ao entrar no paraíso, mas a
mulher pode levar-nos ao paraíso terrestre.
Até o champanhe perde
para a mulher, se bem que o ideal seja combinar os dois. “Buscai a
mulher” escreveu Dumas Pai. “Tirando a mulher, o resto é paisagem”
emendou Dante Milano. E o imenso Wagner, festejado outro dia pelos 200
anos do seu nascimento, constatou: “A música é mulher”.
Os livros
de citações têm páginas e mais páginas dizendo mal da mulher, porque
escritas por veados e/ou despeitados. Demóstenes (384-322 a.C.),
antecipando-se ao doutor Dado Dolabella, teria dito: “A violência é
agradável às mulheres”.
Difícil, mesmo, é entender o gosto das
mulheres, daí o título deste belo suelto. Não todas, é verdade, mas
milhões delas. Veja-se o entusiasmo pelo jogador Neymar. No futebol é um
craque, um artista, um profissional que vai longe. Mas como tipo
masculino? Tenham a santa paciência...
Dir-se-á que ganha bem e
está ficando rico. E daí? Há milhões de outros muito mais ricos e
bem-apessoados. Isso não obstante, as mocinhas gritam pelo craque e se
hospedam no mesmo hotel, ou ficam nas calçadas suspirando pelo artista
da bola. Que coisa, hein?
O mundo é uma bola
22
de junho de 1633: em Roma, a Congregação para a Doutrina da Fé,
Congregatio pro Doctrina Fidei (CDF), obriga Galileu a renegar sua ideia
de que o Sol e não a Terra era o centro do universo. Nos colégios
brasileiros, CDF é aluno muito estudioso, que não desliga o traseiro da
cadeira. Pelo visto, em 1633 o pessoal da mais antiga das nove
congregações da Cúria Romana, um dos órgãos da Santa Sé, não era
estudioso.
Em 1874, inauguração do telégrafo submarino ligando o
Brasil à Europa. Onde se lê Brasil leia-se Rio da Janeiro. Em 1934,
fundação do município de Trabiju, em São Paulo, que ninguém conhece, mas
o Google ensina que em 2010 tinha 1.544 trabijuenses e demorava, como
continua demorando, 260 quilômetros da capital daquele estado. Hoje é o
Dia do Orquidófilo e o Dia do Aeroviário.
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