O Globo - 16/06/2013
“A mulher da classe C hoje tem
acesso a coisas que, 20 anos atrás,
eram impensáveis! Internet, TV a
cabo, smartphones... Ela não fica
mais enfurnada atrás do fogão”
Há 20 anos, quando fundei minha empresa com meus
três sócios, as mulheres das classes mais baixas não tinham
poder de compra. A inflação nos preocupava, os
preços subiam a todo momento. Ninguém conseguia fazer
uma compra parcelada sem perder noites em claro
pensando em como ia pagar. Carteira assinada era algo
para poucos sortudos. Eu, por exemplo, antes de abrir o
primeiro salão, passei muitos anos trabalhando em casas
de família como empregada doméstica, babá e faxineira
e nunca tive registro profissional. E, hoje, em minha
empresa, emprego 1.700 colaboradores (90% são
mulheres). Todos com carteira assinada e benefícios.
O fim do fantasma da inflação naquela época, o crescimento
da economia e o aumento do número de empregos
formais deixaram as famílias mais tranquilas. A mulher
da classe C conseguiu, pela primeira vez, ter dinheiro
sobrando no fim do mês para gastar com ela mesma. A
saúde, a educação dos filhos, o pagamento das contas e
as compras do mês no supermercado ainda estão em
primeiro lugar. Mas hoje ela também pode separar um
pedacinho do seu salário para cuidar de si: ir ao salão de
beleza, comprar cosméticos, roupas, sapatos e realizar
seus pequenos desejos. Afinal de contas, ela trabalha, e
muito, para isso!
A indústria e o comércio hoje atendem a essa parcela
da população com o que ela merece. Já existem marcas
conceituadas que se preocupam, por exemplo, em oferecer
produtos de qualidade e preços mais acessíveis a belezas
que “fogem do padrão estético imposto pela sociedade”.
Mas isso ainda não é suficiente. É preciso ter cuidado e
carinho para elevar a autoestima dessa mulher. Atendêla
com encantamento, qualidade, oferecendo produtos e
serviços de alto padrão. A mulher da classe C hoje tem
acesso a coisas que, 20 anos atrás, eram impensáveis! Internet,
TV a cabo, smartphones... Ela não fica mais enfurnada
atrás do fogão assistindo ao mundo lá fora pela janela
da novela das oito. Ela é antenada e exigente.
Espertos serão os empresários que souberem seguir
esse filão sem depreciar ou subestimar o poder dessa
mulher da classe média popular brasileira. É ela, hoje,
quem faz as decisões de compra em casa. E pode decidir
muito mais, eu aposto. Essas são as verdadeiras poderosas.
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