domingo, 16 de junho de 2013

'A vida não é só casar e ter filhos', diz atriz de peça sobre início do feminismo

folha de são paulo
SERGIO MADURO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A peça do dramaturgo irlandês Brian Friel, que a Cia. Ludens estreia no sábado (22) no Viga Espaço Cênico (zona oeste de São Paulo), retrata a transição de uma sociedade artesanal rural para uma sociedade capitalista urbana.
Com a direção de Domingos Nunez e elenco formado por Denise Weinberg, Sandra Corveloni, Clara Carvalho, Fernanda Viacava, Isadora Ferrite, Gustavo Trestini, Renato Caldas e Bruno Perilo, a montagem conta a história de cinco irmãs solteiras que têm a vida transformada pela chegada de um aparelho de rádio e pela volta do irmão missionário que está doente.

"Dançando em Lúnassa"

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João Caldas/Divulgação
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A montagem "Dançando em Lúnassa", com a Cia. Ludens, texto do dramaturgo irlandês Brian Friel e direção de Domingos Nunez, aborda as transformações em uma família de cinco irmãs solteiras, no contexto da transição de uma sociedade rural para uma industrial
Em cena, Michael, o narrador, evidencia a crise desse núcleo familiar --a família Mundy-- estruturado por essas cinco mulheres: a chegada das fábricas e das máquinas compete com o artesanato que algumas pessoas da cidade fazem, entre as quais uma das irmãs.
O espetáculo se passa em uma cidade fictícia, em 1936. O nome da peça vem de uma festa pagã em louvor ao deus celta Lugh, às vésperas da qual se fazem as revelações que colocam em jogo a rotina e as crenças da família.
O mesmo texto também gerou o filme "A Dança das Paixões" ("Dancing at Lughnasa"), de 1998, com Maryl Streep.
As atrizes Clara Carvalho, Sandra Corveloni e Denise Weinberg destacaram alguns aspectos da montagem.
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ABAIXO, CONFIRA ENTREVISTA COM AS ATRIZES:
sãopaulo - Como vocês analisam suas personagens no contexto da peça?
Clara Carvalho - Agnes é a terceira irmã, Ela é a mais misteriosa, a mais introvertida e a principal tricoteira da cidade, junto com a irmã mais nova, que tem transtornos e de quem ela cuida. É a irmã sobre a qual se dão menos explicações. Eu e os espectadores temos de construir todo o mundo interno dela.
Ela propõe mais perguntas do que respostas. O mundo dessas mulheres é atropelado pelos fatos. São delicadezas que se despedaçam. É um mundo de ruptura, de dor, de readaptação, mas sem drama, sem tintas muito fortes.
Além do mais, não posso deixar de dizer que reencontrar a Denise [Weinberg] e a Sandra [Corveloni], com as quais trabalhei no [Grupo] Tapa é especial. Somos uma fraternidade.
Sandra Corveloni - Maggie, minha personagem, é uma mulher que fica em casa. É uma dona de casa que cuida das galinhas, racha lenha, cuida da horta, trabalha com coisas concretas. É uma pessoa muito forte e, ao mesmo tempo, muito sensível. Ela não deixa a peteca cair. Está sempre cantando para deixar o ambiente mais descontraído, ou conta uma piada, para aliviar as tensões do cotidiano. Não demonstra fraqueza, sempre tenta apoiar as irmãs. Não tem filhos, mas é muito espontânea, amorosa, sempre vendo o lado dos outros.
Ela é muito parecida comigo, é brincalhona, como eu que gosto do contato com as pessoas e não tenho travas para demonstrar carinho e amizade.
Todas as irmãs [Mundy] são transgressoras, cada uma à sua maneira.
É preciso lembrar que, em 1936 [quando acontece o enredo da peça] uma mulher que não se casava não servia para nada.
Essa montagem é encantadora pelo texto bem escrito, construído com silêncios que fazem parte da dramaturgia.
Denise Weinberg - Kate é a mais velha das irmãs, a que trabalha fora, é professora e provedora da família. Ela cuida da parte externa da casa, uma vez que as outras irmãs são mais caseiras e domésticas.
Kate tem uma simbologia interessante. [O autor Friel] situou o texto no passado, no início da independência da mulher. É interessante porque também na dramaturgia de Ibsen e de Strindberg começa a ter um movimento feminino muito forte que culmina com o feminismo.
A peça fala sobre libertação, mostra que a vida não é só casar, ter filho e ser feliz. Aliás, o que é ser feliz?
O texto é atual. Hoje, a mulher está numa encruzilhada, numa situação afetiva muito complicada: os lugares masculinos e femininos estão muito confusos; botamos calça e perdemos nossa feminilidade.
Sou apaixonada por esse texto há muito tempo. Juntar um elenco tão legal, com atrizes que foram minhas parceiras no [Grupo] Tapa, está sendo bem gostoso.
Viga Espaço Cênico. R. Capote Valente, 1.323, Pinheiros. Tel. 0/xx/11 3801-1843. 80 lugares. Sex. e sáb.: 21h. Dom.: 19h. 110 min. 12 anos. Estreia em 22/6. Até 18/8. Ingr.: R$ 20.

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