domingo, 16 de junho de 2013

Dois Poemas - Age de Carvalho

folha de são paulo
IMAGINAÇÃO
PROSA, POESIA E TRADUÇÃO
AGE DE CARVALHO

"E depois disto nosso exílio"
a Mirek Konopka, in memoriam

"Veio Cristo, o tigre"
logo cedo pela manhã
no lombo do verso encourado,
quando de ti
chegava a notícia
da ida adiada para antes-do-Ontem,
tua partida e exílio
para depois-de-todo-amanhã,
na névoa.
Pensava:
Ele está em ti,
dele carneiro e servo, sedado de verdade.
Ele está em ti,
todo espalhado no pâncreas cintilante-minado.
Ele está em ti,
assim como, queremos crer,
naquele ramo de sânscrito
transcrito na pétala
rósea-declinada,
de significado chão,
ao pé da cerejeira jovem
em floração.

Blacknight
a Jorge Reynaldo da Silva Age, in memoriam

Quem beijou
a margem de terra,
quem beijou
na testa a imagem
nublada que era ou terá sido
desde o início: viagem,
viagem de ti
agora,
desse estar-aí
que é ser
entre sono e vigília
sobre o capim sussurrante,
descalço, sob estrelas.
.................................
Eram 3 da tarde,
dez da manhã aí,
quando, um facho, cruzamos
na estrada:
um lampejo, visão, uma jura
latejando no vero instante
em que vi o Mustang 67,
teu carro, passar num raio --
anunciava que àquela Hora,
longe,
em Desbelém,
soltas as rédeas dentro da noite escura,
podias agora enfim
voltar à terra.

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