Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 16/06/2013
Um dos meus genros
não tem celular, no que obra muitíssimo bem. Nas emergências, sua mulher
telefona para o pai, que é um capadócio e não desgruda do Nokia. Foi
assim noite dessas, por volta das 21h30: “Pai, estou com um problema e
quero que o senhor me ajude. Estou numa rua muito tranquila e a água já
chegou no farol do carro”.
Foi o tipo da notícia agradável depois de um dia inteiro sobre coquetéis molotov na Praça Taksim de Istambul e quebra-quebra em São Paulo, no Rio, pelo aumento de 20 centavos nas passagens dos ônibus, além da alegria de saber que caças da FAB passarão a sobrevoar os estádios durante as partidas de futebol.
Sai dessa, caro e preclaro leitor. Em primeiro lugar, não existe rua muito tranquila no Rio, como também não existe em Sampa, BH e outras cidades brasileiras de médio e grande porte. Depois, como aconselhar se a gente não está vendo a cena.
Pergunto se o carro está boiando e sou informado de que o motor apagou. Só posso pedir que ela mesma avalie a situação e me informe das providências que vem tomando.
Meia hora mais tarde, novo telefonema: “Estou na portaria de um prédio muito simpático, o porteiro é o senhor David. De vez em quando entra uma onda de meio metro aqui na portaria. Agora, mesmo, passou um carro alto e fez uma onda enorme”.
Lembrei-me, na hora, de um diretor de montadora em São Paulo, que caçava anualmente no Pantanal. Antes de viajar para a fazenda de um amigo, mandava picape 4x4 nova, da montadora, adaptada para andar no Pantanal ainda cheio. Seu motorista sabia como chegar e levava de volta para São Paulo a picape do ano anterior para “análise” de um ano pantaneiro. Velas, carburador, bobina – tudo protegido contra enchentes. Tomada de ar e silencioso mais altos que a capota. Andei numa delas com água pela cintura, sentado na cabine. De repente, as montadoras que anunciarem veículos à prova de enchentes venderão que nem pão quente em Sampa, no Rio e mesmo na capital de todos os mineiros.
Quanto à rua tranquila da enchente carioca, tudo terminou bem. Seu David ficou com a chave do carro enguiçado para entregar ao pessoal do reboque na manhã seguinte, que rebocou para a concessionária. E tem mais uma coisa: o porta-malas do veículo coreano estava cheio de caixas de charutos excelentíssimos trazidos de Cuba por amigos que lá estiveram passeando. Charutos que, felizmente, não molharam.
Surfando
Não sou surfista, mas não resisto às ondas que pintam no pedaço. Penso aderir à atual, se contar com o apoio do leitor. Claudia Regina, fotógrafa, optou por um frigobar, mas dispensou o sofá: senta-se no assoalho de seu pequeno apartamento. Michel Zappa, publicitário, diz que ter menos objetos é como subtrair problemas. Realmente, pelo quadro que tem na parede, bem como pelo sofá e pela mesa de centro, é melhor voltar à selva para viver nu. À luz da estética, o quadro, a mesa e o sofá de Zappa têm problemas insolúveis.
Cláudia Regina, a fotógrafa, usa cabelo curtinho para dispensar o xampu. Ian Black, analista de mídias sociais, aboliu DVD e livros. Alex Castro, escritor, mora num apartamento de 20 metros quadrados e diz: “As pessoas projetam suas emoções e seus momentos felizes em objetos inanimados”.
E daí: é crime? pergunta o philosopho. Que mal existe em projetar momentos felizes em objetos inanimados? Diz a matéria jornalística que “menos é mais. E que a tendência minimalista de reduzir o consumo ao essencial ganha adeptos no Brasil”. Minimalismo, do inglês minimalism, significa redução ao mínimo, estilo em que se empregam elementos ou recursos escassos e simples.
Na mudança de BH para JF, por falta de espaço minimalismei à força e à beça. Agora, depois de ler os depoimentos dos minimalistas, dei tratos à bola e concluo que dispensar a abençoada poltrona, neverzinho. Além da poltrona, não abro mão do pufe, que é para botar as patas na horizontal.
Como viver sem humidor? Tenho dois: são depósitos para charutos em determinadas condições de temperatura e umidade. A fotógrafa se contentou com um frigobar mínimo. Tenho grande geladeira e penso numa segunda, se bem que o clima do apê juiz-forano rivalize com o dos frigoríficos.
E aquele cavalheiro que dispensou os livros? É analista de mídias sociais. Desejo que seja feliz, mas fico intrigado com o cabelo curto da fotógrafa: sem xampu, será cheiroso? É bonitinha e usa óculos. Mulheres sem óculos deveriam ser proibidas.
O mundo é uma bola
16 de junho de 1904: Leopold Bloom vive sua Odisseia de um dia no romance Ulisses, de James Joyce, data que é comemorada na Irlanda com o feriado Bloomsday. Em 1950, foi inaugurado o Estádio do Maracanã, presente o philosopho que assina estas bem traçadas.
Em 1980, entra em circulação o Metical, nome de remédio, nova moeda de Moçambique. Em 1927, nasceu o paraibano Ariano Suassuna, dramaturgo, romancista e poeta.
Ruminanças
“O ensino deve ser interessante, alegre, gracioso. Toda escola se deve conduzir por uma severa doçura” (Montaigne, 1533-1592).
Foi o tipo da notícia agradável depois de um dia inteiro sobre coquetéis molotov na Praça Taksim de Istambul e quebra-quebra em São Paulo, no Rio, pelo aumento de 20 centavos nas passagens dos ônibus, além da alegria de saber que caças da FAB passarão a sobrevoar os estádios durante as partidas de futebol.
Sai dessa, caro e preclaro leitor. Em primeiro lugar, não existe rua muito tranquila no Rio, como também não existe em Sampa, BH e outras cidades brasileiras de médio e grande porte. Depois, como aconselhar se a gente não está vendo a cena.
Pergunto se o carro está boiando e sou informado de que o motor apagou. Só posso pedir que ela mesma avalie a situação e me informe das providências que vem tomando.
Meia hora mais tarde, novo telefonema: “Estou na portaria de um prédio muito simpático, o porteiro é o senhor David. De vez em quando entra uma onda de meio metro aqui na portaria. Agora, mesmo, passou um carro alto e fez uma onda enorme”.
Lembrei-me, na hora, de um diretor de montadora em São Paulo, que caçava anualmente no Pantanal. Antes de viajar para a fazenda de um amigo, mandava picape 4x4 nova, da montadora, adaptada para andar no Pantanal ainda cheio. Seu motorista sabia como chegar e levava de volta para São Paulo a picape do ano anterior para “análise” de um ano pantaneiro. Velas, carburador, bobina – tudo protegido contra enchentes. Tomada de ar e silencioso mais altos que a capota. Andei numa delas com água pela cintura, sentado na cabine. De repente, as montadoras que anunciarem veículos à prova de enchentes venderão que nem pão quente em Sampa, no Rio e mesmo na capital de todos os mineiros.
Quanto à rua tranquila da enchente carioca, tudo terminou bem. Seu David ficou com a chave do carro enguiçado para entregar ao pessoal do reboque na manhã seguinte, que rebocou para a concessionária. E tem mais uma coisa: o porta-malas do veículo coreano estava cheio de caixas de charutos excelentíssimos trazidos de Cuba por amigos que lá estiveram passeando. Charutos que, felizmente, não molharam.
Surfando
Não sou surfista, mas não resisto às ondas que pintam no pedaço. Penso aderir à atual, se contar com o apoio do leitor. Claudia Regina, fotógrafa, optou por um frigobar, mas dispensou o sofá: senta-se no assoalho de seu pequeno apartamento. Michel Zappa, publicitário, diz que ter menos objetos é como subtrair problemas. Realmente, pelo quadro que tem na parede, bem como pelo sofá e pela mesa de centro, é melhor voltar à selva para viver nu. À luz da estética, o quadro, a mesa e o sofá de Zappa têm problemas insolúveis.
Cláudia Regina, a fotógrafa, usa cabelo curtinho para dispensar o xampu. Ian Black, analista de mídias sociais, aboliu DVD e livros. Alex Castro, escritor, mora num apartamento de 20 metros quadrados e diz: “As pessoas projetam suas emoções e seus momentos felizes em objetos inanimados”.
E daí: é crime? pergunta o philosopho. Que mal existe em projetar momentos felizes em objetos inanimados? Diz a matéria jornalística que “menos é mais. E que a tendência minimalista de reduzir o consumo ao essencial ganha adeptos no Brasil”. Minimalismo, do inglês minimalism, significa redução ao mínimo, estilo em que se empregam elementos ou recursos escassos e simples.
Na mudança de BH para JF, por falta de espaço minimalismei à força e à beça. Agora, depois de ler os depoimentos dos minimalistas, dei tratos à bola e concluo que dispensar a abençoada poltrona, neverzinho. Além da poltrona, não abro mão do pufe, que é para botar as patas na horizontal.
Como viver sem humidor? Tenho dois: são depósitos para charutos em determinadas condições de temperatura e umidade. A fotógrafa se contentou com um frigobar mínimo. Tenho grande geladeira e penso numa segunda, se bem que o clima do apê juiz-forano rivalize com o dos frigoríficos.
E aquele cavalheiro que dispensou os livros? É analista de mídias sociais. Desejo que seja feliz, mas fico intrigado com o cabelo curto da fotógrafa: sem xampu, será cheiroso? É bonitinha e usa óculos. Mulheres sem óculos deveriam ser proibidas.
O mundo é uma bola
16 de junho de 1904: Leopold Bloom vive sua Odisseia de um dia no romance Ulisses, de James Joyce, data que é comemorada na Irlanda com o feriado Bloomsday. Em 1950, foi inaugurado o Estádio do Maracanã, presente o philosopho que assina estas bem traçadas.
Em 1980, entra em circulação o Metical, nome de remédio, nova moeda de Moçambique. Em 1927, nasceu o paraibano Ariano Suassuna, dramaturgo, romancista e poeta.
Ruminanças
“O ensino deve ser interessante, alegre, gracioso. Toda escola se deve conduzir por uma severa doçura” (Montaigne, 1533-1592).
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