Ailton Magioli
Estado de Minas: 23/06/2013
Apesar de a compositora sustentar a cantora, como ela gosta de dizer, nem sempre Joyce Moreno lança um disco autoral como Tudo. “Meu último 100% foi Gafieira moderna (2001), seguido de Banda maluca, dois anos depois, com apenas três canções que não eram minhas”, diz ela.
Joyce avisa: é compositora, antes de tudo. “Isso, desde o primeiro disco, além do fato de intérpretes como Elis Regina, Milton Nascimento, Gal Costa, Ney Matogrosso, Nana Caymmi e Fafá de Belém gravarem minhas composições”, acrescenta. “Disco autoral não se lança a toda hora”, pondera, lembrando que necessita de um tempo para o “buquê certo” de canções vir à tona com algo que justifique a combinação entre elas. Em 45 anos de carreira, já são mais de 30 álbuns.
Originalmente lançado no Japão, Tudo chega simultaneamente aos mercados europeu e norte-americano pelo selo Far Out Recordings. Em iniciativa inédita em sua carreira, a cantora, além de pesquisar via internet, consultou o público de seus shows para saber que disco lançar. O inédito Rio, com canções sobre a Cidade Maravilhosa, está na fila aguardando uma boa data para chegar a público.
“Rio traz até uma inédita (Rio meu). Na verdade, é um disco com regravações e raridades, como o trecho da Sinfonia Rio de Janeiro (Tom Jobim-Billy Blanco) que gravei”, relata Joyce. A cantora promoveu votação ao final dos shows, em São Paulo, com canções dos dois álbuns. “Foi interessante. Tanto a pesquisa virtual quanto a real deram, em média, 90% de votos favoráveis ao CD de inéditas. É bacana ver a ansiedade por repertório novo”, revela.
Para ela, há excesso de regravações na MPB. “E isso não é de hoje”, acrescenta. O motivo é o fato de as pessoas se dizerem sem paciência para o repertório inédito. Mas algo mudou. “Agora é diferente. As inéditas têm provocado impacto no público. As pessoas costumam sair dos shows assobiando as músicas”, comemora.
Briga Nos anos 1970/1980, intérpretes brasileiras brigavam pela produção dos compositores. “Se você gravava uma inédita, tinha de escondê-la até o lançamento do disco”, relembra. Ela mesma agiu assim. “Quando fiz Monsieur Binot, escondi-a da Elis Regina, porque sabia que ela iria gravar e se apropriar da canção”, confessa Joyce. “Hoje, ninguém procura músicas novas. Tudo ficou muito estranho, você não vê criatividade, nada que seja realmente interessante”, afirma.
A cantora e compositora não perdoa os hits contemporâneos. “Você liga a TV e ouve eu quero tchu, eu quero tcha. É a trilha sonora da barbárie, que fala de sentimentos primários. Os profundos deixaram de ser importantes para a música”, acredita.
Mas Joyce avisa que esse não é o seu caso. “Se quiser uma música, vou lá e faço”, conclui.
Bossa nova com galope
Em Tudo (Biscoito Fino), Joyce assina
oito canções. O repertório vai do samba ao jazz, passando por galope
nordestino, choro e bossa nova clássica. Joyce estreia parcerias com
Nelson Motta (Estado de graça) e Teresa Cristina (Sem poder dançar),
além de se manter fiel a velhos companheiros, como Paulo César Pinheiro
(Quero ouvir João e Dor de amor é água) e Zé Renato (Pra você gostar de
mim). Com o ex-Boca Livre, divide os vocais de Dor de amor é água.
Sozinha, fez Boiou, Puro ouro, Aquelas canções em mim, Claude et
Maurice, Trianguelingue, Domingo de manhã, Choro do anjo e a
faixa-título. “A cada dia esse disco se mostra mais atual, porque prega a
tolerância. O Brasil vive um momento de grande intolerância. É
importante, portanto, bater neste tecla: falar e ouvir o outro.”
SAIBA MAIS
Quase “mineira”
Em 1964, aos 16 anos, Joyce estreou num estúdio fonográfico. Ela participou de disco do Sambacana com músicas do compositor mineiro Pacífico Mascarenhas. Em 1968, a carioca lançou o primeiro LP, batizado com seu nome, pela Philips. O repertório trazia canções de Toninho Horta e Ronaldo Bastos, futuros sócios fundadores do Clube da Esquina. Em 1969, Joyce defendeu Iara bela, de Toninho, no Festival Universitário de Belo Horizonte.“Com 19 anos – quando a gente se conheceu, somos da mesma idade –, ele já era o Toninho e tocava praticamente como hoje. Ele já veio pronto, nasceu prontinho. A linguagem de violão do Toninho Horta era escandalosamente avançada e própria”, afirmou ela em depoimento ao Museu Clube da Esquina. “Do Bituca não há o que dizer. Era aquela coisa deslumbrante.”
SAIBA MAIS
Quase “mineira”
Em 1964, aos 16 anos, Joyce estreou num estúdio fonográfico. Ela participou de disco do Sambacana com músicas do compositor mineiro Pacífico Mascarenhas. Em 1968, a carioca lançou o primeiro LP, batizado com seu nome, pela Philips. O repertório trazia canções de Toninho Horta e Ronaldo Bastos, futuros sócios fundadores do Clube da Esquina. Em 1969, Joyce defendeu Iara bela, de Toninho, no Festival Universitário de Belo Horizonte.“Com 19 anos – quando a gente se conheceu, somos da mesma idade –, ele já era o Toninho e tocava praticamente como hoje. Ele já veio pronto, nasceu prontinho. A linguagem de violão do Toninho Horta era escandalosamente avançada e própria”, afirmou ela em depoimento ao Museu Clube da Esquina. “Do Bituca não há o que dizer. Era aquela coisa deslumbrante.”
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