O dono do nome
SÃO PAULO - Num de meus muitos defeitos de fabricação, nasci sem o software do nacionalismo. Não acredito em excepcionalismos nem consigo entender por que alguém deveria julgar o país em que calhou de ter nascido como intrinsecamente melhor ou detentor de mais direitos do que qualquer outra nação.
Dada essa preliminar, só posso considerar meio descabido o protesto que o governo brasileiro ensaia contra a Icann, a entidade que gerencia o sistema de nomes da internet, que pretende disponibilizar comercialmente domínios que remetem a topônimos como ".amazon", ".patagonia" e ".shenzhen". Se entendi bem a objeção oficial, exposta no artigo de Virgilio Almeida, do Ministério da Ciência e Tecnologia, e de Benedicto Fonseca Filho, do Itamaraty, que a Folha publicou na quinta, o Brasil e outros países reclamam direitos especiais sobre esses nomes, que não poderiam ser concedidos a empresas privadas sem sua autorização.
Não sou sócio da amazon.com, mas não vejo por que o Brasil deveria ter mais legitimidade do que a livraria americana para usar o domínio. Para começar, o termo vem do grego "amazónes", que é o substantivo pelo qual se designavam as integrantes de uma tribo mítica de guerreiras que viviam sem homens. Nós, ou melhor, o explorador espanhol Francisco de Orellana é que se apropriou de uma palavra do léxico grego para dar nome à região. Ele teria ficado chocado ao constatar que mulheres de uma etnia amazônica combatiam ao lado dos homens.
Analogamente, "patagonia" é uma criação politicamente incorreta do português Fernão de Magalhães, que teria ficado impressionado com o tamanho das "patas" dos índios tehuelches que viviam na área.
A grande verdade é que línguas, incluindo seus topônimos e antropônimos, são patrimônio comum da humanidade e não deveriam admitir nenhum tipo de exclusividade, seja ela detida por empresas ou países.
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