domingo, 23 de junho de 2013

Eduardo Almeida Reis - Em domicílio‏


Estado de Minas: 23/06/2013 


Com todo o respeito devido ao caro e preclaro leitor do Grande Jornal dos Mineiros, continuo achando que os restaurantes de Belo Horizonte são os mais caros do mundo. Pode ser que nos Emirados Árabes existam mais caros, mas no resto do planeta BH leva a palma. Na mesma semana em que amigos meus almoçaram em Londres, num restaurante Ducasse, pagando US$ 30 per capita – entrada, prato principal e sobremesa –, almocei num restaurante belo-horizontino, a convite, em que só o meu filé custou US$ 35. Com entrada, couvert e sobremesa, o amigo que me convidou deve ter gasto cerca de US$ 60. Desconsiderem-se os vinhos tanto em BH quanto em Londres, porque o preço de cada garrafa pode variar de US$ 30 a US$ 3 mil, ou mais.

Tenho agora notícia do preço de uma refeição (serve duas pessoas) entregue em domicílio na cidade de Orlando, Flórida. Marmita de brasileiros, em que o marido cozinha e sua mulher faz as entregas de automóvel. Preço: US$ 9. Isso mesmo que você entendeu: nove dólares pela refeição entregue em sua casa.

Orlando é uma cidade de 250 mil habitantes, que recebe por ano cerca de 50 milhões de turistas. Portanto, não se trata de uma biboca filipina e fica num país que continua sendo a maior economia do mundo. E uma refeição generosa, entregue em sua casa, alimenta duas pessoas e custa menos que R$ 20. É mole?

Alcoolismo de araque
Bebi horrores durante décadas, pelo menos cinco, respeitando ciclos de chopes, uísques, vinhos, cervejas fortes, vodcas – essas coisas todas. De uns anos a esta parte, sem recomendação médica, praticamente parei com o álcool. Coisa curiosa: tive ressacas provocadas por bebidas falsificadas, como o suposto Black Label servido no Iate Clube do Rio de Janeiro, no jantar de despedida de um amigo que se mudou para os Estados Unidos. Mesa imensa; duas dúzias de profissionais do copo. Estranhei o gosto do “escocês”, mas vi que todos bebiam no maior entusiasmo. Embarquei na bebida e amanheci passando mal à beça. Faz tempo que não sei o que é uma ressaca e me espanta ver amigos dividindo os álcoois com Neosaldinas preventivas.

Houaiss diz que o plural de álcool é álcoois, Aurélio abona álcoois e alcoóis, enquanto o Aulete/digital diz que é alcoóis – e isso dá ao leitor boa ideia da dificuldade de escrever em língua portuguesa. No meu entendimento de philosopho ex-pinguço, o ideal seria álcoóis, se bem que o álcool plural seja vício que tem destruído milhões de lares, carreiras e biografias.

Ciente do meu passado alcoólico, Roldão Simas Filho enviou-me recorte sobre o “renascimento” do áraque, bebida anisada de origem árabe que se consome diluída em água e também aceita a grafia araque ou arak, que dizem ser a origem do araque da gíria, que tanto pode significar “objeto sem valor”, como “ruim” ou “mentira”. Depois de uns goles de áraque, as pessoas começam a mentir, a dizer tolices.

A palavra vem do árabe harak at-tamr, “seiva de tamareira”, mas a bebida também é feita de uvas brancas, não irrigadas, crescidas ao sol do Oriente Médio. Sendo anisada, tem sabor ou aroma de anis, erva ou arbusto com o qual se produz o licor anisete, que já experimentei no tempo de antigamente.

Em matéria de loucuras alcoólicas, meu recorde foi no dia em que tomei absinto, bebida esverdeada preparada com óleo de absinto, anis e outras plantas aromáticas. Dizem que é um veneno. Foi criado e utilizado como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que morava em Couvet, Suíça, por volta de 1792.

Ordinaire, além de significar banal, comum, significa ordinário, como o licor do dr. Pierre, popularíssimo na França pelo final do século 19 e no princípio do século passado. Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Van Gogh, Wilde, Allan Poe e Toulouse-Lautrec, entre muitos outros, se esbaldaram com a bebida, conhecida como fada verde (la fée verte), suposta de ter efeitos alucinógenos.

Em Israel, o vinho tem 63% do mercado e a cerveja 12,5%. O arak pulou de 2,5% para 4% e o philosopho de araque, para combater o frio siberiano que tem feito por aqui, pensa entornar uma garrafa de tinto chileno hoje à noite.

O mundo é uma bola
23 de junho de 1565: Turgut Reis, corsário turco e comandante da marinha do Império Otomano, morre vítima de estilhaços de artilharia durante o Cerco de Malta, nas imediações do Forte de Santo Elmo.

Reis em turco é almirante e o nosso Turgut, que não era parente, apavorava os inimigos por sua ferocidade. Foi capturado em 1540 e enviado às galeras como escravo, resgatado em 1544 por Khair ad Din, que pagou 3.000 ducados. Khair ad Din (1478 –1546) foi o feroz Hayreddin Barbarossa, que nasceu, pasme o leitor, na Ilha de Lesbos.

Em 1794, Catarina, a Grande, da Rússia, permite que os judeus morem em Kiev. Em 1996, Paulo César Farias, tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Affonso, aparece morto na cama de sua casa de praia ao lado da namorada, Suzana Marcolino.

Hoje é o Dia do Lavrador, do Migrante e o Nacional do Desporto, criado pela Lei Pelé (art. 86).

Ruminanças

“É no mínimo ridículo uma pessoa terminar de escrever suas memórias e continuar vivendo.” (Joel Silveira, 1918–2007)

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