sexta-feira, 28 de junho de 2013

Mostra Internacional de Música – Mimo chega à sua 10ª edição-Eduardo Tristão Girão‏

Ouro Preto recebe de 29 de agosto a 1º de setembro a programação do Mimo, um dos mais importantes festivais de música instrumental do país, que também chega a Paraty e Olinda 


Eduardo Tristão Girão

Estado de Minas: 28/06/2013 

Sem dúvida um dos mais distintos festivais musicais do país, a Mostra Internacional de Música – Mimo  http://www.mimo.art.br/   chega à sua 10ª edição com ambicioso objetivo em vista: transformar o Brasil num polo aglutinador de destaques da música mundial, sem a obrigação de ancorar sua grade de atração em medalhões tradicionais, como os do jazz norte-americano – e sem esnobá-los. O evento, que prima por bancar outros nomes de peso (os cubanos do Buena Vista Social Club, o baixista camaronês Richard Bona, o minimalista americano Philip Glass, os franco-argentinos do Gotan Project), este ano será realizado nas cidades históricas de Ouro Preto (MG), Olinda (PE) e Paraty (RJ), entre 23 de agosto e 8 de setembro. Como sempre, brasileiros também marcarão presença.

“Por causa do concerto de estreia da primeira edição do Mimo, com o pianista Nelson Freire numa igreja em Olinda, fiquei até com dor de estômago. Quando cheguei na porta, quase chorei de emoção. Eram 2 mil pessoas querendo entrar. Não estávamos nem preparados para tudo isso. A experiência que tenho contradiz tudo o que a gente ouve falar sobre o público. Estamos sempre administrando excesso de público. Existe muita gente interessada, o que falta são espaços e política que favoreça o acesso a essa música”, afirma a produtora cultural Lu Araújo, idealizadora e diretora-geral do Mimo.

Dos 40 concertos desta edição, 12 serão em Ouro Preto, com palcos montados não apenas na Praça Tiradentes e na Casa da Ópera, mas também no interior da Basílica do Pilar e da Igreja de São Francisco de Assis. A programação da cidade mineira ainda está sendo fechada, mas já foram confirmados os nomes do tecladista Tareq al Nasser e grupo Rum (Jordânia), o multi-instrumentista Stephan Micus (Alemanha), o saxofonista Guillaume Perret & Eletric Epic (França), o trompetista Ibrahim Maalouf (França), Madredeus (Portugal) e, representando o Brasil, Gilberto Gil, que será acompanhado pela Orquestra de Sopros da Pro Arte.

Todos os shows nas três cidades serão gratuitos, o mesmo valendo para o restante da programação, que inclui ainda palestras com os artistas, exposição sobre os 10 anos do evento e etapa educativa que contemplará também Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Deixando o Recife e João Pessoa de fora nesta edição, o Mimo começará por Paraty (de 23 a 25 de agosto), que abrigará parte da programação pela primeira vez, e depois passará por Ouro Preto (29 de agosto a 1º de setembro) e Olinda (de 2 a 8 de setembro).

As cidades terão shows únicos, como é o caso de Paraty, que receberá o pianista norte-americano Herbie Hancock, peso-pesado do jazz que mostrará trabalho, no mínimo, diferente. Dia 23, ele tocará ao ar livre com os jovens Flying Lotus (produtor especializado em música eletrônica e rapper) e Thundercat (pseudônimo do eclético baixista Stephen Bruner), o baterista Vinnie Colaiuta (craque que acompanha Hancock há anos) e Zakir Hussain, indiano que, desde os anos 1970, é o nome maior da tabla (instrumento de percussão típico).

RENOVAÇÃO

No caso da programação de Ouro Preto, chama a atenção a presença de dois artistas de origem árabe, ambos dedicados a renovar a música de sua região, ainda hoje marcada por tradicionalismo e estereótipos. De um lado, o jordaniano Tareq al Nasser (dia 31, na Casa da Ópera), que tem experiência com trilhas sonoras e aposta na fusão de instrumentos e gêneros de seu país e do Ocidente, acompanhado por orquestra de 20 integrantes. Do outro, o libanês Ibrahim Maalouf (dia 29, na Praça Tiradentes), que traz o molho árabe para o trompete, posicionando-o de forma moderna no jazz.

“Uma das nossas maiores conquistas é fazer com que o público do Mimo tenha a mesma curiosidade pela música que eu tenho. Os concertos estão sempre lotados”, comemora Lu Araújo, uma das responsáveis pela escolha dos artistas que virão para o evento. Outro nome que também chamou a sua atenção foi o de Stephan Micus, que trabalha apenas com instrumentos étnicos. “Ele entra numa cultura, procura o que é forte e esteja em extinção, aprende a tocar o instrumento em questão e depois funde isso a outras referências”. Ele tocará na Basílica do Pilar na abertura do Mimo, dia 29.

Ela também destaca a vinda do saxofonista francês Guillaume Perret, autor de som bastante particular, que se apresentará dia 29, na Praça Tiradentes. “Ele faz um som bastante diferente. Meio rock and roll, mas instrumental e com o seu saxofone”, conta a produtora. Será a estreia do artista no Brasil. Segundo Lu, a escolha dos nomes desta edição do Mimo reflete sua preocupação em manter o evento sintonizado ao que mais desperta interesse atualmente em termos de música, independentemente de onde venha. Para o ano que vem, adianta, já há três grandes atrações confirmadas.

NA REDE

Aspirando não ficar restrito às datas dos shows, o Mimo prepara este ano série de ações para manter em alta o interesse do público pelo música que promove. O portal do evento na internet (www.mimo.art.br) passa a ter conteúdos de música, patrimônio histórico e cinema, além de informações sobre o festival e a cobertura da programação em tempo real.

A webradio própria, por sua vez, terá playlists de artistas de diversas partes do mundo. Há, ainda, aplicativos sobre as cidades históricas (que servirão de guias turísticos), ciclos de palestras, exposição de fotos sobre os 10 anos do festival e programas educativos em seis cidades.

três perguntas para...

Tareq al Nasser
músico e compositor


Sua música tem elementos ancestrais e modernos, orientais e ocidentais. Como você faz essa fusão e quais são os limites?
Há algo chamado música global, que ainda não foi definido, e há elementos estéticos quando são usados vários tipos de música. Isso é o que me faz sentir que não há limites, que a música tornou-se conectada à humanidade e à história. Essa coisa de “sem limite” encoraja e dá mais espaço e visão. Falamos em fusão, mas não podemos ignorar a originalidade, já que ninguém pode mudar isso. Quando a fusão é feita entre duas culturas diferentes, há limites e eles previnem qualquer violação de originalidade, uma vez que nenhuma cultura pode ofuscar o outra. Fusão acrescenta mais beleza à música, onde quer que ocorra.

Algumas de suas composições foram originalmente escritas para a TV. Escrever para a TV é diferente de escrever para o grupo Rum?
Música absoluta é diferente de música de estúdio, uma vez que a segunda é uma ciência em si. A música absoluta se beneficiou da música de estúdio, mas isso me afetou pessoalmente. Houve efeitos positivos e negativos, mas prefiro ver os efeitos positivos, pois me fizeram experimentar diferentes mundos musicais. No meu caso, não há muita diferença entre elas, pois ambas são originadas no fundo do coração, apesar de os instrumentos utilizados em ambas serem diferentes. A música de estúdio me deu oportunidade de descobrir tipos diferentes de instrumentos, mas não métodos musicais.

Além de você, quem são os artistas que estão renovando a música árabe hoje?
Há muitos artistas tentando renovar a música árabe, mas não tenho certeza sobre o resultado. Estamos no caminho para essa renovação e alguns artistas têm feito grandes progressos. Muitos fizeram tentativas bem-sucedidas, como Ziad Rahbani, filho da famosa cantora libanesa Fairuz. Ele nos levou na direção da renovação da música árabe e foi influenciado pelo jazz e jazz latino. Eu o tenho em alta estima. Omar Khairat, compositor egípcio, introduziu a música árabe para nós e ela ainda preserva sua autenticidade, espírito e aspectos orientais. Renovar a música árabe é importante para renovar nossas almas
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