Ouro Preto recebe de 29 de agosto a 1º
de setembro a programação do Mimo, um dos mais importantes festivais de
música instrumental do país, que também chega a Paraty e Olinda
Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 28/06/2013
Sem dúvida um dos mais distintos festivais
musicais do país, a Mostra Internacional de Música – Mimo http://www.mimo.art.br/ chega à sua
10ª edição com ambicioso objetivo em vista: transformar o Brasil num
polo aglutinador de destaques da música mundial, sem a obrigação de
ancorar sua grade de atração em medalhões tradicionais, como os do jazz
norte-americano – e sem esnobá-los. O evento, que prima por bancar
outros nomes de peso (os cubanos do Buena Vista Social Club, o baixista
camaronês Richard Bona, o minimalista americano Philip Glass, os
franco-argentinos do Gotan Project), este ano será realizado nas cidades
históricas de Ouro Preto (MG), Olinda (PE) e Paraty (RJ), entre 23 de
agosto e 8 de setembro. Como sempre, brasileiros também marcarão
presença.
“Por causa do concerto de estreia da primeira edição do
Mimo, com o pianista Nelson Freire numa igreja em Olinda, fiquei até
com dor de estômago. Quando cheguei na porta, quase chorei de emoção.
Eram 2 mil pessoas querendo entrar. Não estávamos nem preparados para
tudo isso. A experiência que tenho contradiz tudo o que a gente ouve
falar sobre o público. Estamos sempre administrando excesso de público.
Existe muita gente interessada, o que falta são espaços e política que
favoreça o acesso a essa música”, afirma a produtora cultural Lu Araújo,
idealizadora e diretora-geral do Mimo.
Dos 40 concertos desta
edição, 12 serão em Ouro Preto, com palcos montados não apenas na Praça
Tiradentes e na Casa da Ópera, mas também no interior da Basílica do
Pilar e da Igreja de São Francisco de Assis. A programação da cidade
mineira ainda está sendo fechada, mas já foram confirmados os nomes do
tecladista Tareq al Nasser e grupo Rum (Jordânia), o
multi-instrumentista Stephan Micus (Alemanha), o saxofonista Guillaume
Perret & Eletric Epic (França), o trompetista Ibrahim Maalouf
(França), Madredeus (Portugal) e, representando o Brasil, Gilberto Gil,
que será acompanhado pela Orquestra de Sopros da Pro Arte.
Todos
os shows nas três cidades serão gratuitos, o mesmo valendo para o
restante da programação, que inclui ainda palestras com os artistas,
exposição sobre os 10 anos do evento e etapa educativa que contemplará
também Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Deixando o Recife e
João Pessoa de fora nesta edição, o Mimo começará por Paraty (de 23 a 25
de agosto), que abrigará parte da programação pela primeira vez, e
depois passará por Ouro Preto (29 de agosto a 1º de setembro) e Olinda
(de 2 a 8 de setembro).
As cidades terão shows únicos, como é o
caso de Paraty, que receberá o pianista norte-americano Herbie Hancock,
peso-pesado do jazz que mostrará trabalho, no mínimo, diferente. Dia 23,
ele tocará ao ar livre com os jovens Flying Lotus (produtor
especializado em música eletrônica e rapper) e Thundercat (pseudônimo do
eclético baixista Stephen Bruner), o baterista Vinnie Colaiuta (craque
que acompanha Hancock há anos) e Zakir Hussain, indiano que, desde os
anos 1970, é o nome maior da tabla (instrumento de percussão típico).
RENOVAÇÃO
No
caso da programação de Ouro Preto, chama a atenção a presença de dois
artistas de origem árabe, ambos dedicados a renovar a música de sua
região, ainda hoje marcada por tradicionalismo e estereótipos. De um
lado, o jordaniano Tareq al Nasser (dia 31, na Casa da Ópera), que tem
experiência com trilhas sonoras e aposta na fusão de instrumentos e
gêneros de seu país e do Ocidente, acompanhado por orquestra de 20
integrantes. Do outro, o libanês Ibrahim Maalouf (dia 29, na Praça
Tiradentes), que traz o molho árabe para o trompete, posicionando-o de
forma moderna no jazz.
“Uma das nossas maiores conquistas é fazer
com que o público do Mimo tenha a mesma curiosidade pela música que eu
tenho. Os concertos estão sempre lotados”, comemora Lu Araújo, uma das
responsáveis pela escolha dos artistas que virão para o evento. Outro
nome que também chamou a sua atenção foi o de Stephan Micus, que
trabalha apenas com instrumentos étnicos. “Ele entra numa cultura,
procura o que é forte e esteja em extinção, aprende a tocar o
instrumento em questão e depois funde isso a outras referências”. Ele
tocará na Basílica do Pilar na abertura do Mimo, dia 29.
Ela
também destaca a vinda do saxofonista francês Guillaume Perret, autor de
som bastante particular, que se apresentará dia 29, na Praça
Tiradentes. “Ele faz um som bastante diferente. Meio rock and roll, mas
instrumental e com o seu saxofone”, conta a produtora. Será a estreia do
artista no Brasil. Segundo Lu, a escolha dos nomes desta edição do Mimo
reflete sua preocupação em manter o evento sintonizado ao que mais
desperta interesse atualmente em termos de música, independentemente de
onde venha. Para o ano que vem, adianta, já há três grandes atrações
confirmadas.
NA REDE
Aspirando não ficar
restrito às datas dos shows, o Mimo prepara este ano série de ações para
manter em alta o interesse do público pelo música que promove. O portal
do evento na internet (www.mimo.art.br) passa a ter conteúdos de
música, patrimônio histórico e cinema, além de informações sobre o
festival e a cobertura da programação em tempo real.
A webradio
própria, por sua vez, terá playlists de artistas de diversas partes do
mundo. Há, ainda, aplicativos sobre as cidades históricas (que servirão
de guias turísticos), ciclos de palestras, exposição de fotos sobre os
10 anos do festival e programas educativos em seis cidades.
três perguntas para...
Tareq al Nasser
músico e compositor
Sua música tem elementos ancestrais e modernos, orientais e ocidentais. Como você faz essa fusão e quais são os limites?
Há
algo chamado música global, que ainda não foi definido, e há elementos
estéticos quando são usados vários tipos de música. Isso é o que me faz
sentir que não há limites, que a música tornou-se conectada à humanidade
e à história. Essa coisa de “sem limite” encoraja e dá mais espaço e
visão. Falamos em fusão, mas não podemos ignorar a originalidade, já que
ninguém pode mudar isso. Quando a fusão é feita entre duas culturas
diferentes, há limites e eles previnem qualquer violação de
originalidade, uma vez que nenhuma cultura pode ofuscar o outra. Fusão
acrescenta mais beleza à música, onde quer que ocorra.
Algumas de suas composições foram originalmente escritas para a TV. Escrever para a TV é diferente de escrever para o grupo Rum?
Música
absoluta é diferente de música de estúdio, uma vez que a segunda é uma
ciência em si. A música absoluta se beneficiou da música de estúdio, mas
isso me afetou pessoalmente. Houve efeitos positivos e negativos, mas
prefiro ver os efeitos positivos, pois me fizeram experimentar
diferentes mundos musicais. No meu caso, não há muita diferença entre
elas, pois ambas são originadas no fundo do coração, apesar de os
instrumentos utilizados em ambas serem diferentes. A música de estúdio
me deu oportunidade de descobrir tipos diferentes de instrumentos, mas
não métodos musicais.
Além de você, quem são os artistas que estão renovando a música árabe hoje?
Há
muitos artistas tentando renovar a música árabe, mas não tenho certeza
sobre o resultado. Estamos no caminho para essa renovação e alguns
artistas têm feito grandes progressos. Muitos fizeram tentativas
bem-sucedidas, como Ziad Rahbani, filho da famosa cantora libanesa
Fairuz. Ele nos levou na direção da renovação da música árabe e foi
influenciado pelo jazz e jazz latino. Eu o tenho em alta estima. Omar
Khairat, compositor egípcio, introduziu a música árabe para nós e ela
ainda preserva sua autenticidade, espírito e aspectos orientais. Renovar
a música árabe é importante para renovar nossas almas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário