O pibinho americano
Os números do PIB americano trouxeram um pouco de bom-senso aos espíritos dos mais afobados
A imprensa brasileira tem usado a expressão "pibinho" para descrever --e ridicularizar-- o nosso crescimento econômico na era Dilma. Muito dessa expressão representa uma reação bem brasileira ao eterno excesso de otimismo do ministro da Fazenda ao falar sobre o futuro da economia.
Pois a divulgação final dos números do crescimento nos Estados Unidos, no primeiro trimestre do ano, foi recebida com o mesmo sentimento de frustração pelos mercados financeiros. Esperava-se um aumento do PIB da ordem de 2,4% ao ano e o número final foi de apenas 1,8% ao ano, um verdadeiro "pibinho".
Na métrica usada pelo IBGE no Brasil, teríamos na maior economia do mundo, nestes primeiros três meses do ano, um crescimento de 0,45%, ante 0,60% no Brasil.
Mas é importante entender que os EUA vivem uma dinâmica econômica bastante diferente da brasileira e, nessas condições, comparar taxas de crescimento pode levar a conclusões erradas e perigosas.
No Brasil, a dificuldade de crescer vem principalmente do esgotamento de um ciclo criado pela ocupação de espaços ociosos de oferta na economia, em resposta principalmente a estímulos fiscais e de crédito criados pelo governo.
Nos Estados Unidos, ainda é muito grande a ociosidade em partes importantes do tecido econômico, principalmente no mercado de trabalho e no sistema bancário, e por isso a economia vem trabalhando bem abaixo de seu potencial.
Por outro lado, a política fiscal nesta primeira metade do ano tem sido um fator de contração da demanda, com uma redução importante do deficit das contas públicas.
A atividade econômica, medida apenas no setor privado da economia, cresceu nestes primeiros três meses do ano a uma taxa anual bem mais elevada (2,75%). Ou seja, a política fiscal de ajuste do deficit orçamentário, depois de vários anos de política fiscal expansionista anticíclica, está reduzindo em mais de 1% ao ano o crescimento americano em 2013.
Mesmo com esse freio funcionando deliberadamente, a economia já se encontra em uma fase inicial de recuperação do crescimento, depois de mais de cinco anos de crise financeira. Um fato que deve ser comemorado por todos os países, desenvolvidos ou emergentes, com entusiasmo.
Foi nesse ambiente de retomada de um crescimento sustentado que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, comunicou ao mercado que começaria a normalizar a política monetária até o fim de 2013.
Em entrevista logo após a reunião do Fomc --equivalente ao nosso Copom--, o presidente do Fed descreveu uma agenda muito cuidadosa e cheia de qualificações dos próximos passos na direção de uma política monetária clássica.
Claramente ele temia uma reação exagerada dos mercados e que uma alta nos juros americanos, muito acima da desejada pela autoridade monetária, poderia abortar essa recuperação.
Apesar do cuidado de suas palavras, essa decisão provocou um abalo importante nos negócios financeiros pelo mundo afora. Os juros dos títulos do Tesouro americano de dez anos de prazo --que já vinham aumentando em razão das expectativas-- deram um pulo de mais de 0,5 ponto percentual, arrastando nesse movimento as Bolsas de Valores no mundo todo e as moedas dos países emergentes.
Na rudimentar opinião dos mercados, uma normalização dos juros nos EUA vai fazer com que a maior parte do dinheiro que circula hoje em países como o Brasil volte correndo para Wall Street, deixando à míngua essas economias.
Mas números do PIB norte-americano, divulgados anteontem, trouxeram um pouco de bom-senso aos espíritos dos mais afobados ao mostrar que a tão cantada normalização dos juros vai ter que esperar dias melhores na maior economia do mundo.
Com isso, certa calma voltou aos mercados emergentes, com queda nos juros, fortalecimento das moedas desses países e uma tímida recuperação dos preços das ações.
Minha expectativa é que nas próximas semanas essa percepção de que o dia do ajuste final só ocorrerá em 2014 consolide esse movimento de recuperação dos mercados emergentes.
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