sexta-feira, 28 de junho de 2013

Reforma imigratória avança nos EUA

folha de são paulo
Senado aprova proposta para regularizar até 11 milhões de pessoas, mas texto deve sofrer resistência na Câmara
Projeto é uma das principais promessas de campanha de Obama e conta com apoio de empresas de tecnologia
RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTONO Senado americano aprovou ontem, com 68 votos favoráveis e 32 contrários, a maior reforma imigratória do país em décadas. Agora o projeto vai para a Câmara dos Deputados, onde sofre maior oposição.
Com o apoio de 54 democratas e apenas 14 republicanos no Senado, a reforma cria um processo de legalização escalonada, que pode levar até 13 anos, para os 11 milhões de imigrantes sem papéis nos Estados Unidos.
Ela também aumenta gradualmente a emissão de vistos de trabalho H-1B para trabalhadores altamente qualificados, os que ganham acima de US$ 115 mil dólares (cerca de R$ 253 mil) por ano.
Autoriza ainda o investimento de US$ 30 bilhões (R$ 66 bilhões) na segurança da fronteira do país com o México, uma das principais exigências da oposição republicana para aprovar a lei.
Os 3.141 quilômetros de fronteira terão uma sucessão de muros e cercas, passando por quatro Estados americanos, e o número de guardas pulará de 21 mil para 40 mil --ainda que, nos últimos quatro anos, a entrada de imigrantes pela fronteira seja a menor em 30 anos.
A reforma imigratória virou uma das maiores promessas de campanha da reeleição do presidente Barack Obama em 2012.
Como 73% dos hispânicos votaram em Obama no ano passado, muitos republicanos achavam que era hora de se reconciliar com as minorias de imigrantes para reduzir a rejeição ao partido entre os latinos.
Mas os republicanos encontram-se divididos. Muitos calculam que a reforma simplesmente dará voto a 11 milhões de possíveis eleitores democratas.
Vários deputados republicanos foram eleitos em distritos majoritariamente brancos e com poucos estrangeiros, que se opõem à reforma.
Mas tanto associações de empresários quanto sindicatos, antes contrários à reforma, apoiam a legalização. Sindicalistas dizem que imigrantes sem papéis são mais vulneráveis e puxam salários para baixo.
VALE DO SILíCIO
Facebook, Apple, Microsoft, Yahoo! e Google estiveram entre os maiores lobistas para a aprovação da reforma. Essas empresas criaram uma associação no início do ano para promover a reforma.
Os empresários do setor se queixam que os 85 mil vistos concedidos anualmente para especialistas em tecnologia se esgotam em apenas 10 semanas. A reforma aumenta o número desses vistos a 180 mil.
CÂMARA
Agora, o projeto será votado na Câmara dos Deputados, onde os republicanos são maioria. Lá, a reforma não deve passar tão facilmente. Ted Cruz, deputado do Texas e estrela ascendente dos republicanos, já chamou a reforma de "anistia para criminosos".
    Para ex-secretário de Bush, republicanos precisam de mudança
    Carlos Gutierrez defende apoio a imigrantes para evitar que partido fique cada vez menor
    PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULOA sobrevivência do partido republicano americano depende da aprovação da reforma da imigração, que agora segue para votação na Câmara, onde a sigla tem maioria.
    Esse é o alerta de Carlos Gutierrez, ex-secretário de comércio do governo George W. Bush, que hoje preside o grupo "Republicans for Immigration Reform" (republicanos pela reforma imigratória).
    Veja os principais trechos da entrevista à Folha.
    Folha - Muitos republicanos que irão enfrentar primárias em 2014 temem ser atacados por candidatos da extrema direita se apoiaram a reforma...
    Carlos Gutierrez - Isso tem acontecido muito, e nós tentamos ser uma espécie de defesa para eles.
    Quem no partido republicano apoia a reforma?
    Principalmente empresários. Eles entendem que o que faz o partido poderoso é sua ideologia econômica ­--livre mercado, baixos impostos e redução do Estado-- e não questões sociais. Gastamos tanto tempo falando sobre tudo o que somos contra --aborto, imigração, gays... Ora, isso representa 50% da população.
    Foi como o senador Marco Rubio disse: os hispânicos podem até apoiar nossas propostas para a economia e os impostos, mas, se acharem que queremos deportar a avó deles, não vão votar na gente.
    Quem se opõe à reforma, além da extrema direita e quem tem medo das primárias?
    Também há quem acredita que os imigrantes ilegais são democratas sem documentos. Ou seja, por que dar a chance para eles votarem?
    A aprovação da reforma é essencial para a sobrevivência do partido republicano?
    Se o partido não apoiar a reforma e, consequentemente, não atrair o voto hispânico, vai ficar cada vez menor. Talvez possamos conseguir eleição em 2016, por causa da fadiga de Obama, mas em 2020, 2024, estamos condenados a virar um partido regional.
    O que você acha que vai acontecer na Câmara?
    A Câmara pode acabar aprovando uma lei que é tão extrema para a direita que não poderá ser "reconciliada" com a lei do Senado. Se for muito dura em relação à segurança da fronteira, mas não fizer concessões para a legalização dos 11 milhões de ilegais, por exemplo.
      Saúde de Mandela ofusca visita de Obama
      Presidente dos EUA chega hoje à Africa do Sul e tentará visitar o líder antiapartheid
      FÁBIO ZANINIENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGOO presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, inicia hoje uma aguardada, mas azarada, visita à África do Sul. Pela manhã estão marcados protestos organizados por aliados do mesmo governo que o recebe em Pretória.
      Nada deve importar muito, no entanto: a viagem deve ser totalmente ofuscada pelo estado de saúde do ex-presidente Nelson Mandela.
      Mandela, 94, permanecia ontem internado em estado crítico. Ao longo do dia, o governo sul-africano deu informações contraditórias sobre a situação dele, que sofre de crise respiratória. Pela manhã, o porta-voz da Presidência, Mac Maharaj, disse que a condição do líder havia se deteriorado muito.
      Mas, à tarde, o próprio presidente Jacob Zuma desmentiu o auxiliar, afirmando que Mandela estava "bem melhor", embora em situação ainda delicada.
      Uma visita de Obama a Mandela é improvável, para frustração do líder americano. Segundo assessores, ele contava com o encontro para simbolizar sua preocupação com a África e contraditar acusações de que negligencia o continente de seu pai (que era queniano).
      Obama esteve só uma vez na África subsaariana, em Gana, em 2009. Os EUA vêm perdendo espaço no continente, sobretudo para a China, hoje líder em investimentos nos países africanos.
      O presidente começou seu giro africano no Senegal e termina na Tanzânia. Ontem, ele pediu aos governos no continente que parem de criminalizar a homossexualidade e elogiou a decisão da Suprema Corte dos EUA que reconheceu benefícios federais aos casais gays. Para o presidente, foi uma "vitória da democracia".
      Em território sul-africano, além de encontro com Zuma, Obama deve visitar um dos locais mais associados à figura de Mandela: o antigo presídio de Robben Island, na Cidade do Cabo, onde o ícone antiapartheid passou 18 de seus 27 anos de prisão.
      A chegada de Obama deve coincidir com um protesto convocado pela Cosatu, maior central sindical do país, e pelo Partido Comunista Sul-Africano (SACP), além de grupos menores. Cosatu e SACP fazem parte do governo Zuma.
      O protesto, segundo Bongani Masuku, secretário de Relações Internacionais da Cosatu, tem vários alvos: a militarização da política externa dos EUA, sobretudo com o uso de drones (aviões não tripulados), o apoio a Israel e a relação econômica desigual Norte-Sul.
      "Não há constrangimento para o governo, porque não estamos protestando contra a pessoa de Obama, mas contra aspectos do poder americano", disse Masuku.
      A marcha deve terminar na embaixada dos EUA, em Pretória, e tem o título de "Nobama" ("Não a Obama").

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