Senado aprova proposta para regularizar até 11 milhões de pessoas, mas texto deve sofrer resistência na Câmara
Projeto é uma das principais promessas de campanha de Obama e conta com apoio de empresas de tecnologia
Com o apoio de 54 democratas e apenas 14 republicanos no Senado, a reforma cria um processo de legalização escalonada, que pode levar até 13 anos, para os 11 milhões de imigrantes sem papéis nos Estados Unidos.
Ela também aumenta gradualmente a emissão de vistos de trabalho H-1B para trabalhadores altamente qualificados, os que ganham acima de US$ 115 mil dólares (cerca de R$ 253 mil) por ano.
Autoriza ainda o investimento de US$ 30 bilhões (R$ 66 bilhões) na segurança da fronteira do país com o México, uma das principais exigências da oposição republicana para aprovar a lei.
Os 3.141 quilômetros de fronteira terão uma sucessão de muros e cercas, passando por quatro Estados americanos, e o número de guardas pulará de 21 mil para 40 mil --ainda que, nos últimos quatro anos, a entrada de imigrantes pela fronteira seja a menor em 30 anos.
A reforma imigratória virou uma das maiores promessas de campanha da reeleição do presidente Barack Obama em 2012.
Como 73% dos hispânicos votaram em Obama no ano passado, muitos republicanos achavam que era hora de se reconciliar com as minorias de imigrantes para reduzir a rejeição ao partido entre os latinos.
Mas os republicanos encontram-se divididos. Muitos calculam que a reforma simplesmente dará voto a 11 milhões de possíveis eleitores democratas.
Vários deputados republicanos foram eleitos em distritos majoritariamente brancos e com poucos estrangeiros, que se opõem à reforma.
Mas tanto associações de empresários quanto sindicatos, antes contrários à reforma, apoiam a legalização. Sindicalistas dizem que imigrantes sem papéis são mais vulneráveis e puxam salários para baixo.
VALE DO SILíCIO
Facebook, Apple, Microsoft, Yahoo! e Google estiveram entre os maiores lobistas para a aprovação da reforma. Essas empresas criaram uma associação no início do ano para promover a reforma.
Os empresários do setor se queixam que os 85 mil vistos concedidos anualmente para especialistas em tecnologia se esgotam em apenas 10 semanas. A reforma aumenta o número desses vistos a 180 mil.
CÂMARA
Agora, o projeto será votado na Câmara dos Deputados, onde os republicanos são maioria. Lá, a reforma não deve passar tão facilmente. Ted Cruz, deputado do Texas e estrela ascendente dos republicanos, já chamou a reforma de "anistia para criminosos".
Para ex-secretário de Bush, republicanos precisam de mudança
Carlos Gutierrez defende apoio a imigrantes para evitar que partido fique cada vez menor
Esse é o alerta de Carlos Gutierrez, ex-secretário de comércio do governo George W. Bush, que hoje preside o grupo "Republicans for Immigration Reform" (republicanos pela reforma imigratória).
Veja os principais trechos da entrevista à Folha.
Folha - Muitos republicanos que irão enfrentar primárias em 2014 temem ser atacados por candidatos da extrema direita se apoiaram a reforma...
Carlos Gutierrez - Isso tem acontecido muito, e nós tentamos ser uma espécie de defesa para eles.
Quem no partido republicano apoia a reforma?
Principalmente empresários. Eles entendem que o que faz o partido poderoso é sua ideologia econômica --livre mercado, baixos impostos e redução do Estado-- e não questões sociais. Gastamos tanto tempo falando sobre tudo o que somos contra --aborto, imigração, gays... Ora, isso representa 50% da população.
Foi como o senador Marco Rubio disse: os hispânicos podem até apoiar nossas propostas para a economia e os impostos, mas, se acharem que queremos deportar a avó deles, não vão votar na gente.
Quem se opõe à reforma, além da extrema direita e quem tem medo das primárias?
Também há quem acredita que os imigrantes ilegais são democratas sem documentos. Ou seja, por que dar a chance para eles votarem?
A aprovação da reforma é essencial para a sobrevivência do partido republicano?
Se o partido não apoiar a reforma e, consequentemente, não atrair o voto hispânico, vai ficar cada vez menor. Talvez possamos conseguir eleição em 2016, por causa da fadiga de Obama, mas em 2020, 2024, estamos condenados a virar um partido regional.
O que você acha que vai acontecer na Câmara?
A Câmara pode acabar aprovando uma lei que é tão extrema para a direita que não poderá ser "reconciliada" com a lei do Senado. Se for muito dura em relação à segurança da fronteira, mas não fizer concessões para a legalização dos 11 milhões de ilegais, por exemplo.
Saúde de Mandela ofusca visita de Obama
Presidente dos EUA chega hoje à Africa do Sul e tentará visitar o líder antiapartheid
Nada deve importar muito, no entanto: a viagem deve ser totalmente ofuscada pelo estado de saúde do ex-presidente Nelson Mandela.
Mandela, 94, permanecia ontem internado em estado crítico. Ao longo do dia, o governo sul-africano deu informações contraditórias sobre a situação dele, que sofre de crise respiratória. Pela manhã, o porta-voz da Presidência, Mac Maharaj, disse que a condição do líder havia se deteriorado muito.
Mas, à tarde, o próprio presidente Jacob Zuma desmentiu o auxiliar, afirmando que Mandela estava "bem melhor", embora em situação ainda delicada.
Uma visita de Obama a Mandela é improvável, para frustração do líder americano. Segundo assessores, ele contava com o encontro para simbolizar sua preocupação com a África e contraditar acusações de que negligencia o continente de seu pai (que era queniano).
Obama esteve só uma vez na África subsaariana, em Gana, em 2009. Os EUA vêm perdendo espaço no continente, sobretudo para a China, hoje líder em investimentos nos países africanos.
O presidente começou seu giro africano no Senegal e termina na Tanzânia. Ontem, ele pediu aos governos no continente que parem de criminalizar a homossexualidade e elogiou a decisão da Suprema Corte dos EUA que reconheceu benefícios federais aos casais gays. Para o presidente, foi uma "vitória da democracia".
Em território sul-africano, além de encontro com Zuma, Obama deve visitar um dos locais mais associados à figura de Mandela: o antigo presídio de Robben Island, na Cidade do Cabo, onde o ícone antiapartheid passou 18 de seus 27 anos de prisão.
A chegada de Obama deve coincidir com um protesto convocado pela Cosatu, maior central sindical do país, e pelo Partido Comunista Sul-Africano (SACP), além de grupos menores. Cosatu e SACP fazem parte do governo Zuma.
O protesto, segundo Bongani Masuku, secretário de Relações Internacionais da Cosatu, tem vários alvos: a militarização da política externa dos EUA, sobretudo com o uso de drones (aviões não tripulados), o apoio a Israel e a relação econômica desigual Norte-Sul.
"Não há constrangimento para o governo, porque não estamos protestando contra a pessoa de Obama, mas contra aspectos do poder americano", disse Masuku.
A marcha deve terminar na embaixada dos EUA, em Pretória, e tem o título de "Nobama" ("Não a Obama").
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