Já ouviu falar no PNE? Pois deveria
Voto distrital com recall? Constituinte específica? Movimentos sociais com CIC e RG? Greves eternas como as neves do Kilimanjaro?
Bem, tudo isso foi antes do início das férias de julho. Bastou começar o recesso escolar e o João Dória abrir oficialmente a temporada de ocupar 30 cm quadrados na calçada da estação de esqui de faz de conta de Campos do Jordão --aquela em que todo mundo torce para acordar em Bariloche, se veste como se morasse na Lapônia e parece pronto para sair esquiando pelas pistas de Aspen, mesmo sabendo que a neve nunca virá-- para a gente esquecer de toda a empolgação contra injustiças sociais, corrupção e a baixa qualidade dos serviços oferecidos.
Está certo que a culpa por tudo o que há de errado não pode ser atribuída apenas a este ou aquele governinho filho de uma égua. Neste pouco mais de mês de manifestações já deu para perceber que existe um quinhão de responsabilidade que cabe a cada um de nós, tenhamos ou não tomado a singela atitude política de deixar de dar bom dia ao porteiro ou passagem no trânsito a quem vem na preferencial.
De 1 milhão nas ruas para a desmobilização quase completa. Paulinho da Força e sua turma não contam. São o equivalente do marketing de si mesmo de um Suplicy cantando "Blowing in the Wind" no plenário.
Mas vamos tirar lição em vez de desanimar. Há um fio condutor na história. Seja do lado das reivindicações, seja das propostas dos governantes, percebe-se falta de propósito na formulação das ideias.
Aberta a temporada de exigências, queremos tudo. Transporte de graça, todos os corruptos no xilindró, remédios de graça, implosão dos estádios da Copa e a amputação dos nove dedos restantes do Lula.
Enquanto isso, no Congresso da vida real, continuam a tramitar projetos que estão lá desde a época dos Croods sem que ninguém dê a mínima. Estamos muito ocupados com a vida social do Sérgio Cabral, com os royalties de um petróleo que eu nunca vi mais gordo e nem sei se vou viver para ver e com a venalidade da Câmara --zzzzzzz...!
Mas tudo isso deveria passar em segundo plano diante de questão maior: educação. Ou a falta que faz.
Em um país que por décadas construiu seu sistema de educação baseado na exclusão da maioria (quem se lembra do famigerado "exame de admissão" que varria 70% dos alunos da escola no 5º ano ginasial?), que sentido tem dar ênfase aos gastos da Copa?
Há mais de dois anos tramita no Congresso o PNE (Plano Nacional de Educação), apresentado pelo MEC, que traça 20 metas para a educação no Brasil para os próximos dez anos. Tudo muito simples, direto, objetivo, claro. E urgente.
Já ouviu falar? Foi para a rua pedir sua aprovação? O plano, importantíssimo, está recebendo a atenção que merece? Óbvio que não. Faz dois anos que ganha uma emenda aqui e outra ali (já passam de 3.000) e continua jogado na gaveta a espera de votação.
É claro que tudo é prioridade num país em que mais de 50% da população não conta com coleta de esgoto. E sabemos que é válido falar sobre médico vindo de Cuba, da China ou de Timbuktu ou sobre violência urbana, arrastão a restaurante da burguesia ou chacina na periferia que aumentaram em razão do tráfico de drogas. Tudo tem importância.
Mas, na minha pauta particular de manifestações, eu priorizo cinco itens: 1) educação; 2) educação; 3) educação; 4) educação e 5) educação. Sem eles, não dá para pensar em nenhuma outra reivindicação.
Barbara Gancia, mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal. É colunista do caderno "Cotidiano" e da revista "sãopaulo".
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