segunda-feira, 22 de julho de 2013

Entrevista Daphne Koller - Yuri Gonzaga

folha de são paulo
O mundo precisa dos cursos virtuais para instrução superior
Cofundadora da plataforma Coursera, de cursos virtuais, diz que universidade não pode ser substituída, mas nunca será para todos
YURI GONZAGADE SÃO PAULO
Nascida e formada em Israel, Daphne Koller, 45, professora de ciência da computação na Universidade Stanford (EUA), lançou no ano passado um site de educação a distância, o Coursera.org, que tem 83 instituições parceiras --entre as quais estão a Universidade Harvard e o MIT-- e que anunciou no dia 10 ter recebido US$ 43 milhões em novos investimentos.
Em entrevista à Folha por telefone, Koller explica por que acha que a universidade nunca será substituída por completo (mas seguirá sendo um privilégio) e fala sobre o novo aporte, uma parceria com a USP e o "entusiasmo" dos brasileiros que usam a plataforma.
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Aonde os novos investimentos levam o Coursera?
A novos públicos e aos dispositivos móveis. Os trabalhos de internacionalização incluem mais traduções e esforços para chegar a outros países. Também acabamos de contratar um desenvolvedor "mobile", para que as pessoas possam usar o Coursera enquanto se deslocam e para chegar a lugares com menor conectividade, como o mundo em desenvolvimento.
Países pobres precisam mais da educação a distância?
Há uma carência maior. Nos EUA ponderamos sobre se a universidade que fez uma pessoa é melhor que a que fez a outra, e essa é uma questão importante. Mas há países em que a questão é: "Existe uma universidade?". É desse tipo de lugar que estou falando.
Na Índia, existe um projeto para aumentar de 13% para 30% o índice de formação superior. Para isso, o país teria que construir um número estimado de 1.600 universidades. Mesmo se você puser de lado o problema logístico da construção, se essas universidades existissem não haveria professores o suficiente para lecionar nelas. Por isso é que você precisa de um método alternativo.
E isso na Índia, que tem um sistema de educação relativamente avançado. Imagine na África, países do sudeste asiático ou mesmo o Brasil. A capacidade é ainda menor.
A universidade pode ser substituída por cursos on-line?
Pode ser substituída no ensino de pessoas já graduadas e que querem expandir seu conhecimento, mas, no geral, não. A universidade exerce papéis geralmente postos de lado e que vão além da simples instrução, como a geração de conteúdo científico. Além disso, ela não só treina os estudantes, mas também os socializa e os ensina a serem pessoas melhores.
Qual a importância do Brasil para o Coursera?
Uma parcela de por volta de 5% da nossa base de usuários é composta por brasileiros --um índice muito alto. Uma coisa que percebi sobre eles é o quão apaixonados são pelo site. Eles demonstram muito mais do que outros grupos estar gratos pela oportunidade e entusiasmados em poder colaborar, trabalhando em traduções, por exemplo.
Atualmente, não há no site conteúdo criado em português. Isso vai mudar?
Sim. Acho que precisamos tanto continuar traduzindo o material que já existe quanto produzir um voltado para as pessoas que falam português --não só no Brasil, mas em várias partes do mundo.
Estamos bastante empolgados com a possibilidade de fazer parcerias, como uma com a Universidade de São Paulo --seria ótimo se eles se dispusessem a criar conteúdo para os falantes de português.
Há uma parceria com a USP?
Ainda não há nada finalizado, mas, sim, estamos trabalhando nisso.
Site brasileiro já tem 3 cursos com certificado
DE SÃO PAULODesde o mês passado, a USP oferece cursos de física e de estatística on-line no site Veduca, que terão prova presencial para emitir um certificado.
No último dia 11, foi a vez da federal UnB (Universidade de Brasília) passar a oferecer o seu primeiro curso certificado no serviço, de bioenergética.
Somados, os três cursos já atraíram 15 mil pessoas, segundo a empresa.
As provas serão as mesmas que são aplicadas a alunos presenciais e terão a supervisão dos próprios professores responsáveis pela disciplina, conta o fundador do Veduca, Carlos Souza, 32.
"Damos prioridade às áreas que carecem de mais profissionais no Brasil, como as tecnológicas e de engenharia", diz.
As próximas universidades que lançarão cursos pelo Veduca são a FGV, o ITA, a PUC-Rio e a UFPB --Unesp e Unicamp já oferecem algumas disciplinas.
Atualmente, o serviço tem 110 mil usuários com cadastro --que não é obrigatório--, e acumulou 400 mil visitas no mês passado. Segundo Souza, a meta é levar esse número a 1 milhão até o fim do ano.
AUDACIOSO
Em maio deste ano, a start-up de educação a distância Udacity anunciou que vai oferecer no ano que vem um curso de mestrado em ciências da computação totalmente on-line, o primeiro do tipo no mundo, que será reconhecido pelo sistema educacional dos EUA.
O curso custará US$ 7.000, cerca de R$ 15,6 mil, terá duração de cerca de três anos e é fruto de uma parceria com o conceituado Instituto de Tecnologia da Geórgia. Quem quer só assistir às aulas, sem ganhar o certificado, poderá vê-las de graça. Há mais informações no site udacity.com/georgiatech.
Outro serviço popular de educação on-line é o edX (edx.org).

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