quarta-feira, 17 de julho de 2013

FERNANDO BRANT » O pequeno tomateiro‏

Os congressistas, medrosos diante da vozes das praças, saem aprovando barbaridades demagógicas 


Estado de Minas: 17/07/2013 


É preciso prestar atenção às pequenas coisas que acontecem ao nosso redor. Não é só uma homenagem à vida, mas uma maneira de se integrar ao que há de natural e surpreendente no chão que pisamos, na beleza eterna do que nos envolve desde o dia em que nascemos. Respirar fundo o ar que nos é dado desfrutar ininterruptamente e é motivo para estarmos vivos. Reparar nas mudanças na grama e nas folhas (para isso, no meu caso, necessários são os óculos contra a miopia), nos pássaros que pousam ou bebem a água limpa da piscina. Reparar no céu azul de inverno, sem nuvens, claro como em poucos lugares do mundo. Exuberante.

Sentar ao sol e aquecer o corpo, sugar a energia que dele vem. Pensar em crianças brincando, correndo alegres e inocentes pelo jardim. É assim que desejo prosseguir na viagem humana para a qual fui escalado e procuro fazer o melhor. O que aprendi nos meus tempos de menino, o que a casa, a escola e o mundo me ensinaram, busco passar para frente, transmitir à descendência e compartilhar com os amigos.


Quero os beijos das pessoas amadas, abraços solidários, conselhos e afetos. Principalmente quando a realidade nos joga na cara os podres da mentira, da violência e da incompetência. Ainda está fresca a memória do movimento dos brasileiros em centenas de cidades, momentos mágicos em que gente de todas as idades resolveu ir às ruas para protestar contra tudo o que não agrada aos cidadãos.


Cada um tem a sua lista de prioridades, mas está evidente que o mundo político está estagnado em suas atividades, cuidando de irrelevâncias que só a ele interessam, deixando de lado, esquecidas e na penumbra, as reais necessidades da maioria. Todos nós sabemos que a educação de qualidade é ponto de partida para cada um e para o país se desenvolver. Há muito discurso e nenhuma ação efetiva. A saúde é o bem maior de todos, mas se investe pouco e o dinheiro que surge é comido pela corrupção e pela incompetência.


E o transporte público, triturador diário dos trabalhadores das cidades? E as estradas assassinas, o saneamento básico inexistente e a insegurança pública?


Os congressistas, acuados, medrosos diante da vozes das praças, saem aprovando barbaridades demagógicas. Não entenderam nada e parece que dificilmente, em sua maioria, vão entender. E aprovam, como se estivéssemos em tempo de guerra, em um só dia, sem discussão, um horroroso projeto de lei que interfere, contra a Constituição e suas cláusulas pétreas, nos direitos de mais de 200 mil autores musicais. Eles pensam, diante da pressão de alguns artistas, que fizeram a coisa certa. Não fizeram. O jogo político se encerrará com a sanção da presidente. Do outro lado da Praça dos Três Poderes, o Supremo Tribunal Federal definirá a questão.


Entusiasmei-me tanto que me esqueci de dizer: nesses dias de inverno, um pequeno tomateiro brotou espontaneamente em meu quintal. Admiração e espanto é o que sinto diante dele. Viva a vida!

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