quarta-feira, 17 de julho de 2013

Dilma, começar de novo - Vinicius Torres Freire

folha de são paulo
Presidente não tem tempo de implementar política econômica, educacional ou de saúde
É DIFÍCIL IMAGINAR alguma iniciativa séria de governo que possa levantar o prestígio de Dilma Rousseff. Isto é, séria e popular, de "amplo espectro", como se diz de antibióticos e antidepressivos modernos.
Por falar em antidepressivos, pode ser que a obscura psicologia popular devolva à presidente uma dezena de pontos de popularidade até antes do final do ano. Com uns quarenta e poucos pontos de aprovação, Dilma teria histórias para contar aos aliados para a eleição de 2014.
No entanto, embora ainda vença a eleição contra qualquer um dos candidatos postos, Dilma ainda não se recuperou do tombo de junho. Afora genialidades marqueteiras, o que a presidente pode fazer?
Não foi propriamente a economia que a derrubou, apesar dos estragos causados pela revolta do tomate (inflação crescente). Difícil acreditar que a economia vá tirar o prestígio presidencial da cercania do rodapé, se mais não fosse porque:
1) retomadas econômicas levam tempo. Mais tempo do que o disponível até a campanha eleitoral;
2) no presente caso, as coisas piorariam antes de melhorar (depois da eleição de 2014, no mínimo);
3) não há milagre externo no forno, que pudesse dar um tranco (para a frente) no Brasil. Ao contrário;
4) o governo não se mostrou disposto a rever a política econômica;
5) o governo (e, depois, os protestos) criou tamanha má vontade contra si mesmo no meio empresarial que mesmo algumas medidas sensatas e relevantes não vão colar muito. Muita gente graúda na finança e nas empresas, que agora diz coisas indizíveis e impublicáveis sobre a presidente e cia., quer que o governo entregue os pontos.
Obviamente nem só de economia quer saber o povo (vide junho) e não faltam problemas para resolver no Brasil. Porém, nenhuma reforma séria vai fazer efeito prático tão cedo. Havendo reforma, não se sabe se o eleitorado vai reconhecer o "sprint" final, o esforço presidencial de se encarregar de um pepino antigo. O problema, mesmo, porém, nem é esse. O governo não tem nem jamais teve plano para lidar com os problemas que estão no radar popular.
Corrupção não acaba nem na república dos anjos; depende também de reforma de procedimentos judiciais etc. Mas a coisa começa a andar com reforma administrativa, simplificação do governo e a criação de medidas de eficiência (se não sabemos quão eficientes somos, não temos medidas de desperdício). Isso não passou pelo programa de Dilma.
Nunca houve plano de passar um pente no SUS. A presidente mal falava de educação até a metade do seu mandato. No caso dos transportes, dedica-se até hoje ao disparate do trem-bala.
Tudo se passava como se a "infraestrutura social" do país estivesse nos trilhos, bastando apenas passar um batom ou fazer um aplique: medidas superficiais ou cosméticas, mesmo.
Dilma jamais teve um programa de reformas, por desgosto do Congresso ou por não ter preocupação com danos estruturais do SUS e do método falido de educar no Brasil.
Agora, não vai dar tempo de realizar nada, pois falta projeto. Mas tentar discutir e fazer um projeto, em vez de baixar decretos cosméticos, seria já um serviço. Mesmo que não renda muito voto. Que ela terá de qualquer modo de buscar com a marquetagem ou com a sorte.
vinit@uol.com.br

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