GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Uma rede social criada por um médico brasileiro pretende facilitar a comunicação entre os centros de pesquisa e as empresas farmacêuticas que precisam de testes clínicos --pesquisas com voluntários que avaliam a segurança e a eficácia dos remédios.
Os testes são necessários para a liberação de novas drogas e, quanto mais amplos e diversificados, inclusive quanto ao tipo de população estudada, mais confiáveis tendem a ser seus resultados.
Mas, para as equipes que projetam esses ensaios, em geral concentradas nos EUA e na Europa, pode ser difícil conseguir informações sobre as capacidades técnicas e humanas de centros de pesquisa de outras partes do mundo, inclusive do Brasil.
Os testes clínicos movimentam cerca de US$ 50 bilhões por ano no mundo. Mas, devido ao baixo número deles feito no Brasil --pouco mais de 1% do total mundial--, o país fica com uma pequena parte dessa bolada.
São Paulo está entre as dez cidades com mais instituições aptas a receber testes clínicos. Mas, segundo um levantamento dos criadores da nova rede social, menos de 50% dessa capacidade é usada.
"O desconhecimento das atividades no Brasil ainda é grande. Não havia uma forma fácil de os pesquisadores dividirem as capacidades de seus centros com as pessoas que planejam os estudos", diz o médico Fábio Thiers, criador da plataforma, batizada de ViS.
A rede social "apresenta" esses dois lados da cadeia de pesquisa de novas drogas.
Ex-diretor do programa de pesquisa em testes clínicos estratégicos globais no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), Thiers vem reunindo dados sobre o tema há mais de dez anos.
O site está aberto para receber cadastros de instituições de todo o mundo. Após a verificação da veracidade do perfil, cada centro tem uma página com dados sobre suas capacidades técnicas.
Além das informações sobre mais de 400 mil centros, a plataforma agrega dados sobre a prevalência de doenças por região e outras especificidades, recolhidos por algoritmos criados pela ViS.
É a partir da venda de serviços especializados que dependam desse material que o grupo pretende lucrar.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
BUROCRACIA
Além da dificuldade de comunicação, especialistas ressaltam a burocracia e a demora na liberação dos testes clínicos no Brasil como entraves à realização dos estudos.
As pesquisas precisam ser aprovadas nos CEPs (Comitês Ética em Pesquisa), na Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) e na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Levantamento feito pela Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa) indica que, de junho de 2012 a julho de 2013, o país perdeu 21 desses estudos devido à demora no processo. Estima-se que 43 serão perdidos até o fim deste ano.
Coordenador da Conep há pouco mais de um mês, Jorge Venâncio reconhece que há problemas, mas diz que está empenhado em corrigi-los, com um aumento no número de revisores de pedidos e melhoria no sistema de tecnologia. "O objetivo é zerar a fila de pedidos até o fim do ano."
Para Antonio Britto, presidente da Interfarma, a iniciativa da Conep é bem-vinda, mas não será suficiente.
"O Brasil é o único país em que é preciso ter a liberação de três autoridades [Anvisa, Conep e CEP]. Nunca houve tanto interesse em fazer pesquisas clínica no Brasil. Mas estamos começando a desperdiçar oportunidades."
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