quarta-feira, 17 de julho de 2013

NSA, Sivam, Dilma e Obama - Julia Sweig

folha de são paulo
No ano passado, o Departamento de Defesa dos EUA destinou US$ 100 milhões --de um orçamento de US$ 682 bilhões-- à ciberdefesa. Mas o Pentágono gastou meros US$ 8,9 milhões, menos que o valor que alguns dos membros do grupo de 1% mais ricos gastam com suas casas de praia.
Recentemente, o ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, observou que os recursos para a ciberdefesa do Brasil chegam a US$ 40 milhões de um orçamento de defesa de US$ 33 bilhões --uma alocação proporcionalmente muito maior que a do Pentágono.
Você pode fazer as contas, mas, a julgar pelos números, podemos concluir que, embora seja vulnerável a ciberataques, o Brasil não perde muito para os EUA em termos de preparar sua ciberdefesa.
É claro que as grandes assimetrias estão na área da cibersegurança e da vigilância, onde, como sugerem as revelações recentes sobre a NSA, os EUA, em parceria com empresas privadas de telefonia, estão à frente não apenas do Brasil mas, bem, de todo o sistema solar.
Para crédito das autoridades seniores do Brasil e dos EUA e da seriedade com que elas tratam o relacionamento entre nossos dois países, as revelações feitas por Snowden não criaram uma crise diplomática. Mas abriram uma oportunidade.
Faltam agora três meses para a visita que a presidente Dilma fará a Washington. Nos últimos anos, os grandes temas inacabados na agenda bilateral têm sido o comércio e o Conselho de Segurança. Não a defesa.
Um acordo de cooperação em defesa assinado em 2010, embora a tensão em torno do Irã pudesse tê-lo frustrado, gerou algumas oportunidades de longo prazo lucrativas para firmas de defesa brasileiras e americanas ingressarem nos mercados umas das outras. Os avanços feitos neste espaço são notáveis, embora possam ser incômodos para alguns, dada a história de desconfiança mútua em questões de segurança.
Agora a arena da cibersegurança e da governança da internet --soberana e global-- também possui o potencial de criar conversas presidenciais muito interessantes sobre as tensões que esses dois líderes enfrentam entre privacidade, direitos humanos, liberdades civis e segurança e sobre as diferenças e potenciais sinergias em nossas culturas de inovação e política industrial.
O tópico também abre uma porta sobre as personalidades globais dos dois países em relação aos méritos e deméritos das instituições multilaterais para reger a internet.
Finalmente, existem lições a serem aprendidas relativas à América do Sul e à segurança regional? A experiência do Brasil com o Sivam é não apenas um exemplo de extensa cooperação e partilha de tecnologia entre Brasil e EUA--por meio da gigante Raytheon--, mas também uma instância em que o Brasil parece ter evitado provocar seus vizinhos com um sistema de vigilância cujo impacto potencial não se limita necessariamente às fronteiras brasileiras.
Embora os paralelos sejam imperfeitos, pode ser instrutivo para os presidentes das duas maiores democracias das Américas recordarem a experiência positiva do Sivam quando tiverem a inevitável discussão sobre as revelações a respeito da NSA.
Divulgação
Julia Sweig é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, centro de estudos da política internacional dos EUA. Escreve às quartas-feiras, a cada duas semanas na versão impressa do caderno de 'Mundo'.

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