Estado de Minas - 15/08/2013
O Enem de outubro vai examinar milhões de
jovens: suas redações valem um quinto da nota. Cada uma passará pelo
crivo de dois professores, dos 7 mil contratados: sete mil! E muito de
desejar que a meninada capriche nos textos, sem gracinhas do tipo
receita de miojo e hino do Palmeiras, que não têm graça nenhuma.
Esse
belo nariz de cera suscita o tema “escrever bem”. Que é escrever bem? É
compor um texto de 300, 500, 900 palavras sem erros de português,
articulado, inteligível, respeitando a norma culta? Sim e não. Todo
santo dia temos na mídia textos assim, geralmente insuportáveis. Isso
porque o escriba faz tudo direitinho, mas lhe falta um negócio chamado
talento. Pode até ser lido e citado por diversas pessoas, que não têm
condições de distinguir o certo do excelente, do fantástico. Aí é que
está: o escriba pode ser corretíssimo sem genialidade, como pode ser
talentosíssimo sem a correção exigida pela norma culta.
Hippolyte
Taine (1828-1893), em sua Filosofia da Arte, avisa aos discípulos: “Em
matéria de preceitos, não existem mais que dois; o primeiro é que se
deve nascer com gênio, e isto é assunto dos vossos pais, não meu; o
segundo aconselha a trabalhar muito ‘a fim de dominar a arte’: é assunto
vosso e tampouco é meu”.
Antoine Albalat, sem recorrer à palavra
“gênio”, disse: “Pode-se ensinar a escrever a quem não sabe, desde que
tenha o necessário para saber”, isto é, aptidão natural que a vocação
denuncia. E Carmelo Bonet completa: “...ensina-se ‘a arte de escrever’ e
cada um chega até onde pode, pois há graduações no que concerne ao
domínio da expressão: desde a frase simplesmente correta da pessoa
culta, até o impacto verbal do estilista”. Resumindo: a pessoa culta
pode escrever bem, enquanto o estilista tem aquele algo mais que não
aprende na escola.
Paixões
Mães e pais de
adolescentes costumam acolher em suas casas colegas dos rapazes e das
moças. A partir daí, muita coisa pode acontecer e geralmente acontece,
com as implicações fáceis de imaginar.
Hoje vou tratar do caso de
dona Cláudia, bela quarentona que se apaixonou por um colega de seus
filhos e foi correspondida. Digamos que o rapaz se chamasse Doutor,
porque acabou formado em medicina, fez-se professor doutor e foi
geralmente considerado um dos melhores profissionais de sua
especialidade em todo o Brasil.
Conheci pessoalmente dona Cláudia
e o Doutor, ele uma geração à frente da minha, e acompanhei de longe as
vitórias e os percalços do relacionamento amoroso. Para início de
conversa, o marido de Cláudia, quando tomou conhecimento do love, chamou
o rapaz e disse: “Tudo bem, pode ficar com ela. Mas está avisado de
que, se algum dia abandonar minha mulher, eu te mato”.
Cláudia e o
Doutor se uniram numa boa, ele com 20 anos, universitário, ela com 40 e
poucos. Romance tórrido, até porque um rapaz de 20 tira de letra uma
quarentona. E tira boas notas na faculdade, obtém seu diploma, faz
sucesso na medicina e chega aos 36 com a gata sessentona.
Quando
na mesma faixa etária, vinte anos de casamento já são complicadíssimos,
ele com 45, ela com 40; ele com 50, ela com 45. Se ele tem 40 e ela 64,
ele famoso, ficando rico, dá para imaginar o imbróglio que se formou.
Enquanto isso, velho e forte, o ex-marido de Cláudia mantinha a
promessa: “Eu te mato”.
E assim dona Cláudia passou dos 70,
enfartou, chamaram ambulância do Pronto-Cor. Tabuleta em punho, o médico
perguntou: “Idade?”. A paciente respondeu: “Cinquenta”. E uma filha, ao
lado, protestou: “Ora, mamãe, cinquenta e quatro tenho eu”. Episódio
que me foi contado pela própria filha.
Finalmente, o ex-marido de
Cláudia bateu as botas e o famoso Doutor oficializou a separação. Já
tinha um caso com mulher mais moça que ele. Não sei se tiveram filhos.
Parece que sim, a julgar pelo que acabo de ver no Google.
O mundo é uma bola
15
de agosto de 778: Batalha de Roncesvales, em que Rolando é morto. Não
faço a mínima ideia de quem foi o Rolando de Roncesvales, mas me lembro
de ter visto na tevê um outro Rolando, salvo engano Boldrin.
Diz
a Wikipédia que Rolando, também referido como Roldão – Roland em
francês e alemão, Rolando ou Roldán em castelhano, Orlando em italiano,
Rottlà ou Rottlant em catalão – é um personagem da literatura medieval e
renascentista europeia inspirado num obscuro conde que viveu no século
VIII.
E assim aprendemos que o nosso Roldão Simas Filho, se
tivesse nascido em Barcelona seria Rottlà, mas nascendo em Munique seria
Roland e Orlando, se nascido em Roma. Nascendo em São Joaquim da Barra,
pequena cidade do interior de São Paulo, seria Rolando Boldrin, como
acabo de ver no Google.
Hoje é feriado religioso em dezenas de cidades brasileiras.
Ruminanças
“Tão
parecidos, Stalin e Hitler, tão gêmeos, tão construídos de ódio.
Ninguém mais Stalin do que Hitler, ninguém mais Hitler do que Stalin”
(Nelson Rodrigues, 1912-1980).
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