Rosana Hessel e Deco Bancillon e Francelle Marzano
Estado de Minas: 15/08/2013
Brasília – Com a
indústria estagnada e o varejo colocando o desaquecimento na prateleira,
com as vendas registrando de janeiro a junho a pior expansão num
semestre desde 2005, os investimentos públicos completam o quadro de
desaceleração da economia do país neste ano. Os aportes de recursos da
União previstos para este ano e que poderiam ajudar a alavancar a
economia continuam travados. De janeiro a julho, apenas 27,3% dos gastos
previstos no ano foram realizados. É o que revela a organização não
governamental (ONG) Contas Abertas.
Enquanto as fábricas cresceram 0,1% no semestre, as vendas do comércio registraram alta de 0,5% em junho com relação a maio e fecharam os seis primeiros meses do ano com expansão de 3%, a menor desde 2005. Sobre junho do ano passado, o desempenho no mês passado, de 1,7%, é o pior nesse tipo de comparação desde 2003, segundo informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apenas quatro dos oito setores pesquisados pelo instituto registraram alta nas vendas em junho, o que, para os economistas Adriano Lopes e Aurélio Biclaho, do Itaú Unibanco, mostra “que o crescimento do varejo não é generalizado”.
Para completar esse quadro, dos R$ 91,2 bilhões de investimentos orçados para este ano, apenas R$ 24,9 bilhões foram gastos, incluindo restos a pagar de obras iniciadas nos anos anteriores. Esse valor desconta dados como os do financiamento à pessoa física para o programa Minha casa, minha vida, que acabam inflando os números do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No caso da infraestrutura de transportes, os gastos mantiveram uma proporção de desembolso parecida com a média nacional apontada pela ONG. De acordo com dados do Ministério do Planejamento, dos R$ 15,1 bilhões de investimentos do PAC previstos para o Ministério dos Transportes, apenas R$ 4,6 bilhões foram pagos, ou seja, 30% do esperado.
“O volume de investimentos realizados pelo governo este ano é pífio em relação ao que se esperava. Além disso, é pior que o realizado no mesmo período de 2012, ano em que a economia do país teve um desempenho ruim e cresceu apenas 0,9%. A expectativa era que houvesse um destravamento nos investimentos do governo neste ano para ajudar a melhorar a atividade econômica, mas não é o que vem ocorrendo”, lamentou o presidente e fundador da entidade, Gil Castelo Branco, em entrevista ao Estado de Minas. Ele lembrou que os gastos de custeio continuam crescendo apesar dos cortes recentes no Orçamento. As despesas com encargos e pessoal, por exemplo, tiveram um ligeiro aumento no mesmo período, passando de R$ 123,9 bilhões para R$ 125 bilhões.
Como vem investindo pouco, principalmente em infraestrutura, o governo tenta a duras penas buscar apoio junto à iniciativa privada. Mas, passados exatos 12 meses do anúncio feito pela presidente Dilma Rousseff do programa de concessões em logística, nada saiu do papel, o que vem frustrando os investidores. Nenhum trecho dos 10 mil quilômetros de ferrovias e os 7,5 mil quilômetros de rodovias que demandariam mais R$ 130 bilhões em investimentos, por exemplo, foram leiloados até agora. O primeiro lote com os trechos mineiros das BRs 040 e 116 foi adiado duas vezes e colocado no fim da fila, que deve andar só a partir de setembro.
Impacto no PIB
Diante dos dados mais fracos, já há quem preveja um resultado igualmente decepcionante para o Produto Interno Bruto (PIB). No fim do mês o IBGE divulgará o desempenho da economia no segundo trimestre do ano. Devido a números irregulares apresentados pelo varejo e pela indústria, as projeções para o PIB do segundo trimestre estão desencontradas. O grosso das análises do mercado financeiro aponta para um crescimento de 1%, na comparação com os três primeiros meses do ano. Mas há quem preveja uma expansão bem mais tímida, de 0,5%, ou mais forte, de 1,4%. O balizador das projeções será o resultado que será divulgado hoje do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br).
Mesmo sem esses dados à disposição, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, aposta em desempenho mais modesto da economia no segundo trimestre. Na avaliação dele, a fraca recuperação do PIB se deve, entre outros fatores, ao menor resultado do varejo. “O governo optou por estimular o crédito para a compra de carros e itens da linha branca (geladeiras, tanquinhos etc.), e ambos são itens que consomem uma parte muito grande da renda das pessoas”, disse. “Como esses consumidores já estão muito endividados, sobra menos espaço no orçamento doméstico para que façam novas compras, e isso tende a jogar o desempenho do varejo para baixo, como temos visto”, ponderou.
Ritmo está mais fraco em Minas
A inflação é a maior vilã do fraco desempenho do comércio varejista neste ano. Se no país as vendas cresceram 0,5% de maio para junho, em Belo Horizonte houve retração de 1,85% de um mês para o outro e expansão de 0,22% em relação a junho do ano passado, o que mostra um comportamento mais fraco em relação ao país, segundo pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). Para a economista da entidade Iracy Pimenta, ainda que o Brasil tenha apresentado um pequeno crescimento, é cedo para dizer que as vendas voltaram a crescer. “A inflação tem proporcionado um impacto negativo no comércio. Com isso, a capacidade de compra fica comprometida, em função do encarecimento geral dos bens e serviços. As famílias estão reduzindo o consumo com medo do endividamento”, explica.
Ainda de acordo com Iracy, na base de comparação, junho e maio de 2013, nenhum segmento na capital mineira apresentou crescimento. “As manifestações tiveram um impacto grande nas vendas. Belo Horizonte foi um dos lugares de maior concentração desses manifestos e, por isso, a maioria dos comerciantes fecharam as portas e os consumidores também deixaram de comprar”, completou.
No seguimento de supermercados, a pesquisa do IBGE apresenta queda nas vendas de 0,4% em junho comparado a maio. Em Belo Horizonte, a Associação Mineira de Supermercado (Amis) apresenta pesquisa com cenário ainda pior, com queda de 2,41% se comparado o mesmo período. O superintendente da Amis, Adilson Rodrigues, explica que a queda não pode ser atribuída à alta da inflação, já que o consumidor tem o hábito de substituir o produto mais caro por um mais barato.
O economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG) Juan Moreno de Deus acredita que as vendas estão recuperando o fôlego. De acordo com ele, o segundo semestre tende a ser melhor que o primeiro pelo apelo das datas comemorativas. “O fim do ano geralmente é melhor para o setor por conta do Dia das Crianças e Natal, que sempre impulsionam as vendas”, comenta.
Incertezas no 2º semestre
Apesar de o mercado esperar uma melhora nos dados do indicador antecedente para o Produto Interno Bruto (PIB) do Banco Central para junho, que será divulgado hoje, as previsões para o segundo semestre demonstram preocupação e sinalizam baixo crescimento. Em maio, o IBC-Br caiu 1,4% e a expectativa dos economistas é que ele volte a crescer em junho em relação ao mês anterior.
O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, por exemplo, estima que o IBC-Br de junho subirá 0,7% em relação ao mês anterior. Ele prevê que o indicador do BC registre uma elevação de 0,8% no acumulado de abril a junho. Em relação ao PIB do segundo trimestre, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que deverá ser divulgado no fim do mês, Leal espera que a alta seja de 1%. “Para o ano, nossa projeção é de alta de 2,3% no PIB, mas ela não foi revisada ainda. O importante será verificar se o mau humor apresentado pelos índices de confiança de julho será revertido. De qualquer maneira, deveremos ter um segundo semestre mais fraco que o primeiro”, afirmou. “A tendência é que cenário piore no segundo semestre, mas ainda é cedo para cravar isso. Alguns indicadores mostram que a confiança do empresário e do consumidor pioraram e estão próximos aos níveis de 2009, que foi o ano da crise. Isso preocupa, mas pode ser um ponto fora da curva por conta das manifestações”, completou.
O economista-chefe do BES Investimento do Brasil, Jankiel Santos, prevê alta de 1,1% no IBC-Br de junho. Ele estima que o indicador do BC para o segundo trimestre deverá subir 1%. Em relação ao PIB divulgado pelo IBGE, Santos aposta em alta de 0,8% no trimestre e de 2,3% no ano. No entanto, ele demonstra preocupação em relação ao futuro. “A sinalização é preocupante diante da queda de confiança, mas ainda não dá para prever uma queda na atividade econômica porque os dados não foram divulgados”, afirmou. “O agravamento da desaceleração econômica chinesa e a piora no mercado de trabalho doméstico são os principais fatores de risco para o segundo semestre”, completou.
OTIMISMO Os economistas do banco Itaú são os mais otimistas. Eles preveem alta de 1,4% no IBC-br de junho em função do forte crescimento da produção industrial e das vendas no varejo, que subiram 1,9% e 1,8% no sexto mês do ano. O estudo do banco prevê que o indicador vai se expandir 1% no segundo trimestre, em linha com a previsão de PIB do Itaú. A instituição, no entanto, também prevê uma desaceleração da atividade econômica no segundo semestre. A previsão do banco é que o PIB não registre crescimento no terceiro trimestre e, no ano, a alta prevista é de 2,1%. (RH)
Enquanto as fábricas cresceram 0,1% no semestre, as vendas do comércio registraram alta de 0,5% em junho com relação a maio e fecharam os seis primeiros meses do ano com expansão de 3%, a menor desde 2005. Sobre junho do ano passado, o desempenho no mês passado, de 1,7%, é o pior nesse tipo de comparação desde 2003, segundo informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apenas quatro dos oito setores pesquisados pelo instituto registraram alta nas vendas em junho, o que, para os economistas Adriano Lopes e Aurélio Biclaho, do Itaú Unibanco, mostra “que o crescimento do varejo não é generalizado”.
Para completar esse quadro, dos R$ 91,2 bilhões de investimentos orçados para este ano, apenas R$ 24,9 bilhões foram gastos, incluindo restos a pagar de obras iniciadas nos anos anteriores. Esse valor desconta dados como os do financiamento à pessoa física para o programa Minha casa, minha vida, que acabam inflando os números do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No caso da infraestrutura de transportes, os gastos mantiveram uma proporção de desembolso parecida com a média nacional apontada pela ONG. De acordo com dados do Ministério do Planejamento, dos R$ 15,1 bilhões de investimentos do PAC previstos para o Ministério dos Transportes, apenas R$ 4,6 bilhões foram pagos, ou seja, 30% do esperado.
“O volume de investimentos realizados pelo governo este ano é pífio em relação ao que se esperava. Além disso, é pior que o realizado no mesmo período de 2012, ano em que a economia do país teve um desempenho ruim e cresceu apenas 0,9%. A expectativa era que houvesse um destravamento nos investimentos do governo neste ano para ajudar a melhorar a atividade econômica, mas não é o que vem ocorrendo”, lamentou o presidente e fundador da entidade, Gil Castelo Branco, em entrevista ao Estado de Minas. Ele lembrou que os gastos de custeio continuam crescendo apesar dos cortes recentes no Orçamento. As despesas com encargos e pessoal, por exemplo, tiveram um ligeiro aumento no mesmo período, passando de R$ 123,9 bilhões para R$ 125 bilhões.
Como vem investindo pouco, principalmente em infraestrutura, o governo tenta a duras penas buscar apoio junto à iniciativa privada. Mas, passados exatos 12 meses do anúncio feito pela presidente Dilma Rousseff do programa de concessões em logística, nada saiu do papel, o que vem frustrando os investidores. Nenhum trecho dos 10 mil quilômetros de ferrovias e os 7,5 mil quilômetros de rodovias que demandariam mais R$ 130 bilhões em investimentos, por exemplo, foram leiloados até agora. O primeiro lote com os trechos mineiros das BRs 040 e 116 foi adiado duas vezes e colocado no fim da fila, que deve andar só a partir de setembro.
Impacto no PIB
Diante dos dados mais fracos, já há quem preveja um resultado igualmente decepcionante para o Produto Interno Bruto (PIB). No fim do mês o IBGE divulgará o desempenho da economia no segundo trimestre do ano. Devido a números irregulares apresentados pelo varejo e pela indústria, as projeções para o PIB do segundo trimestre estão desencontradas. O grosso das análises do mercado financeiro aponta para um crescimento de 1%, na comparação com os três primeiros meses do ano. Mas há quem preveja uma expansão bem mais tímida, de 0,5%, ou mais forte, de 1,4%. O balizador das projeções será o resultado que será divulgado hoje do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br).
Mesmo sem esses dados à disposição, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, aposta em desempenho mais modesto da economia no segundo trimestre. Na avaliação dele, a fraca recuperação do PIB se deve, entre outros fatores, ao menor resultado do varejo. “O governo optou por estimular o crédito para a compra de carros e itens da linha branca (geladeiras, tanquinhos etc.), e ambos são itens que consomem uma parte muito grande da renda das pessoas”, disse. “Como esses consumidores já estão muito endividados, sobra menos espaço no orçamento doméstico para que façam novas compras, e isso tende a jogar o desempenho do varejo para baixo, como temos visto”, ponderou.
Ritmo está mais fraco em Minas
A inflação é a maior vilã do fraco desempenho do comércio varejista neste ano. Se no país as vendas cresceram 0,5% de maio para junho, em Belo Horizonte houve retração de 1,85% de um mês para o outro e expansão de 0,22% em relação a junho do ano passado, o que mostra um comportamento mais fraco em relação ao país, segundo pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). Para a economista da entidade Iracy Pimenta, ainda que o Brasil tenha apresentado um pequeno crescimento, é cedo para dizer que as vendas voltaram a crescer. “A inflação tem proporcionado um impacto negativo no comércio. Com isso, a capacidade de compra fica comprometida, em função do encarecimento geral dos bens e serviços. As famílias estão reduzindo o consumo com medo do endividamento”, explica.
Ainda de acordo com Iracy, na base de comparação, junho e maio de 2013, nenhum segmento na capital mineira apresentou crescimento. “As manifestações tiveram um impacto grande nas vendas. Belo Horizonte foi um dos lugares de maior concentração desses manifestos e, por isso, a maioria dos comerciantes fecharam as portas e os consumidores também deixaram de comprar”, completou.
No seguimento de supermercados, a pesquisa do IBGE apresenta queda nas vendas de 0,4% em junho comparado a maio. Em Belo Horizonte, a Associação Mineira de Supermercado (Amis) apresenta pesquisa com cenário ainda pior, com queda de 2,41% se comparado o mesmo período. O superintendente da Amis, Adilson Rodrigues, explica que a queda não pode ser atribuída à alta da inflação, já que o consumidor tem o hábito de substituir o produto mais caro por um mais barato.
O economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG) Juan Moreno de Deus acredita que as vendas estão recuperando o fôlego. De acordo com ele, o segundo semestre tende a ser melhor que o primeiro pelo apelo das datas comemorativas. “O fim do ano geralmente é melhor para o setor por conta do Dia das Crianças e Natal, que sempre impulsionam as vendas”, comenta.
Incertezas no 2º semestre
Apesar de o mercado esperar uma melhora nos dados do indicador antecedente para o Produto Interno Bruto (PIB) do Banco Central para junho, que será divulgado hoje, as previsões para o segundo semestre demonstram preocupação e sinalizam baixo crescimento. Em maio, o IBC-Br caiu 1,4% e a expectativa dos economistas é que ele volte a crescer em junho em relação ao mês anterior.
O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, por exemplo, estima que o IBC-Br de junho subirá 0,7% em relação ao mês anterior. Ele prevê que o indicador do BC registre uma elevação de 0,8% no acumulado de abril a junho. Em relação ao PIB do segundo trimestre, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que deverá ser divulgado no fim do mês, Leal espera que a alta seja de 1%. “Para o ano, nossa projeção é de alta de 2,3% no PIB, mas ela não foi revisada ainda. O importante será verificar se o mau humor apresentado pelos índices de confiança de julho será revertido. De qualquer maneira, deveremos ter um segundo semestre mais fraco que o primeiro”, afirmou. “A tendência é que cenário piore no segundo semestre, mas ainda é cedo para cravar isso. Alguns indicadores mostram que a confiança do empresário e do consumidor pioraram e estão próximos aos níveis de 2009, que foi o ano da crise. Isso preocupa, mas pode ser um ponto fora da curva por conta das manifestações”, completou.
O economista-chefe do BES Investimento do Brasil, Jankiel Santos, prevê alta de 1,1% no IBC-Br de junho. Ele estima que o indicador do BC para o segundo trimestre deverá subir 1%. Em relação ao PIB divulgado pelo IBGE, Santos aposta em alta de 0,8% no trimestre e de 2,3% no ano. No entanto, ele demonstra preocupação em relação ao futuro. “A sinalização é preocupante diante da queda de confiança, mas ainda não dá para prever uma queda na atividade econômica porque os dados não foram divulgados”, afirmou. “O agravamento da desaceleração econômica chinesa e a piora no mercado de trabalho doméstico são os principais fatores de risco para o segundo semestre”, completou.
OTIMISMO Os economistas do banco Itaú são os mais otimistas. Eles preveem alta de 1,4% no IBC-br de junho em função do forte crescimento da produção industrial e das vendas no varejo, que subiram 1,9% e 1,8% no sexto mês do ano. O estudo do banco prevê que o indicador vai se expandir 1% no segundo trimestre, em linha com a previsão de PIB do Itaú. A instituição, no entanto, também prevê uma desaceleração da atividade econômica no segundo semestre. A previsão do banco é que o PIB não registre crescimento no terceiro trimestre e, no ano, a alta prevista é de 2,1%. (RH)
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